Perdão não é mágica, é decisão

Perdão é uma palavra que incomoda, mas por quê?

Perdão vem do latim perdonare, (per-donare): donare = doar/doação e per=por meio de, através de, exprime também a noção de acabamento, conclusão.

Por qual razão destrincho essa palavra? Para descobrir seu real significado. Perdão significa etimologicamente, através de doação ou ainda doação concluída. Doar-se.

Aprofundando ainda mais, podemos dizer que só há doação quando há gratuidade, quando há amor, o prefixo per indica conclusão e meio, sendo assim, o perdão é a conclusão e o meio pelo qual o amor age, pelo qual se realiza a doação.

O perdão não abona o erro. Ele age com soberania sobre o erro.

“Pai, perdoa-lhes: porque não sabem o que fazem.” (Lc 23,34)

Na crucificação de Jesus, enquanto estava sendo cruelmente torturado, Ele disse as palavras acima. Com elas, Cristo não estava abonando o erro dos algozes (seria masoquismo), mas declarando a soberania do amor sobre o erro.

“Eles não sabem o que fazem”. Não sabiam mesmo! E como seria se nós soubéssemos exatamente todas as consequências do que fazemos? Se aquela palavra torta que dissemos, aquele olhar de indiferença que lançamos, se nosso egoísmo explodido em cima de alguém ou nosso ego ferido, a ferir outros sem piedade, fossem mostrados às claras o que realmente realizam, será que nós nos deixaríamos destruir?

O problema do perdão é que a ira, a revolta, o sentimento de injustiça, nos cega, nosso orgulho grita e nosso egoísmo estrebucha. Agimos como se fossemos os pobres inocentes e o outro fosse o cruel culpado. Agimos como Adão interrogado por Deus: “O homem respondeu: “A mulher que pusestes ao meu lado apresentou-me deste fruto, e eu comi”.” (Gn 3, 12)

Não temos noção da nossa culpa, por isso temos dificuldade em perdoar.

“Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão.” (Mt 7,5)

Trave é madeira pesada, enquanto palha ou cisco é partícula leve. Portanto, nossa culpa é maior do que a do irmão se nos pomos a condená-lo. De que somos inocentes? Qual a nossa inocência se Deus veio morrer por nossos pecados? Ou achamos que nosso irmão nos ofendeu mais do que nós ofendemos a Deus?

E Deus nos perdoa. Ele sempre age com amor, por mim e por você.

Quem somos nós para reter o perdão? Somos egoístas e não sabemos amar. Não nos doamos, queremos tudo para nós: compreensão para os nossos erros, compaixão pelas nossas dores e o outro que não nos cultue, o outro que ouse nos ofender!! Não sabemos sofrer, não somos pacientes, somos vingativos. Essa é a marca do pecado de Adão.

Porém, a história não terminou em Adão. A plenitude da história é Jesus Cristo! Ele veio mostrar que é possível amar como Deus ama, pois nos trouxe o Espírito Santo, o próprio Amor entre o Pai e o Filho para habitar em nós! Jesus nos ensinou como fazer, fez a parte que Lhe cabia e muito bem! Temos que fazer a nossa parte. Nos abrir a esse amor para que Ele ame em nós, através de nós.

A perfeição do amor é o perdão. Se você não consegue perdoar, independente do seu temperamento, é porque te falta amor, falta amar. E amar não é um sentimento de novela, mas uma decisão firme de uma alma que “sabe o que quer”, que conheceu com Quem quer passar sua eternidade, que decidiu ser feliz.

Remoer uma ofensa é marcá-la ainda mais na memória, fixá-la no coração. Quem se fere mais é aquele que retem o perdão, pois convive com seu algoz dia e noite sem cessar, conforme nos coloca dr. Augusto Cury. Quem pensa que deixar de perdoar é vingança contra o erro do outro, se engana. Deixar de perdoar é tomar toda hora um golinho de veneno, quem o toma é você, não o outro!

Perdão é decisão

Deixemos de pautar nossas ações e decisões em nossos instintos desordenados! Não fiquemos esperando sentir algo para perdoar alguém. Ajamos com inteligência! A inteligência iluminada pelo Espírito Santo sempre nos levará ao amor. O amor é o que supera tudo, não nossas opiniões e conclusões parciais e débeis sobre as situações e pessoas.

Decida perdoar tirando o olhar de si mesmo, olhe para a Cruz! Olhe para Jesus crucificado. Ele aceitou entregar Sua vida (verdadeiramente inocente) pelos seus pecados, sofreu as mais terríveis torturas físicas, emocionais e psicológicas, sem contar a ação demoníaca reforçando todas elas, e “não abriu a boca”, não reclamou de nada e ainda perdoou a todos, por você.

“Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam.(Mt 6,12)

Jesus nos ensina a perdoar sempre, porque Ele nos perdoa sempre. As Sagradas Escrituras têm inúmeros exemplos dessa verdade. Do nosso perdão depende a nossa salvação.

Agora, a decisão é sua. Quem você deixará vencer em sua vida: o amor ou a soberba? Você não poderá mais alegar ignorância, pois sabe onde dará cada um dos dois caminhos.

“O homem respondeu: ‘A mulher que pusestes ao meu lado apresentou-me deste fruto, e eu comi.’” Gn2,12.

Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator

Tags:

  ●  

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Faça a sua doação e ajude a manter a nossa comunidade ativa e próspera

Conteúdos Relacionados

Ao continuar a navegar ou clicar em "Aceitar todos os cookies", você concorda com o armazenamento de cookies próprios e de terceiros em seu dispositivo para aprimorar a navegação no site, analisar o uso do site e auxiliar em nossos esforços de marketing.
Políticas de Cookies
Configurações de Cookies
Aceitar todos Cookies
Ao continuar a navegar ou clicar em "Aceitar todos os cookies", você concorda com o armazenamento de cookies próprios e de terceiros em seu dispositivo para aprimorar a navegação no site, analisar o uso do site e auxiliar em nossos esforços de marketing.
Políticas de Cookies
Configurações de Cookies
Aceitar todos Cookies