A pobreza, junto com a castidade e obediência, forma o que chamamos de conselhos evangélicos, ou seja, aspectos da vida de Cristo, vivido de forma perfeita quando Ele se encarna e vive todas as nossas condições humanas, exceto o pecado.
Todos os três conselhos são importantes, mas, nesse texto vamos refletir sobre a pobreza. Ser cristão é ser imitador de Jesus. Se Ele, sendo Deus, foi pobre, nós também devemos ser. A grande questão é como viver a pobreza? O leigo, aquele que tem sua casa, trabalha, estuda, viaja, que está imerso no mundo, também pode viver a pobreza?
Não se deve associar a pobreza que o Senhor nos pede com a miséria material, que é a condição em que se está privado dos bens e serviços necessários à sobrevivência e à saúde.
Nosso modelo é Jesus. Por isso, é importante olharmos para Sua vida. Ele é Deus, Senhor de todas as coisas e desde seu nascimento, em uma estrebaria de animais, até sua morte na cruz nos ensina que a verdadeira riqueza não está nas coisas deste mundo: “Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?” (Mc 8,36). Ele, como rei do universo, poderia ter nascido e vivido com todos todo luxo e riqueza, mas ao contrário se fez pobre, pequeno, humilde e servidor servo.
Nós cristãos, podemos usufruir dos bens, é possível ter uma casa confortável, ter acesso a lazer, ter uma vida economicamente boa, mas não se pode colocar a confiança e nem condicionar a felicidade ao ter, pois nossa felicidade deve ser a busca constante pelas coisas do céu.
Onde está o seu coração? Nas coisas da Terra? Se está, é muito provável que você se decepcione e sempre viva frustrado (a), pois o ser humano, quando tem esta atitude consumista, nunca está satisfeito com o que tem, sempre quer mais e mais. Esta busca não será saciada nos prazeres, só pode ser preenchida pela infinitude de Deus.
Sociedade imersa nos prazeres
A nossa sociedade atual está imersa na cultura do hedonismo, na ideia que o prazer é o bem supremo que o homem pode alcançar.
O homem moderno não tem a ambição de realizar grandes feitos através de um sacrifício. O dinheiro é um meio para se chegar a este prazer, o dinheiro pode comprar muitas coisas e muitas experiências, mas este estilo de vida não é compatível com o cristão (aquele que quer imitar a Cristo).É preciso ter uma relação equilibrada com os bens materiais, pois Deus quer que vivamos com dignidade, que aproveitemos daquilo que Ele mesmo criou, mas não se deve sem nos deixar escravizar pelo dinheiro.
A pobreza deve ser antes de tudo, o desprendimento das coisas, saber que o tudo que tenho foi dado por Deus e que é meu dever colocá-los a disposição do outro se for necessário.
Para viver a pobreza algumas atitudes são necessárias, pensar sobre a morte, por exemplo, é um exercício de desapego das coisas deste mundo. Esse pensamento, essa memória da finitude da vida não deve ser feita com um peso, como algo triste, mas com maturidade cristã. O medo da morte pode estar associado a perda dos prazeres e conforto deste mundo. Esta vida é passageira e nada daquilo que construímos ou compramos será levado para a eternidade, use dos bens mas não deixe que o consumismo seja o “senhor” da sua vida.
São Francisco, um belo exemplo
Francisco, grande santo e modelo de pobreza tem uma história muito rica e que nos ensina que a verdadeira alegria não consiste no ter. Ele descobriu o verdadeiro sentido da vida: amar a Deus e amar ao próximo, principalmente o pobre.
Foi batizado com o nome de Giovanni di Pietro di Bernardone.
Este santo que viveu no fim do século XII tinha uma vida confortável, algumas fontes relatam que era festeiro e vivia a vida de forma desregrada em bebedeiras e festas. Certamente tinha anseios que não sabia dar nome mas que não encontrou nas frivolidades do mundo. Teve um encontro com Jesus através de um leproso, num tempo onde essas pessoas eram excluídas, Francisco tem uma reação diferente, acolhe o doente que representa o próprio Cristo pobre e sofredor.
A partir desse real encontro, ele sente o desejo de abandonar tudo: seus bens, seus sonhos, sua herança, seus pais e até mesmo a própria roupa do corpo! Perceba o nível de desprendimento de Francisco, abandonar tudo para ir em busca de um tesouro maior, esse tesouro tem nome: Jesus.
Não importa se você tem muito ou pouco dinheiro, muitos ou nenhum bem material, a confiança em Deus e nas suas promessas nos farão viver a pobreza aqui na terra para que alcancemos uma vida farta e cheias de riquezas no céu.
São Francisco de Assis
Rogai por nós.
Raul Cézar Aparecido dos Santos Cid
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator