Há em nós um coração que deseja profundamente ser saciado! Essa é uma verdade universal, uma lei que ordena o ímpeto humano, tal qual a lei da gravidade ordena e orienta o comportamento dos corpos. Isso porque, a nossa alma, este sedento coração, tem uma cratera de dimensões inimagináveis, que só pode ser preenchido milimetricamente pelo sumamente Bom, Belo, Justo e Verdadeiro, isto é, pela própria perfeição: Deus.
A existência de um coração que não só almeja ou deseja, mas que precisa ser saciado, é consequência de uma criatura que naturalmente é atraída ao seu Criador para a felicidade. Nós temos sede da beleza, da bondade, da justiça perfeita e da verdade sublime, porque somos produto desse Deus maravilhoso. A medida da nossa sede é alta, porque fomos criados na medida de Deus.
Assim, todo o seu desejo de ver uma série muito boa, de comer uma comida muito gostosa, de usar um perfume cheirosíssimo, de beber uma coca-cola gelada num calor de 40ºC, de se deliciar com uma boa música, de se emocionar com uma obra de arte, de ficar pasmo com uma boa literatura, de ficar sem fôlego diante de uma paisagem estupenda, de se chocar com a inteligência do homem, tudo isso, do mais exterior ao mais profundo, é um grito desesperado da sua alma de encontrar meios e modos de preencher essa cratera ou de matar a sede insaciável.
Mas há um modo maravilhoso de encontra-Lo aqui na Terra e matar essa sede da eternidade! Além do meio principal de saciar a sede do nosso coração – que é a oração de intimidade –, o nosso Pai Misericordioso imprimiu a sua face por todos os cantos da Criação, de modo que, como nos ensina São Tomás de Aquino, há um instrumento para essa revelação: a lupa da contemplação!
A contemplação que revela a beleza da face de Cristo
São Tomás de Aquino ensinava que a beleza é uma manifestação da ordem divina no mundo. A contemplação da beleza, seja na natureza, na arte ou na moralidade, é uma experiência que desperta em nós a consciência da presença de Deus. A ordem e harmonia presentes na criação refletem a perfeição divina, convidando-nos a contemplar a beleza como uma janela para a Verdade Divina.
A beleza, para São Tomás, não é apenas estética; ela é um convite à transcendência. Ao contemplarmos o belo, somos elevados para além do mundano, conduzindo-nos a uma experiência que ultrapassa os limites da realidade terrena ou de uma simples concepção sensível. A transcendência nos leva a buscar algo maior e mais profundo, direcionando nossa atenção para a Verdade Divina que supera todo entendimento humano! É como se na paisagem pudéssemos ver muito além de uma cachoeira bonita, mas sim um Criador amoroso, perfeito, sublime, que faz muito além. De modo que, aos poucos, uma cachoeira que poderia ser só um relento aos meus olhos, passa a ser um local de encontro com a Verdade Perfeita que o meu coração tanto busca, passa a ser a visão do próprio Deus.
A contemplação é um meio de conhecimento que vai além da razão humana. Ao contemplarmos a beleza, entramos em um diálogo silencioso com Deus. A contemplação nos permite perceber a presença divina nas coisas mais simples e nos conduz à busca incessante pela verdade que se revela na contemplação silenciosa, esta que nos faz a ansiar por uma união mais profunda com Deus. Portanto, a educação da alma através da beleza torna-se um caminho para a busca da Verdade Divina, moldando-nos para compreender e abraçar a verdade eterna.
Há em você um coração que busca encontrar a face do Senhor em todas as coisas, e você, como uma criatura sobrenaturalmente amada e forjada na medida de um Deus infinito, deve buscar sempre, em tudo, encontra-Lo!
Ana Clara Gonçalves
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator