São Tomé: Eu preciso ver para crer?

São Tomé

São Tomé é um dos santos mais injustiçados da história. Se eu sair perguntando por aí quem foi São Tomé, é muito provável que ouvirei como resposta: “É aquele apóstolo sem fé, que não acreditou na ressurreição de Jesus”.

Mas o homem foi muito mais que isso. Os historiadores concordam que São Tomé foi o responsável pela conversão de muitos povos, especialmente dos longínquos. Quando os cristãos europeus chegaram na Índia para pregar a Palavra, já encontraram implantada a cruz de Cristo há vários séculos – graças ao bom e velho Tomé.

Não foi só a Índia. O apóstolo levou o Evangelho para a Etiópia, para a Pérsia e até para a China. Aliás, poucas pessoas sabem, mas há indícios notáveis de que São Tomé possa ter estado na América (inclusive no Brasil), muitos e muitos séculos antes que Cristóvão Colombo ou Pedro Álvares Cabral. 

E apesar deste ânimo insaciável e deste amor indescritível pelo Cristo, o pobre continua com a fama de “incrédulo”. Pouco se fala que ele foi o primeiro apóstolo a aceitar ir para Jerusalém com o Senhor para morrer com Ele (conforme Jo 11,16).

E SE FÔSSEMOS NÓS NO LUGAR DE TOMÉ?

 

Já ouvi muitas pessoas recriminando Tomé pelo seu gesto de incredulidade, ou mesmo recriminando Adão pela sua desobediência. De fato, eles falharam mesmo. Mas a pergunta que deveríamos nos fazer com toda honestidade é: “Eu faria diferente?”. Ou, uma pergunta melhor ainda: “Eu tenho feito diferente?”.

O erro de São Tomé naquele fatídico dia foi dar mais importância aos seus sentidos do que à Palavra de Jesus. É como se, por alguns instantes, a experiência daquele momento (a lembrança trágica da crucificação) tivesse mais autoridade que as promessas do Mestre. 

Tomé se esqueceu de que o Senhor havia anunciado (por mais de uma vez) que iria morrer terrivelmente, mas que voltaria. Preferiu confiar nos seus próprios olhos: “Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos e não puser o meu dedo no lugar dos pregos e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei!” (Jo 20,25).

Atire a primeira pedra quem não vive caindo no mesmo erro… talvez todos os dias. Quando as coisas nos aborrecem, nos esquecemos do encorajamento do Mestre e, sucumbindo aos sentidos, desabamos na tristeza e na revolta. 

Quando tudo começa a dar errado ao mesmo tempo, parece que temos uma facilidade gigantesca de acionar o botão das reclamações, ao invés de crer que “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28). É muito mais fácil crer na ressurreição quando tudo está em paz e feliz, do que quando só respiramos o pesar e a depressão.

“FELIZES OS QUE CREEM SEM TER VISTO” (JO 20,29)

 

Santa Teresinha do Menino Jesus passou por um período muito difícil durante a sua santificação. Deus permitiu que ela atravessasse momentos de uma profunda tentação da fé, de modo que ela já não sentia muitas coisas durante a oração ou na prática das suas devoções.

Se fosse uma pessoa comum, seria esperado um esfriamento espiritual diante de uma fase tão difícil. Afinal, que terrível deve ser não “sentir” nada… Mas não foi assim com Santa Teresinha. Ela apenas cresceu mais e mais em santidade, pois havia descoberto o “segredo”. Ela se lembrava que, mesmo nos dias de nuvens escuras (ainda que não pudesse ver), sabia que ainda existia um Sol a brilhar.

Também deveria ser assim com todos nós. Durante uma situação difícil de desemprego, ou da doença grave de um familiar querido, ou ainda de perseguições injustas… “ainda há um sol a brilhar!”. É a Carta aos Hebreus quem nos lembra que: “a fé é uma certeza a respeito do que não se vê” (Hb 11,1). 

É muito comum que tenhamos grandes experiências emotivas no momento da conversão. Há pessoas que choram por dias, enquanto outros fazem verdadeiras “loucuras” de amor por Deus. Mas o sentimento passa, as emoções diminuem, as “loucuras” começam a ficar pesadas. Se a nossa fé estiver baseada só nisso, não daremos uma dúzia de passos antes de nos cansar.

São Tomé – o grande apóstolo São Tomé! – não ficou preso nas experiências sensíveis. Quando estava lá sofrendo na terra árida da Etiópia, ou entre os índios sul-americanos, já não possuía mais diante de si a figura imponente do Mestre. Mas agora já não precisava mais disso: sua fé no Cristo ressuscitado era viva e presente o tempo todo. 

Que nós também possamos fazer essa experiência: mesmo perante as dificuldades e tristezas deste exílio, crer que o Deus Poderoso está conosco e se alegra todas as vezes em que colocamos a fé acima dos nossos sentidos ou emoções passageiras.

 

Rafael Aguilar Libório

Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator

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