A busca de sentido é algo real no coração de todas as pessoas. Apesar dos grandes absurdos que escreveu, o filósofo Nietzsche estava coberto de razão ao afirmar que “quem tem um porquê enfrenta qualquer como”. Em outras palavras, as pessoas até podem suportar o sofrimento, desde que encontrem um motivo plausível.
Muitas pessoas, ao longo da história, se escandalizaram com o exemplo dos santos. Afinal, como é possível que tanta gente tenha morrido mártir e tenha suportado crueldades de todos os tipos, tudo sem reclamar e sem se revoltar? A resposta, como sempre, está no sentido que eles encontraram.
Um exemplo do Evangelho nos ajuda a entender com clareza essa realidade (Mt 13,44). Jesus nos conta uma parábola na qual um sujeito encontrou um grande tesouro escondido em um campo. Como ele não possuía o campo, não poderia tomar o tesouro para si. Não seja por isso: foi embora e, alegremente, vendeu todos os seus bens (até o último centavo) e comprou o campo.
Note bem que, à primeira vista, algum parente ou amigo desavisado poderia achar um absurdo aquela ação: para quê se desfazer de todos os bens para comprar um campo aleatório? A pressa da negociação leva a crer que ele pagou caro demais pelo campo… mas, aqui está o segredo: ele não queria o campo, mas o tesouro que estava lá escondido.
Da mesma forma, pode parecer exagerado que um mártir entregue o próprio sangue para não renegar a Cristo. Mas é que ele está enxergando uma realidade “escondida” naquele sacrifício: ele está dando a vida terrena (que é passageira e sofrida) em troca da Vida Eterna (que é incomparável e feliz).
POR QUE AS COISAS QUE TEMOS NÃO PARECEM SER SUFICIENTES?
Alguns cientistas modernos insistem em considerar o ser humano como um animal como os outros, uma espécie de macaco com menos pelos. No entanto, basta alguns minutos de reflexão para notar que somos radicalmente diferentes. Nós não vemos os pinguins sofrendo com crises de ansiedade, ou os camelos angustiados com o futuro.
Essa é uma marca própria do ser humano: nós vivemos insatisfeitos com esse mundo. Enquanto os animais ficam absolutamente “contentes” com o alimento, o descanso e o acasalamento, nós temos um coração que palpita por realidades maiores, que muitas vezes não sabemos nem descrever.
Isso acontece justamente porque nós temos uma necessidade de sentido. Não basta existirmos: queremos saber para quê fomos feitos. Não é suficiente que nós descubramos as tecnologias mais avançadas, que consigamos alcançar outros planetas ou desvendemos a cura do câncer. Tudo isso não serve para explicar o mais básico: por que estamos aqui? Para onde vamos?
Essas questões podem parecer, a princípio, perguntas muito abstratas e distantes, mas na verdade elas estão profundamente encarnadas no nosso cotidiano. Qual a razão de eu lutar contra uma doença qualquer, se eu estou destinado a morrer de qualquer forma? De que vale ter o melhor emprego de todos, se daqui 300 anos os arqueólogos não conseguirão distinguir os meus ossos do esqueleto de um morador de rua?
Deparar-se com essas questões é algo doloroso, e nós tendemos a fugir dessas reflexões. Poucas pessoas se dispõem a pensar sobre a morte ou sobre o Juízo Final. Como uma forma de anestésico, substituímos as coisas essenciais (o real sentido), por coisas imediatas: consumismo, moda, entretenimento, lazeres de todos os tipos.
A SUA ALMA ESTÁ TE CHAMANDO!
Os animais não precisam de muitas coisas, pois eles são apenas “corpo”. A matéria se contenta com a matéria, e ponto final. Mas nós, não. Embora também tenhamos corpo (e, por isso, precisamos de roupas, alimentos, sono, moradia…), temos ainda uma alma imortal – e ela não se contenta apenas com a matéria.
A alma busca um sentido para além dessa realidade. Significa dizer que, aquilo que realmente queremos não poderemos comprar no site da “Amazon” ou em promoções de “Black Friday”. Nós queremos algo maior, mais duradouro, mais poderoso… não aceitamos menos do que o próprio Paraíso celeste!
Todas as vezes em que você é tomado por um desânimo assustador, ou uma falta de motivação que te impede de saltar da cama, é sinal de que a sua alma está gritando aí dentro: “Ei, não esquece de mim! Eu quero algo mais do que o conforto físico ou um limite maior do cartão de crédito!”. Tua alma constantemente buscará te lembrar que este mundo é pequeno demais para você.
Os poetas e os artistas estão meditando sobre isso o tempo inteiro. O pintor se esforça para expressar em tinta aquele anseio invisível do eterno. O escultor busca dar uma perfeição cada vez maior a uma estátua, ao mesmo tempo em que sonha com uma perfeição além deste mundo. Até os músicos populares compõem letras que nos recordam sobre a necessidade de sentido, como aquela canção famosa que diz: “Quero um amor maior… um amor maior que eu”.
Mas nós não estamos destinados a sofrer essa ausência eternamente. O próprio Verbo Eterno se encarnou e veio até nós para indicar, finalmente, o caminho da saciedade. Jesus nos falou de uma “água” especial, da qual “quem beber, não terá mais sede” (cf. Jo 4). Ele falou também sobre um banquete nupcial para o qual fomos todos convidados.
Ele próprio é o sentido que buscamos. Se aceitarmos verdadeiramente o Cristo e habitarmos em sua presença diariamente, teremos o tesouro que o mundo não pode comprar. Só Ele possui o colo onde nossa cabeça anseia em descansar.
Que a Virgem Santíssima te ajude a encontrar o sentido no coração do Homem-Deus.
Rafael Aguilar Libório
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator