Para muitas pessoas, a morte é o assunto mais assustador de se falar pois trata-se de um grande mistério. Desde sempre, a humanidade faz conjecturas a respeito daquilo que acontecerá após a morte. Para algumas pessoas, não existe nada depois desta vida e tudo se acabará quando fecharmos os olhos, confesso que tenho muita dificuldade de acreditar nesta versão pois Deus criou o homem e um mundo tão perfeito que seria um desperdício se isto tudo se acabasse sem mais nem menos.
Para nós, cristãos, a morte é uma passagem desta realidade terrena para a realidade celeste, eterna. Isto nos foi garantido por Jesus, que passou pela morte e ressuscitou, e nos prometeu preparar um lugar no paraíso “Na casa de meu pai há muitas moradas…Pois vou preparar-vos um lugar” Jo 14,2. Não sabemos quando acontecerá, mas é certo que passaremos por este processo. Pensar no dia da morte não deveria ser algo macabro (apesar deste tema ser associado a filmes de terror, por exemplo) mas devemos pensar que este será o dia mais feliz de nossas vidas, pois é através desta experiência, também vivida por Cristo, que nos encontraremos com o verdadeiro sentido de tudo: viver a felicidade do céu que Deus nos preparou.
Por que as pessoas têm tanto medo da morte?
O mundo moderno cultua em demasia as sensações e prazeres carnais e esquece-se de que há uma realidade espiritual que nos rodeia. O mundo está cada vez mais vazio das verdades eternas e mais cheio daquilo que é passageiro. Tudo que é deste mundo possui um prazo de validade, os bens materiais, a estética, a saúde e por fim a nossa vida. É urgente que vivamos e meditemos nas coisas do céu e no mundo espiritual que não vemos mas que existem. São Paulo nos diz: “Não é contra homens de carne que lutamos, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal…” (Ef 6, 12).
Esse apego pelas coisas materiais, pelas pessoas e por tudo que é passageiro faz com que a perda de alguém querido seja vivida num luto de desesperança de quem perdeu pra sempre. Em nós deve haver algo que nos conforta: aquela pessoa querida que se foi agora contempla a face de Deus e nós nos voltaremos a nos encontrar com ela nessa vida nova onde Cristo “Enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou” Ap 21,4.
Uma experiência
Meu caro amigo(a) leitor(a), vou contar-lhe uma lembrança de infância: quando eu tinha cerca de 6 anos, pela primeira vez, tive consciência da finitude da vida e que meus pais iriam morrer. Comecei a chorar ao saber que um dia meus pais não estariam mais aqui. Então, meu pai me perguntou: “Por que está chorando?”, e eu respondi: “Porque você vai morrer!”. Ele retrucou: “Não precisa ficar assim, um dia isso vai acontecer, mas temos muitas coisas para viver juntos ainda.” Claro que meu pai quis me consolar, dizendo que teríamos muito tempo, mas ele não tinha controle sobre isso, e de fato não é simplesmente uma frase de efeito; nós somos extremamente frágeis, e a morte pode ser uma realidade para nós ou para alguém próximo a qualquer momento.
É preciso pensar e refletir que nós não fomos criados para este mundo, apesar de vivermos nele. Existe um céu que nos espera, e se soubéssemos dos bens e da glória que estão reservados para nós, é certo que iríamos querer morrer neste instante para experimentar tudo isso. “…Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Cor 2, 9).
A morte na vida dos santos
A vida dos santos é muito inspiradora para nós católicos devemos tomar como exemplo tudo que eles viveram e também como passaram pela morte. Vejamos através das citações o que eles pensavam sobre a morte.
São José Luis Sanches del Rio escreveu uma carta para sua mãe às vésperas do seu martírio: “Creio que nos momentos atuais vou morrer, mas não importa, mãe. Resigne-se à vontade de Deus; eu morro muito feliz porque no fim de tudo isso, morro ao lado de Nosso Senhor. Não se aflija pela minha morte, que é o que me mortifica.”
Santa Terezinha do Menino Jesus: “Não morro, entro na vida… Vossa irmãzinha vos diz:Até breve… no céu.”
Santa Teresa D’Ávila: “Só vivo pela confiança de que um dia hei de morrer; morrendo, o eterno viver tem por seguro a esperança. Ó morte que a vida alcança, não tardes em me atender, que morro de não morrer.”
Neste três exemplos é nítido que a morte para estes nossos irmãos foi vivida com desejo pois estavam muito certos daquilo que os esperavam na outra vida, das glórias que iriam contemplar, devemos ressignificar todas as coisas vivendo nossas vidas segundo a vontade de Deus com os olhos fixos no céu. É preciso sonhar com o céu a todo instante!
Devo temer a morte?
Devemos estar preparados e vigilantes para nosso julgamento e a segunda vinda de Cristo, isto inclui uma vida de busca constante pela santidade, na vivência da oração, dos sacramentos, da vida em comunidade, das práticas das virtudes e principalmente no exercício do amor. Quem tem a Deus como meta não teme o dia da morte pois coloca toda a esperança no céu que nos foi prometido pelo Senhor.
Se você tem alguém muito próximo que já se foi, reze pela alma dessa pessoa, ofereça em cada missa a intenção de sua alma e faça sacrifícios para que, se estiver no purgatório, seja elevada à glória eterna, confie e lute a cada dia para que todos juntos possamos viver a alegria que nunca acaba lá onde juntos cantaremos e onde não haverá mais lágrimas, tristeza, choro ou dor.
Vamos juntos rumo ao céu!
Raul Cid
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator