Promessa que se Cumpre Todos os Dias

promessa que se cumpre todos os dias

Pouco antes de me casar, eu fiz um retiro pessoal, em que fui me recordando de todas as promessas e profecias que foram ditas para a minha vida, identidade e história. E comecei a perceber que, diante de tantas promessas, eu esperava as condições perfeitas para a realização e cumprimento das mesmas. Isso ficou mais evidente depois que eu casei: muito se fala sobre o casamento, muito se prepara, muito se espera, e eu tinha certeza de que viveria um grande novo na minha vida. 

A promessa se cumpre no real, não no ideal

De fato, eu tenho vivido, mas um novo bem real. Não é como se as minhas expectativas fossem frustradas, porque casar é extraordinário, mas nessa situação pude perceber de maneira muito concreta e encarnada que o cumprimento desta lindíssima promessa na minha vida, qual seja, a vocação matrimonial, não ensejava uma Ana Clara perfeita, mas uma Ana Clara extraordinariamente conformada à vontade do Senhor no ordinário.

Isto é, estou entendendo que o cumprimento da grande promessa de santidade a que sou chamada a viver, de modo particular no meu casamento, não exige as circunstâncias ideais, exige a minha adesão e a esperança de que a promessa está se cumprindo. A promessa se realiza no amor ao meu marido, na roupa que eu lavo, em vencer as adversidades com louvor, na organização da minha rotina, em não ceder à preguiça de lavar banheiro: eis o tempo do cumprimento da promessa! O grande se realiza no pequeno!

Foi quando passei a olhar para Cristo que o meu coração descansou: o cumprimento da promessa se realizou através de um pequeno bebê nascido em uma manjedoura. Se Cristo, o mais perfeito e amável, a promessa do Pai encarnada, se submeteu por amor ao Pequeno, quem sou eu para não fazê-lo? Se o meu Jesus suportou cumprir a promessa no alto de uma cruz, quase nu e sem nenhuma glória aparente humana, quem sou eu para não a desejar?

O cumprimento da promessa  e conformidade a vontade de Deus

Assim, meus irmãos, a promessa pronunciada sobre a sua vida se cumpre e acontece à medida que nossa identidade se conforma à vontade de Deus. Não como algo abstrato, mas no concreto da vida cotidiana: decisões, quedas, recomeços, fidelidade.

Na Escritura, vemos isso com clareza. Abrão se torna Abraão porque Deus o chama a ser pai de uma multidão, mas isso só acontece depois de anos de espera, dúvidas e até erros. Simão vira Pedro, mas ele ainda vacila, nega, precisa ser perdoado. Saulo se torna Paulo, mas não perde o espinho na carne, nem as perseguições. O nome novo é sinal do cumprimento da promessa que se atualiza todos os dias, até a morte, porque é sinal de um processo de transformação, exigente, doloroso, real.

Deus não muda nomes para impressionar. Ele muda nomes porque muda histórias. Mas essa mudança não acontece de uma vez, nem sem a resposta do homem. A promessa de Deus pede adesão, fidelidade concreta, mesmo quando os sentimentos não acompanham. Ser santo não é sentir-se santo, nem viver experiências espirituais extraordinárias. É obedecer hoje, nas circunstâncias de hoje. O céu não é só o destino final: começa quando aceitamos ser moldados aqui, agora.

O erro comum é esperar por um grande sinal ou por um momento “ideal” para começar a viver com Deus. Mas a santidade começa com um passo simples: fazer a vontade de Deus no que está diante de nós. A nossa verdadeira identidade está escondida n’Ele, e só se revela na medida em que deixamos que Ele conduza. Isso exige renúncia, paciência e humildade. A vida não precisa estar resolvida para sermos fiéis. Ela só precisa estar entregue.

Esperança: o que sustenta a fidelidade no processo

E é aqui que entra a esperança. Não a esperança como otimismo vazio, mas como virtude teologal, dom de Deus que nos sustenta. A esperança é o motor que nos faz continuar mesmo quando nada parece mudar. Foi a esperança que sustentou Abraão por vinte e cinco anos antes do nascimento de Isaac. Foi a esperança que fez Pedro levantar-se depois da queda. Foi a esperança que deu a Paulo força para suportar prisões, naufrágios, rejeições e continuar a pregar.

A esperança alimenta a fidelidade porque ela mantém nossos olhos fixos na promessa, mesmo quando tudo parece contrário. Ela nos lembra que Deus não esquece, que o tempo d’Ele não é o nosso, e que o processo vale a pena. A esperança não anula a dor, mas dá sentido a ela. Não tira o esforço, mas nos faz ver que ele não é em vão. E isso é essencial, porque o cumprimento da promessa passa quase sempre por desertos, silêncios, cruzes.

Assim, a promessa se cumpre. Não com espetáculo, mas com fidelidade. Não com garantias, mas com esperança. Deus nos dá uma nova identidade à medida que a antiga morre — e nos faz entender, na prática, que a santidade é possível, que o céu é para hoje, e que viver a vontade de Deus é o caminho mais firme, ainda que custe. E porque a esperança não decepciona (Romanos 5,5), podemos seguir adiante certos de que Aquele que começou a boa obra há de levá-la à perfeição.

Ana Clara Cardoso
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator

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