Ter filhos ou Ter filhos ou ter uma carreira?

carreira

Creio que o drama deste tema esteja exatamente no “ou” colocado entre os filhos e a carreira. Essa conjunção traz um nível de igualdade na comparação, o que nesse caso não cabe, pois a questão dos filhos entra em outra dimensão, a eterna, à missão confiada àquelas famílias que podem tê-los – aqui não se trata de escolha, mas de possibilidade efetiva –, e a carreira entra na dimensão temporal, de sustento da vida material, da dignidade da sobrevivência. Claro que o trabalho possui também a questão transcendente, mas não comparável à alma humana em sua dimensão eterna, na verdade o trabalho deve estar a favor dessa vida, existe para sustentá-la nessa terra em suas necessidades temporais. A carreira deve estar à serviço da vida.

Deixemo-nos questionar quanto às motivações verdadeiras que existem nesses dois objetos de nossa breve reflexão: os filhos e a carreira. Quando a intenção que nos leva a enxergar os filhos é egoísta, como “uma realização pessoal” ou talvez uma “exigência social/familiar” em cumprir protocolo desviando de sua essência, pois ter filhos é missão, há também um desequilíbrio ao enxergar a carreira. Quando encaro a carreira como prioridade em detrimento dos filhos, tenderá também a um desequilíbrio ao enxergar a família. Porém esses dois desequilíbrios não estão nos objetos em si, mas dentro de nós. A questão não é a carreira nem os filhos, sou eu, como eu os vejo.

A questão não é a carreira nem os filhos, sou eu.

A carreira deveria estar para servir: a Deus, à sociedade, à família (filhos), a mim. Se encarada apenas como uma realização pessoal acaba por trazer distorções e desequilíbrios. Ao perder uma das dimensões do serviço citados, perde-se o sentido., fica fora de sua essência. Se colocarmos o “carro em frente aos bois”, a tragédia é certa! Por isso acredito que a carreira deve ser sempre vista de forma coletiva, visar o bem comum, o que inclui claro, o meu bem e o da minha família, porém sem reduzi-la a esses dois fatores.
Os filhos são almas eternas confiadas por Deus àqueles que Ele designou para tal. O ser humano só amadurece de fato, quando se exerce a verdadeira paternidade/maternidade – tanto na dimensão física, filhos biológicos, quanto espiritual. Educar é uma arte e um esforço, porque não estamos a lidar com robôs numa fábrica, mas com almas com um destino eterno. Certa vez ouvi uma frase: “é impossível educar sem Deus”, é mesmo verdade, porém a estendo: “nada de bom é possível sem Deus”, pois “só Deus é bom!” Mc10,18
Sem dúvida, a carreira que escolhermos será meio de educação para os filhos, e eles por sua vez, serão um alerta de segurança para não extrapolarmos nem relaxarmos no trabalho. Eles avisam! É só prestar atenção.
Creio que a questão a ser considerada é como conciliar filhos e trabalho, não a escolha de um em detrimento do outro, pois os dois têm papeis fundamentais para a vida humana.
Enfim, substituamos as conjunções entre carreira e filhos, coloquemos um “e” no lugar do “ou” para encontrarmos o equilíbrio que cada um nos aponta em sua essência. Isso nos trará uma vida mais saudável, produtiva. Ao seguirmos àquilo que Deus nos pede em cada área de nossa vida tudo se harmonizará, pois o que engrandece a vida do homem é o amor que ele coloca em tudo o que é e faz.
Sei bem que o discernimento muitas vezes não é simples, porém exige uma vida de oração fecunda e é isso que devemos buscar em primeiro lugar. Busquemos as respostas onde elas estão, em Deus e não nas ilusões, naquilo que é mais conveniente acreditar. Quando a resposta vem de Deus, traz uma luz própria que é a luz da verdade, ilumina-nos por inteiro.

Deixo para finalizar esta reflexão, a transcrição de uma palavra bem conhecida, porém desafiante, pois se obedecida tem o poder de equilibrar, transformar a vida de qualquer pessoa:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a maior delas é a caridade”ICor13,1-10,13

Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator

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