Guilherme Martins
Instituto Plínio Corrêa de Oliveira
Nas últimas semanas, diversos editorialistas vinham se debruçando sobre as convulsões havidas na França. Por mais que se procure, entretanto, não se encontra o ponto verdadeiramente nevrálgico da questão.
O motor de tais distúrbios – “greves, bloqueios de estradas e avenidas, escassez de combustível, atos de vandalismo, paralisações decretadas pelos sindicatos de trabalhadores no setor de serviços públicos, como os dos petroleiros e ferroviários, violentas manifestações de rua dos estudantes e jovens em geral” – é a aprovação da reforma previdenciária pelo governo Sarkozy, que aumentará em dois anos a idade necessária para o trabalhador se aposentar.
A população jovem, distante em várias décadas da idade requerida para a aposentadoria, uniu-se às manifestações por prever um retraimento no mercado de trabalho, e conseqüente prejuízo para os profissionais recém-formados.
O governo tem mantido sua resolução de implantar a reforma, que parece ser a única saída para enfrentar o iminente colapso do sistema previdenciário francês. A expectativa é de que, com a aprovação da mudança na idade exigida, “as contas do sistema previdenciário voltarão a fechar em 2018”.
O bom senso nos ensina: “colhe-se o que se planta”. A sociedade francesa – poderíamos dizer a sociedade mundial – ansiosa por um desenvolvimento a qualquer custo, acostumou-se a limitar o número de filhos. A curto prazo, teve maior liberdade para produzir e para gozar os frutos de seu trabalho. Mas com o passar do tempo, e com o incremento da qualidade de vida, os frutos foram se tornando amargos. Se o exército laboral não é substituído por novos braços – os mesmos que foram sendo limitados anos a fio – quem vai pagar a conta daqueles que vão deixando o arado?
Apenas constatar tal razão, como fazem os editoriais, não nos leva à solução do problema. Ou melhor, leva à solução que os franceses parecem não querer, e que só postergará a tragédia. As profundezas do problema devem ser investigadas, analisadas, esclarecidas, sob pena de se entrar num círculo vicioso sem saída, chegando ao colapso de conseqüências tão temidas.
Fazemo-lo em poucas palavras. Os homens entregaram-se ao hedonismo, pensando encontrar aí a felicidade. Preferiram pagar o alto preço que ele lhes pede, a ceder à concepção católica da vida, da terra como um vale de lágrimas, sim, mas com um fim glorioso para aqueles que carregam sua cruz com destemor. Quiseram abandonar a esperança do céu pela falsa promessa de um gozo terreno eterno. Ou revêem essa opção, ou se resignam às suas funestas conseqüências.