Com certeza você já ouviu que a ciência e a fé se complementam, que um não existe sem o outro. Pois bem, neste texto vou tentar destrinchar de forma mais profunda a relação entre ciência e fé, sem me contentar com esses clichês.
O nascimento da ciência
Pois bem, o homem não foi feito para ficar na escuridão do mundo sem conhecê-lo. Na verdade, as belezas do saber habitavam na alma humana de forma perfeita. Antes do pecado original, sem o orgulho e a soberba, a que muitas vezes o conhecimento a respeito de algo nos leva, nós conhecíamos tudo a respeito da matéria.
Portanto, o desejo inicial de Deus era que conhecêssemos tudo. E a nossa mente foi criada para que assim vivêssemos. Então, podemos dizer que nós vivemos uma “saudade” do conhecimento e da Verdade e, a cada descoberta nova a respeito do mundo, nós “matamos” um pouco mais essa “nostalgia”.
Sendo assim, desde os primórdios da história da Humanidade, nós estivemos em busca da Verdade. Conhecer e descobrir são objeto de nosso prazer. Se formos olhar para a ciência como a observação da matéria a nossa volta, ela existe desde o começo da Humanidade. Por toda a nossa história como espécie, nós observamos a matéria à nossa volta e tiramos conclusões a respeito dela.
Com o tempo, quando o homem foi aprendendo a viver em uma sociedade civil organizada, uma busca mais profunda a respeito do que são as coisas começou a tomar conta do coração de várias pessoas. Acredito que seja incorreto dizer que, em situações extremas de busca pela sobrevivência, o homem não reflete a respeito do espírito da matéria, mas, de fato, com o surgimento das sociedades, o homem passou a ter mais oportunidades para refletir a respeito de tal matéria.
Um exemplo disso é a Grécia antiga. Lá, homens como Sócrates, Platão e Aristóteles surgiram como precursores do que seria a “ciência” como a pensamos hoje. Você pode estar pensando que estes nomes apenas criaram o que nós chamamos de “filosofia”, mas isso não é verdade. Eles se preocupavam com todas as áreas do conhecimento e tinham muitos estudos em áreas da biologia, astronomia, física etc. De fato, o ‘conhecer’, até pouco tempo atrás, era tido quase como uma coisa só, pois existia a “busca pela Verdade”, que nós sabemos que é única. Este pensamento segmentado da Verdade é fruto de uma sociedade dividida pelas ideologias que segmentam a unidade da Verdade.
De fato, nós não podemos atribuir o nascimento da ciência à Igreja Católica, como algumas pessoas falam, mas nós podemos dizer, com muita certeza, que a ciência como nós a conhecemos hoje, nas universidades, com métodos científicos e todo seu embasamento, foi desenvolvido pela Igreja, através de mosteiros, dos jesuítas e muitos outros fiéis que sabiam que a Humanidade estava destinada a conhecer a Verdade e assim a buscavam.
A igreja e a ciência
Dando continuidade, a Igreja foi imensamente importante para o desenvolvimento da ciência no mundo. O sentimento da busca pela Verdade era o que movia as pessoas a verdadeiramente descobrirem coisas novas a respeito da matéria.
Certa vez, eu estava em uma aula de Mecânica Geral e o meu professor disse algo que me marcou nos meus estudos. Ele estava explicando a origem de várias leis da física e disse que o que motivava os físicos e matemáticos da época, como Galileu Galilei, era provar que Deus pensava em todos os detalhes e que as coisas não eram simplesmente “jogadas” no mundo, elas tinham uma unidade. De fato, muitos cientistas eram, na verdade, padres e monges.
Falando em Galileu Galilei, é comum ouvirmos que ele foi exemplo de censura exercida pela Igreja Católica em descobertas científicas. No entanto, essa visão não poderia estar mais errada. Na verdade, o papa apoiava e incentivava Galileu em suas descobertas. Caso você queria saber mais a respeito dessa história, incentivo que você pesquise os materiais do Prof. Raphael Tonon a respeito do assunto. Muito do que nos contam não é verdade.
A ciência moderna
No entanto, a visão da população a respeito da ciência parece cada vez mais se distanciar da Igreja e da fé.
Isso acontece porque a ciência moderna surge do iluminismo, que acredita que o homem, através da razão, consegue compreender tudo e, portanto, os conhecimentos tomam um lugar de destaque na sociedade, acima das virtudes e da própria Verdade; e, posteriormente, por conta das filosofias hegelianas e marxistas, que, em conjunto, acreditam que a sociedade pode ser separada por “opressores” e “oprimidos”.
Isso porque, com o surgimento de movimentos revolucionários nas artes e no pensamento que tinham o objetivo de libertar o homem da “opressão” da sociedade, os cientistas, que foram formados nas mesmas faculdades que promoviam esses movimentos, começam a enxergar a ciência como uma forma de libertar o homem da “opressão”; e a ciência, que antes era a busca pela Verdade, passa a ser uma busca pela libertação e exaltação da própria razão.
Um bom exemplo disso é o filme “Oppenheimer”. Repare que nas cenas que mostram o cientista na Europa, realizando seus estudos, aparecem diversas obras de pintura modernas, até o ponto em que ele se depara encarando uma obra, que parece ser de Picasso ou algum desses, que retrata um rosto desfigurado. Essa cena simboliza perfeitamente o que foi a formação da mentalidade dos cientistas daquela época, pois, influenciados pela cultura iluminista e revolucionária; assim, a ciência foi misturada com a revolução e, confusa com a falta de uma Verdade única para buscar, tornou-se disforme, sem rosto.
Pois bem, é nosso dever recapitular essa visão a respeito da ciência. É nosso dever trazer de volta essa noção de que a ciência não é só uma revolução ou uma libertação. A ciência ela é a busca pela Verdade, que é o próprio Deus. A Verdade é a verdadeira libertação, pois “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32) e a conversão das nossas almas é a verdadeira revolução.
José Henrique Hissung Botelho de Andrade
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator