A virtude é definida por Santo Tomás como sendo um hábito operativo bom, que conduz para o bem. O que nos impede que sejamos virtuosos? Poderia citar várias coisas, mas para nossa reflexão de hoje me deterei em apenas uma, a acídia, mais conhecida como preguiça.
Com o advento das redes sociais e o escalonamento do marketing de influência, podemos acompanhar um crescimento na difusão de informações sobre virtudes, disciplina, motivação, bons hábitos e tantas outras coisas importantes para se ter qualidade de vida, enquanto se busca a santidade. Tudo isso é muito bom.
No entanto, podemos fazer muitos cursos, aderir a algumas boas práticas, conseguir a famigerada qualidade de vida, mas perder a “qualidade de vida interior” e acabar por não ser virtuoso. Isso porque muitas vezes, todos esses bons hábitos estão atrelados à visão materialista de performance e sucesso aqui e agora, quando deveríamos buscar o bem que é a santidade de vida.
Nosso Senhor nos fala no Evangelho de São Mateus 16, 25-26 “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, irá recobrá-la”, vejam que essa exortação nos lembra que todo bom hábito, todo sacrifício só tem valor para o Céu quando feito pelo Bem que é Jesus.
Você pode estar se perguntando o que a preguiça tem a ver com tudo isso, afinal de contas, quem vive orientado para a alta performance e sucesso não tem nada de preguiçoso. É aqui a armadilha que vos disse a pouco: a preguiça não é apenas o deixar de fazer algo. A preguiça é uma tristeza por fazer o bem – entenda-se como o bem espiritual que edifica nossa vida interior – de maneira que caímos no engano de fazer muitas coisas, mas não o mais importante: silenciar, rezar, buscar a Deus.
Fomos feitos para o Céu e não para o sucesso
Rezar uma oração repetitiva todos os dias como o terço ou ir à missa que é sempre igual se tornam um peso, uma chatice. Mas acordar todos os dias às 5h da manhã, correr 5km, tomar banho gelado, significa o milagre da manhã. Como foi dito, todos esses hábitos bons na busca da qualidade de vida são até legais, mas não te fazem virtuoso; podem até te levar ao sucesso, o que é legal também; no entanto, fomos feitos para o Céu e não para o sucesso.
Te convido, meu caro leitor (a), a fazer essa reflexão sobre como está seu estado de ânimo para coisas espirituais. Será que há uma tristeza, um rancor, uma raiva? Será que toda atividade pastoral que tem exercido, tantas missões, apostolados e leituras espirituais não são fuga do que de fato deve ser feito, do cumprimento do seu dever de estado?
Pois é, a preguiça pode estar corrompendo os bons hábitos e te levando para longe da santidade. Não tenha medo de se descobrir preguiçoso. Peça ao Espírito Santo que te ilumine e dê o dom da sabedoria para identificar onde precisa lutar contra esse mal que te afasta do Bem.
Não é ruim nos descobrir pouco ou nada virtuosos; ruim é perder o céu por preguiça e medo de refletir e identificar as nossas faltas. “Ó culpa tão feliz que há merecido a graça de tão grande Redentor” – esse refrão proclamado no Sábado Santo deve encher nosso coração de humildade para reconhecer nossa culpa e alegria por receber o Amor Misericordioso do Bom Deus!
Que o Senhor nos abençoe e a Virgem Santíssima, nossa mãe, nos ajude a purificar nossos bons hábitos os orientando sempre para o bem!
Fernanda Guardia
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator