A CONFISSÃO DE SÃO PEDRO

O Evangelho meditado pela Igreja neste domingo (Mt 16, 13-20) é um dos mais profundos e importantes de todo o Novo Testamento. A resposta inspirada que Pedro dá a Jesus tem muito a nos ensinar. 

Apenas recapitulando: Jesus chega com os seus discípulos a um lugar afastado, fora da terra de Israel. Cesareia era uma região de povos pagãos e é provável que os apóstolos estivessem se perguntando sobre o que o Senhor pretendia naquele lugar. 

O Mestre, que é geralmente quem fala e responde às perguntas, dessa vez inverteu a situação: foi Jesus quem perguntou e eram os discípulos quem precisavam responder. A pergunta é conhecidíssima: “Quem dizem as pessoas ser o Filho do Homem?”. Não pense que Jesus estava demonstrando preocupação com a sua autoimagem ou com o grau de sua popularidade. Deus não liga para essas coisas.

A pretensão de Jesus era bem outra, isto é, queria saber o que os apóstolos já haviam escutado sobre Ele. De fato, as respostas variadas demonstram que o Mestre era bem falado, mas não necessariamente bem conhecido: “Uns dizem que é João Batista; outros dizem que é Elias; outros, Jeremias ou algum dos profetas”.

Mas é nesse momento que vem a pergunta principal de Jesus: “E vós? Quem dizeis que eu sou?”. O fim da história todos já conhecem: São Pedro toma à frente e diz com todas as letras que Jesus é o Cristo esperado pelo povo. Mais do que isso: o chama claramente de Filho de Deus! Não à toa, Pedro foi o escolhido por Cristo para ser fundamento da Igreja.

O QUE O MUNDO MODERNO SABE SOBRE CRISTO?

Não pense que o mundo moderno melhorou muito sobre o conhecimento de Jesus. Mesmo com os meios tecnológicos, internet rápida e inteligência artificial, o Mestre continua sendo objeto de equívocos. Os filósofos, celebridades e influencers de modo geral falam muito sobre Jesus – mas poucas vezes acertam como Pedro.

“Jesus foi um sábio, como Sócrates ou Aristóteles”. “Jesus foi um revolucionário que queria destruir a autoridade do Império Romano”. “Jesus foi uma espécie de hippie, que não apontava os erros de ninguém”… Eu já ouvi dezenas de definições diferentes e acredito que você também. Todos têm uma opinião sobre Jesus, ainda que nunca tenham aberto uma Bíblia ou frequentado uma catequese.

O mais interessante, porém, é que Jesus não está se importando muito com a opinião pública ou com o número de “curtidas” que recebe. Assim como ocorreu há dois mil anos, a resposta que interessa a Ele é apenas aquela dos seus amigos mais próximos. Ele te pergunta hoje como perguntou a Pedro: “E você? O que você pensa sobre mim?”.

A Igreja nos ensina que o verdadeiro conhecimento de Deus se dá através da fé. E quando eu me refiro à fé, não pense que eu estou falando sobre um sentimento vago de mera “confiança”, como a “fé” que se coloca na vitória do seu time ou no sorteio da loteria. Eu digo mesmo sobre a virtude teologal da fé, ou seja, a capacidade de crer firmemente nas coisas que Deus revelou através da sua Igreja.

Em outras palavras, eu só poderei responder “quem é Jesus” se eu o conhecer. E eu só posso conhecê-lo verdadeiramente se eu aderir às verdades pregadas pela Santa Igreja Católica. É impossível conhecer o coração de Jesus por outro caminho. O próprio São Pedro não cedeu sua resposta baseada em um palpite ou algo assim. Cristo confirma isso ao dizer: “Não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus” (cf. versículo 17).

QUAL A IMPORTÂNCIA DE CRER QUE CRISTO É DEUS?

Há uma diferença enorme entre reconhecer Jesus como um simples “homem sábio” e o reconhecer como o grande Filho de Deus. O mundo parece não se dar conta da importância dessa distinção. O “homem sábio” é admirado, ao passo que o Homem-Deus é adorado. As opiniões do sábio são conselhos que podem ou não ser seguidos. Já as vontades do Homem-Deus são mandamentos que devem ser obedecidos.

Existiam muitos sábios no tempo de Jesus. Era comum que os judeus enviassem seus filhos para aprenderem com os famosos “rabis”. É possível que, no início, muitos dos seguidores de Jesus o estivessem ouvindo por considerá-lo um rabi como os outros. Mas a confissão de Pedro foi muito além disso: ao responder à pergunta de Cristo, ele não diz apenas: “Tu és um grande rabi” ou “um mestre excelente”. Pedro o chama de Deus!

Quantas vezes passamos por esse Evangelho sem notar a grandiosidade desta resposta! Quando dizemos para Jesus “Tu és o Filho de Deus”, significa dizer que ele é o Senhor das nossas vidas, o princípio e o fim de tudo. Reconhecer a divindade de Jesus é o mesmo que dizer, com todas as letras, que Ele é o centro da nossa existência e o verdadeiro dono dos nossos corações.

E se Jesus insiste em repetir a sua pergunta a nós hoje, não é porque Ele quer preencher uma estatística ou uma enquete qualquer, mas porque Ele deseja nos dar a oportunidade de confessar a fé como Pedro confessou. Que possamos encher o peito e dizer com fé aquela profissão linda de Tomé em João 20,28: “Meu Senhor e meu Deus!”.

Que a Virgem Santíssima, a primeira a reconhecer a divindade do Cristo, nos ensine a ser coerentes com a confissão de fé que hoje fazemos junto com a Igreja.

 

Rafael Aguilar Libório
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator

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