Antes de falarmos do remédio (os santos), precisamos falar da doença.
Quando ligamos a televisão aleatoriamente em algum noticiário, temos a impressão de que tudo está desmoronando: criminalidade aqui; crise financeira ali; epidemia mundial; agendas revolucionárias avançando; perda de vocações na Igreja… O sentimento automático que brota em todos os corações é bastante parecido: “ALGUÉM PRECISA FAZER ALGUMA COISA!”
Seria tão mais prático se a vida funcionasse como nos filmes ou séries: bastaria surgir uma grave crise e logo seríamos socorridos por um Superman (ou por um Chapolin Colorado!). Talvez seja esta a razão pela qual os heróis fazem tanto sucesso nas bilheterias: quereríamos ter o poder de melhorar as coisas, de melhorar o mundo.
E é justamente aqui que entra a grande notícia do Cristianismo: para vencer as crises do mundo atual não é necessário ter super força, visão raio-laser e nem um escudo colorido. Engana-se quem pensa que o problema é financeiro, bélico ou tecnológico; o problema é espiritual e só um tipo de pessoa pode resolver: os santos.
A SANTIDADE ARRASTA!
Lá no início do século XII, na França, havia um mosteiro pequeno e pobre. O local era conhecido como “Cister” e abrigava alguns poucos irmãos. Eles tinham um ideal de viver a Regra de São Bento de uma maneira radical, ou seja, queriam dispensar todo luxo e todas as distrações a fim de mergulharem em uma autêntica vida religiosa.
Mas as coisas não iam bem… Já não havia vocações suficientes. A localização do mosteiro era péssima (ficava próxima a um pântano, na floresta). As doações recebidas eram bastante escassas. Eles foram atingidos por doenças desconhecidas e alguns irmãos vieram a morrer. Começaram até a passar fome! O mosteiro de Cister estava definitivamente em crise.
Não apareceu nenhum super-herói para vencer aquela crise (eles nem existiam no século XII). Quem apareceu foi um jovem decidido a viver a santidade. Esse jovem resolveu que iria ser monge em Cister, o que chocou todo o seu vilarejo. Muitos foram até ele, na tentativa de retirar essa “ideia louca” da sua cabeça.
Porém, o jovem era decidido e bastante apaixonado por Deus. Ninguém conseguiu convencê-lo de desistir. Muito pelo contrário, foi ele quem convenceu diversos parentes e amigos sobre a beleza da vida espiritual. Conclusão: quando o jovem finalmente se apresentou na portaria do mosteiro de Cister, levava consigo outros trinta homens que queriam viver o mesmo. Este jovem era ninguém menos que São Bernardo de Claraval.
A chegada daqueles 30 novatos mudou tudo. A fama do jovem Bernardo se espalhou rapidamente e outros vieram para o mosteiro. Em pouco tempo, fundaram outro mosteiro. Depois, mais um. Décadas depois, quando morre São Bernardo, Cister já havia fundado quase duzentos mosteiros por toda a Europa!
Percebam que tudo começou com um santo!
O SÉCULO XXI TEM SEDE DE SANTOS
Um dia, perguntaram à Santa Madre Teresa de Calcutá sobre o que ela mudaria na Igreja, caso ela pudesse. (O que você responderia se estivesse no lugar dela? Talvez mudasse alguma regra ou demitisse alguns padres, certo?). A santa pensou por um momento e respondeu com decisão: “Eu mudaria eu mesma!”. Ela já havia entendido a força de irradiação de uma alma que se propõe a viver a santidade.
São Josemaría Escrivá, outro grande homem da nossa Igreja, escreveu: “Estas crises mundiais são crises de santos”. E de fato é assim: os momentos em que a Igreja católica mais cresceu foram aqueles em que mais surgiram os apaixonados por Deus!
Santa Teresa d’Ávila, certa vez, estava angustiada por estar trancada em um Carmelo enquanto o mundo estava em chamas. Era a época da Reforma Protestante e vários países estavam deixando de ser católicos. Ela queria estar lá fora, pregando e convertendo as almas. Mas aí ela percebe: se ela permanecer lá no Carmelo e se santificar junto com as suas monjas, esta santidade seria remédio para o mundo lá fora.
Poderíamos mencionar tantos outros exemplos e sempre chegaríamos à mesma conclusão: a grande resposta que podemos dar às crises do mundo moderno é a nossa adesão à vida de santidade.
SEJAMOS PROFETAS DO NOSSO TEMPO!
O Mestre já nos ensinou desde o início: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5, 14-16).
Se queremos realmente mudar o mundo, devemos começar aqui dentro – dentro do coração. Quando você se decide a viver verdadeiramente por Deus, ainda que não perceba, você cria ao seu redor uma força gravitacional que atingirá a todos. A vida de santidade nos impulsiona a agir como Cristo (e Ele, sim, mudou a história!).
Aliás, não se engane: às vezes você está sendo chamado a mudar “um mundo” um pouco menor, como a sua casa, o seu trabalho ou o seu círculo social. Os grandes mestres da vida espiritual ensinam que os santos nunca vão para o céu sozinhos, pois, assim como o jovem São Bernardo, sempre arrastam uma multidão imensa com eles. Talvez a nossa “multidão” deva ser constituída por aqueles que estão mais próximos.
Nas histórias em quadrinhos, os maiores heróis são aqueles que possuem grandes poderes e habilidades. Já na vida real, você não precisa ser o mais inteligente, o mais forte ou o mais bem equipado. O nosso maior “super poder” é ser habitados pelo Espírito Santo e amarmos os outros com o amor que vem do céu. É isso que realmente muda tudo!
Que a Virgem Santíssima, a Rainha de todos os santos, nos ensine a ser remédio para as crises mundiais!
Rafael Aguilar Libório
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator