Uma reflexão sobre o tempo

“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus.” Ecle 3,1
Demos tempo ao tempo. Tempo que para tantos passa rápido demais, para outros, muito devagar. Tempo que é tão falado e tão pouco refletido. Tão desejado, tão mal aproveitado, perdido, desperdiçado, cobrado. 

Metas, objetivos, datas e horários. Anos, meses, semanas, dias. Passam os ciclos das Estações, comemoramos ou não aniversários. E assim, a vida vai passando como se o tempo de amanhã fosse garantido. E não é!

Como vivemos o tempo que temos? Com o que preenchemos nossos dias? O que dizemos para  vida pela maneira que administramos nosso tempo? O que pensamos sobre o tempo? Ele é um carrasco, um aliado ou indiferente para nós?

“Seus dias estão contados, em Teu poder está o número dos seus meses, é fixado um limite que não ultrapassarás.” Conf. Jó 14,6.

Com quão gratidão devíamos levantar a cada novo dia! Cada amanhecer é uma nova oportunidade para ser ou fazer diferente, para permanecer fiel, para conversão, para mudança de rumo, para revisão de percurso. 

Não sabemos o número dos nossos dias. Como o temos vivido? Tempo é vida e valor. Ao que damos mais tempo, mais valorizamos. A que temos doado nosso tempo de vida? O que tem tido mais valor para nós?

Cheguemos a uma reflexão mais detalhada. Abaixemos aos detalhes… aos dias, às horas, aos minutos. O que temos valorizado mais em nossas vidas é o que tem nos tomado mais tempo.

Muitas vezes damos voz a algumas expressões populares em nosso dia a dia: vamos levando a vida como dá, empurrando com a barriga ou apagando incêndios. Para quem sente o tempo correr, pode-se sentir preso à roda do rato, correndo para lugar nenhum. Para quem sente o tempo arrastar, os dias parecem infindáveis, num desejo de que as horas passem mais rápido e chegue logo ao fim que se espera. Tantos esperam só um fim de semana!

O tempo é o mesmo para todos, porém a sensação é diferente. Sendo assim, o problema não está no tempo, está em como o sentimos, como o vivemos, em nossa postura diante dele.

“Todas as coisas que Deus fez são boas, a seu tempo.” Ecle 3,11

O que são nossos dias senão tijolinhos da construção de nossa vida rumo à morada eterna? Para que almejamos coisas boas em nossa vida se elas não construírem também nossa morada no Céu? Nossos dias são de dupla construção, cada tijolo aqui, um lá¹. Se o tijolo daqui não for alicerçado no Céu, facilmente desmoronará.

“Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma, E as coisas, que ajuntastes, de quem serão? Assim acontece ao homem que entesoura para si mesmo e não é rico diante de Deus” Luc 12,20-21.

Traduzindo para nossa reflexão: é louco quem constrói somente na terra e não tem nada no Céu. Emprega tempo e suor para trabalhar na construção de uma boa vida e dispensa o mínimo ou nada para preparar a alma para a eternidade. “Insensato!” Na terra temos um tempo definido.

Costumo comparar a vida na terra com a vida no útero. Quando ainda não nascemos, não sabemos como será nossa vida fora do útero, ouvimos vozes, temos uma vaga noção, mas nossa consciência é tão limitada que não imaginamos o que encontraremos lá fora.

Assim eu vejo nossa vida terrena. Loucura é ficar preso em preservar o líquido amniótico e não nos importarmos com o desenvolvimento dos nossos pulmões. Quando nascermos, de qual precisaremos para viver?

Embora o líquido amniótico e o cordão umbilical sejam essenciais para a vida naquele momento, após o nascimento serão desnecessários, pois a vida que se abrirá terá suas próprias necessidades e meios. Temos que construir em ambas as vidas em que desejamos viver!

A boa nova é que já sabemos o que precisaremos para viver a vida nova na eternidade. Jesus “entrou no útero da terra” e nos disse tudo o que era necessário para vivermos no Céu. Quem der ouvidos a Ele, estará preparado, quem não der…

“Reconheci que o que Deus fez subsistirá sempre, sem que se possa ajuntar nada, nem nada suprimir” Ecle 3,14

Tempo é vida! Como lidamos com o tempo nos diz como vivemos nossa vida. Objetivos e metas precisam ser estabelecidos para que possamos nos organizar numa rotina que nos leve a eles e sermos perseverantes. Sem saber para onde vamos, “qualquer caminho serve”.

Deus já definiu nossos dias, mas como vivê-los depende de nós. Não podemos comprar o tempo e não fomos autorizados a abreviá-lo. Todas as nossas ações têm consequências e nossa vida é fruto de nossas escolhas, tenhamos ou não consciência disso.

Deixemos Deus nos curar, curar o nosso “tempo de vida”, para que ele seja fecundo na terra e no céu!

Valorizemos o que realmente tem valor e que merece nosso tempo. Ele é um bem tão precioso que muitos querem roubá-lo de nós. Em especial em nossos dias, as redes sociais e comércio em geral, disputam nossa atenção e se empenham ao máximo em ter êxito. Se apegam às nossas brechas, às nossas fraquezas, estudando minuciosamente nossas reações cerebrais para nos seduzir, como um “canto da sereia digital”. Cuidemos para não nos deixarmos afogar pelas ondas! 

“Antes, animai-vos mutualmente cada dia durante todo o tempo compreendido na palavra hoje, para não acontecer que alguém se torne empedernido com a sedução do pecado.” Heb3,13

 

Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator

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¹ Esse “lá” compreende a realidade espiritual, que tanto pode ser o Céu (incluindo o purgatório) ou o Inferno.

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