“A Esperança não engana” Rm 5,5
Nesse ano de 2025, a Igreja celebra o jubileu de nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Papa Francisco, na bula de abertura do jubileu, colocou-nos sob o clamor da Esperança da Igreja, que diz “Vem, Senhor Jesus!” O Papa, já no nome da bula, traz a verdade proclamada por Paulo: “E a esperança não engana”[1]. Nós, Comunidade Pantokrator, unidos a toda a Igreja, viveremos esse ano sob esse lema firmado na solidez da esperança cristã.
Em que se firma nossa esperança? A sequência do versículo responde: “Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” A Esperança não engana nem decepciona porque está firmada no Amor invencível, Poderoso, de Deus. E mais, a sua solidez está na realidade de que, antes que eu esperasse no Amor, o Amor me esperou, Ele me espera e eternamente me alcança. Eu espero no Senhor que eternamente me espera.
Crescer na confiança
“Quem espera (é porque) confia”, diz o ditado popular. Na ordem da graça, é melhor dizer: quem confia (é porque) espera. A Esperança é Virtude Teologal, dada a nós na graça, que nos capacita a confiar. Nesse sentido, o tema da confiança, de 2024, aprofunda-se em 2025. Creio que em 2024 o Senhor arrancou de nossas mãos nossos controles. Em 2025, creio que Ele nos dará o Seu controle, Ele tomará o controle pela virtude da Esperança.
A Esperança é a “âncora, segura e firme”, que nos eleva deste mundo, firmando nossos corações e mentes no céu[2]. Por isso, quisemos trazer na imagem do ano a âncora, lançada ao fundo das águas, atracando um barco tomado de luz. Pela Esperança, somos ancorados em uma certeza e iluminados pela fé em meio às lutas e às trevas da vida. A Esperança é dom de Deus que eleva a alma para o além certo, diante de um futuro incerto. Por meio da Esperança, tomamos posse daquilo em que cremos, pois ela “dá-nos já, agora, algo da realidade esperada; e esta realidade presente constitui para nós uma ‘prova’ das coisas que ainda não se veem. Ela atrai o futuro para dentro do presente, de modo que aquele já não é o puro ‘ainda-não’. O fato de esse futuro existir muda o presente; o presente é tocado pela realidade futura e, assim, as coisas futuras derramam-se naquelas presentes e as presentes, nas futuras”[3].
Elevar a humanidade para o Céu
2025 será um ano de elevar os olhos para o Céu, viver o mundo habitando o Céu. Vejo aqui também um desenrolar do tema de 2024, em que nos voltamos para nossa humanidade, as coisas do mundo. Em 2024, elevamos nossa humanidade à de Cristo para, em 2025, habitar com Ele o Céu e elevar-nos à Sua santidade. A sequência do texto do tema (“Nós, porém, somos cidadãos dos céus”) continua: “É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso mísero corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de sujeitar a si toda criatura”[4]. A Esperança, enquanto dom e virtude, é potência de santidade, pois nela toda a humanidade se sujeita a Cristo; e por Sua misericórdia se eleva para o céu; nela, tudo é santificado, seguindo o texto, tudo é glorificado. Na Esperança, o coração humano se ancora nos tesouros do Céu, faz do Céu sua meta e coloca todas as realidades criadas e necessidades humanas em face dessa conquista do Céu.
A Esperança torna o coração humano pobre, pois, nela, e somente nela, os bens deste mundo se tornam relativos e são ordenados para o bem absoluto do Amor de Deus, único tesouro. Creio que nesse ano vocacional de 2025, sob a graça da Virtude Teologal, teremos um impulso renovado dessa santidade à qual o Senhor nos chama em nosso Carisma, a Santidade Comum. Por essa Santidade Comum, o Senhor nos chama a santificar todas as coisas sob o sacrifício da fidelidade e, nela, então, recapitular o mundo.
Um ano esponsal
A Igreja que espera o Senhor que já está presente é a virgem prudente[5], que espera o noivo com a lâmpada cheia de azeite. Podemos ver no azeite a virtude da Esperança. Pela Esperança, nós nos tornamos virgens, purificadas das imprudências do mundo, sempre prontas para as demoras do Esposo. Pela Esperança, nosso coração se enche de prontidão esponsal, que é fidelidade incondicional ao Esposo que ama com Amor Devorador. Sinto que esse ano será um ano esponsal que firma matrimônios, mas, especialmente, desperta vocações esponsais elevadas para a eternidade, o celibato.
Levar a Esperança ao mundo
Para um coração cheio de Esperança teologal, “torna-se evidente que o homem necessita de uma esperança que vá mais além. Vê-se que só algo de infinito lhe pode bastar, algo que será sempre mais do que aquilo que ele alguma vez possa alcançar”[6]. Esse infinito é o Amor Poderoso de um Deus que nos amou “até o fim”, “até a plena consumação”[7] e é o único capaz de trazer plenitude em meio às esperanças da vida. O coração cristão, se realmente é movido por essa Esperança, deparando-se com o mundo em desespero, é tomado por uma necessidade de levar a verdadeira esperança ao mundo. Quem firma sua esperança no Céu não simplesmente o aguarda, mas o torna presente pela fé e pela caridade do serviço e da evangelização.
Retomar a Esperança no ano formativo lança-nos no coração do Carisma, pois “a nossa espiritualidade visa à fé, à caridade e a essa esperança da vida do Reino, da vida do Céu. A vivência autêntica do Carisma nos faz prefigurar, ainda que de modo imperfeito, as graças do Céu. Nossa vida não é uma espera parada pela eternidade, mas, movidos por um profundo amor pelas coisas do Pai e pela esperança de um dia vivê-las em plenitude, o Espírito nos movimenta a edificar e viver hoje as ‘coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (1Cor 2,9)’”[8].
André Luís Botelho de Andrade
24 de novembro de 2024
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo
Referências
[1] Rm 5,5.
[2] Cf. Hb 6,19.
[3] BENTO XVI, Encíclica Spe salvi, 07.
[4] Fl 3,20 -21.
[5] Cf. Mt 25,1-13.
[6] Spe salvi, 30.
[7] Cf. Jo 13,1; 19,30.
[8] RVESP, 18.