Todo ser humano, sem nenhuma distinção, possui no centro do seu próprio coração um altar. Trata-se de um lugar ornamentado, destacado e até com velas e incensos ao seu redor. Em outras palavras, todos nós – incluindo eu e você, que me lê – trazemos dentro de nós um lugar de adoração.
Poucas verdades são tão evidentes como essa. Os homens são seres feitos para adorar e, conscientemente ou não, sempre acabam cultuando algo (ou alguém). Basta consultar os estudos dos historiadores e arqueólogos mais respeitados para constatar que todas as civilizações da história, mesmo as mais antigas, sempre tiveram entre si a prática da adoração.
Aliás, este é um elemento que os estudiosos costumam utilizar para verificar se os fósseis encontrados são de humanos ou de animais: se forem de homens ou mulheres, certamente haverá nas proximidades algum elemento que revele a existência de um culto a uma divindade.
Neste ponto, alguém poderia replicar: “Mas e os ateus? Eles não adoram ninguém, já que não acreditam em nada…”. Não é bem assim. Pode até ser que uma pessoa se recuse a aderir a alguma religião, mas isso não significa que ela não coloque nada no “altar” do próprio coração, seja uma ideologia, um cientificismo, uma pessoa… ou até a si próprio.
ADORAR É SE DECIDIR POR ALGUÉM
O sábio Santo Agostinho já havia dito em uma bela oração: “Senhor, fizeste-nos para vós e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em vós”. Significa que o “altar” situado no centro do nosso coração não existe apenas “por acaso”, mas foi instalado de maneira proposital pelo Autor da Vida.
Mas Deus não é um ditador ou um trapaceiro. Ao mesmo tempo em que ele nos criou com um trono vazio no coração, deixou-nos a liberdade para que preenchêssemos este trono de maneira voluntária. Ou seja, tenho a opção de ignorar o Altíssimo e colocar no lugar um ídolo musical, um influencer da moda ou até um “bezerro de ouro” – como fizeram os antigos israelitas da Bíblia.
É evidente que adorar ao deus errado traz alguns efeitos colaterais conhecidos, como por exemplo a tristeza, a insatisfação e o cansaço. Mas ainda assim Deus não viola a nossa liberdade nem as nossas decisões – por mais insanas que elas sejam. Assim diz a Palavra: “Ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a tua posteridade” (Dt 30, 19).
Não pense que este assunto é apenas um detalhe sem importância. Escolher quem será o teu senhor não é algo banal como escolher um time de futebol, uma música favorita ou um partido político. A partir do momento em que eu elevo algo ou alguém ao centro do meu coração, eu estou automaticamente estabelecendo uma autoridade que definirá todas as outras escolhas. Trata-se da decisão mais importante da vida!
DIGA-ME A QUEM ADORAS, E EU TE DIREI QUEM ÉS
Santo Afonso de Ligório, um grande Doutor da Igreja, nos ensina algo valioso: “O amante se torna semelhante ao amado”. Se eu amo com todas as minhas forças ao Deus Altíssimo, é natural que eu comece a me comportar como Ele (e a isso damos o nome de santidade). Mas, se eu dedico o centro da minha vida às coisas fúteis, ridículas e passageiras, eu fatalmente me transformarei em algo parecido. É uma lei espiritual.
Conheço pessoas – e talvez você também conheça – que colocaram o dinheiro no altar do próprio coração. Que infelicidade! A pessoa acorda pensando nos “investimentos financeiros”, respira apenas trabalho, abdica dos relacionamentos, não tem tempo sequer de ir à missa semanal, tudo por conta do “deus” que ele colocou no seu altar. Não é raro que tais pessoas se desesperem no final da vida ao perceberem que construíram um castelo de cartas no ar.
Há outras pessoas que entronizaram em seu próprio coração outros tipos de ídolos: um relacionamento (no qual pauta toda a sua vida), uma mentalidade política (por quem sacrifica todos os laços humanos), uma carreira ideal… E geralmente não percebem que bagunçaram algumas ideias e inverteram prioridades.
Essa é uma reflexão que todos nós devemos fazer de tempos em tempos: quem eu tenho colocado no altar da minha vida? Quem (ou o quê) tem sido o meu deus? E isso vale especialmente para nós, cristãos. Jesus já nos alertava no Evangelho: “Onde está o teu tesouro, lá também está o teu coração” (Mt 6, 21).
Não há dois tronos, nem dois “centros” no interior do coração. O nosso Deus é um Senhor ciumento, conforme nos recorda as Escrituras: “Sois amados até o ciúmes pelo Espírito que habita em vós” (Tg 4, 5). Se nós percebemos que Deus tem perdido espaço nas nossas decisões, ou se não tem sido prioridade nas escolhas, significa que outros ídolos já começaram a tomar o lugar de destaque.
Este, portanto, é um excelente exame de consciência a ser realizado com frequência: O que tem ocupado o centro da sua vida? A que deus você tem “incensado” com suas decisões? Qual tem sido o ídolo que tem merecido todo o tempo da sua atenção e das suas preocupações? Não seria este o momento de rever as prioridades e de coroar Aquele que merece ser o verdadeiro e único rei?
Que possamos seguir o conselho dado por São Paulo aos Colossenses: “Tudo quanto fizerdes, por palavra ou obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Cl 3, 17). E que a Virgem Santíssima nos ajude a manter no coração um trono de verdadeira adoração ao Deus Altíssimo.
Rafael Aguilar Libório
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator