Jesus é contraditório?

Uma leitura desatenta dos Evangelhos pode trazer a impressão de que Jesus nos dá ensinamentos contraditórios. “Quem quiser ser o primeiro, seja o último” (Mc 9,35), “Quem se humilhar será exaltado” (Mt 23,12), “Quem quiser ganhar a sua vida, vai perdê-la” (Mt 16,25). 

Mas afinal, o que o Senhor quer nos ensinar?

A princípio, fica bem claro que a pedagogia de Cristo vai na contramão do que vivemos atualmente e do que, de certa forma, é próprio do ser humano. Hoje, somos metralhados de ideias, informações e ambições que nos fazem desejar e batalhar pelo primeiro lugar. Precisamos ser os melhores colocados no vestibular para ingressarmos na faculdade, termos os melhores desempenhos no trabalho para sermos promovidos; somente quem chega em primeiro lugar leva a medalha de ouro. Aos olhos do mundo, a felicidade é medida pelo quanto você conseguiu conquistar, pelo quanto se é reconhecido ou “respeitado”. E Jesus vem contradizendo tudo isso!

Jesus é o exemplo!

Infelizmente, essa mentalidade de querer ser o primeiro e desfrutar das vantagens de ser o escolhido já rondava os próprios apóstolos. Em mais de um episódio, eles foram repreendidos por Jesus por discutirem sobre isso. O próprio Cristo exorta que aquele que “quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça escravo” (Mt 20,27). Isso foi chocante para eles; afinal, um escravo não era tratado com dignidade.

Mas Jesus vai além ao dizer que “Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão” (Mt 20,28). Ou seja, “o Filho do Homem”, o Messias, o filho do grande Rei, o próprio Deus, aquele que deveria ter todos os homens da terra ao Seu serviço, veio para servir. E assim se fez: Jesus lava os pés como um escravo, é caluniado, humilhado e morre em uma cruz, a forma mais indigna de condenação daquela época. Cristo se dá por inteiro, se oferece e se rebaixa por um único motivo: você!

Durante toda a Sua vida, Jesus nos mostra que é na humildade, na caridade e na doação que se encontra a grandiosidade do amor. Nada é tão medíocre e tão sublime quanto a Cruz. E não existe nenhuma contradição nisso; pelo contrário, é o único e verdadeiro caminho que nos levará à felicidade perene que está no céu.

Santa Teresinha, a giganta da pequenez!

Não é à toa que Santa Teresinha do Menino Jesus foi proclamada doutora da Igreja. Essa jovem, que viveu apenas 24 anos enclausurada no Carmelo em uma pequena cidade da França, descobriu a chave para entender as “contradições” do Evangelho. Mesmo diante de aspirações tão altas, ela foi capaz de perceber que aqueles que são grandes e disputam os primeiros lugares se bastam, enquanto os pequenos e frágeis atraem Deus para si.

É através da pequena via que Santa Teresinha pode ser a última, se humilhar e morrer para si. Somente após sua morte as irmãs descobriram a grandiosidade dessa pequena alma. Foi na pequenez de sua infância espiritual que Santa Teresinha alçou seu maior voo. Ela alcançou o céu e hoje é venerada no mundo todo, sendo considerada uma grande santa. Fez-se nada para alcançar o TUDO de Deus.

Que, a exemplo de Cristo e pela intercessão de Santa Teresinha, deixemos de lado as lutas pela busca do primeiro lugar e aprendamos a ordenar nossas ações e objetivos. Pode ser que você alcance muito prestígio e reconhecimento na sua vida, e o mal não está aí. O verdadeiro mal reside no fim último de toda a sua existência. Deseje buscar o melhor lugar para a honra e a glória de Deus; abandone-se na vontade Dele e queira aquilo que Ele deseja para você. Dessa forma, o caminho será seguro. 

Confie!

Vanessa Cícera dos S. Ramos
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator