O filho pródigo – mesmo tendo negado o amor de seu pai e o trocado pelas riquezas efêmeras do mundo, ainda que tivesse pecado muito – pôde retornar ao abraço e aos beijos de seu pai, porque para o último não há pecado suficiente para aplacar a misericórdia, para minar o amor paternal. Ademais, Deus ama tanto o homem que deu o Seu Filho Único, a encarnação do Amor, para que nós fossemos redimidos. Se o pecado fosse suficiente, a desobediência, o pecado e a infidelidade do homem no Antigo Testamento teriam bastado para que a Sabedoria e o Amor Eterno não se encarnasse.
Encarnação de Cristo: sinal do Amor
Dessa forma, pode-se perceber que Amor do Pai não é dimensionável ou quantitativo, é abundantemente generoso. Para tentar exemplificar vou trazer o trecho do livro “O Amor da Sabedoria Eterna” de São Luís Maria de Montfort. O santo apresenta um diálogo entre a Sabedoria, o Espírito e o Pai antes de Cristo se fazer homem, ao decidir se Ele viria ou não ao mundo, e como isso aconteceria. O Pai questiona à Sabedoria como ela preferiria encarnar, pela Glória ou pelo Sofrimento.
Então a Sabedoria responde que pelo sofrimento, para que assim o homem pudesse compreender, ou pelo menos tentar entender, o tamanho do Amor do Pai pelos seus filhos, amor esse que suportou o cume de todas as dores físicas e humanamente possíveis. E Amor esse que ainda suporta todas as dores e sofrimentos. Cada pecado, cada blasfêmia, cada indiferença à vontade de Deus são como lanças no coração da Trindade, e ainda assim temos a possibilidade de beber da misericórdia. O Amor do Pai é constrangedor, pois com toda a humildade se rebaixa ao pó da nossa humanidade e nos eleva a estatura de filhos, mesmo quando desprezado.
O amor não justifica o pecado
Mas a realidade desse Amor não justifica o desprezo a Ele. O nosso pecado não é justificado pela misericórdia, ele é redimido por ela. O pecado, muito menos, fica possibilitado pela mentalidade de que “Deus me ama, Ele me perdoa”. Essa percepção fraca e egoísta é o equivalente a cravar a já citada lança no coração do Pai e ser indiferente a dor que ela causa, por acreditar que o mesmo aguenta a dor.
O Amor que Deus tem por nós supera o pecado, mas não o possibilita, justamente porque quando somos tocados por esse Amor Poderoso de Deus temos o desejo, de acima de todas as coisas, apenas agradar o coração de Deus e nunca mais ofendê-Lo. A questão é que somos imperfeitos, erraremos e cairemos mesmo não querendo, e assim, quando cairmos, seremos socorridos pelo Amor misericordioso do Pai, que nos pegará no colo e nos encherá de beijos.
Somos filhos escolhidos e amados pela confissão
Não caia no escrúpulo ou no erro de se afastar de Deus pelo seu pecado, é justo nessa hora que você mais precisa se agarrar a Ele, principalmente pela confissão. Quando nos confessamos, Jesus nos dá vestes novas, limpa-nos de toda a sujeira, de toda indignidade por termos comido com os porcos, coloca um anel em nosso dedo e nos abraça, tomando-nos para bem pertinho do Seu coração.
Imagine essa cena e você conseguirá dimensionar o Amor que o Pai, o Espírito e o Filho têm por você. Você é abundantemente amado e desejado, apesar dos seus pesares, mas não por eles.
Ana Clara Gonçalves
Engajada na Comunidade Católica Pantokrator