Estamos entrando nesse tempo de graça, de conversão que é a Quaresma. Nessa caminha desses 40 dias, a Igreja nos propõe um gesto concreto, prático de conversão, que é a penitência. Existem três formas de penitência: jejum, esmola (atitude de partilha, solidariedade) e oração.
Por que se penitenciar? A penitência não é um gesto de rejeição das coisas boas da vida, não é atitude de exclusão, mas ao contrário, penitencia-se quem ama a vida, quem dá valor ao que é belo, bom e verdadeiro. Estranho isso? Talvez, para quem tenha aquele conceito tantas vezes difundido de piedade puritana, legalista, possa parecer assim, mas, aquele que entende que ter fé é acreditar no amor vai aprender com a “doutora do Amor” que “desentulhou o caminho de santidade na Igreja”, Santa Teresinha, que se penitencia quem quer amar mais.
Eu faço jejum, não porque rejeito algo gostoso, prazeroso e interessante (como comer, descansar, assistir à TV), mas porque reconheço o valor das coisas boas da vida; e, para vivê-las em liberdade, assumo livremente gestos de domínio sobre elas.
Comer é bom, mas essa necessidade humana não pode me governar por causa da minha fraqueza do egoísmo, orgulho vaidade etc, mas ao contrário, devo viver essa realidade com virtude e liberdade de forma a ordená-la ao amor.
Descansar é bom? Sim, claro, é bom e necessário. Mas posso fazer do descanso uma preguiça, uma moleza escravizante que me impede de servir, de ser solidário, prestativo, diligente etc.
Então, minha resposta diante desses desafios é a penitência. Por ela, ordenamos, segundo a ordem do amor, a nossa relação com as coisas criadas e as necessidades humanas. Mas, atenção: quem realiza isso não somos nós; pela penitência, abrimos os bueiros do nosso interior para que a Graça de Deus opere a obra da conversão.
Então, quem deve penitenciar-se? Todos aqueles que acreditam na Graça de Deus e que querem saber sugar toda a beleza e alegria das coisas criadas por Deus através da única atitude que nos faz possuir o mundo: o amor.
André Luis Botelho de Andrade
Fundador e Moderador Geral da Comunidade Católica Pantokrator