Cidade do Vaticano (Terça-feira, 19-10-2010, Gaudium Press) Uma comunhão “afetiva” e consequentemente “efetiva” dos cristãos no Oriente Médio, que responda aos desafios e à situação dos conflitos com “um estilo de vida solidário, caridoso e fraterno”, é o que ambiciona o “Relatio post disceptationem” (Relatório depois da discussão) da Assembleia Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos, que chegou ontem à sua metade e no seu clímax.
Na manhã desta segunda-feira, o relator geral, S.B. Antonios Naguib, Patriarca de Alexandria dos Coptas, fez um resumo das intervenções dos padres sinodais e auditores apresentadas em toda a semana passada. Nesta semana a assembleia se reúne nos círculos menores, à espera da Lista única das proposições, que será a base para a futura exortação pós-sinodal e para a Mensagem final dos padres sinodais para os cristãos no Oriente Médio.
O “Relatio”, em seu início, chama a atenção para a formação missionária dos fiéis: “A missão e o anúncio devem encontrar seu lugar nas nossas Igrejas, com base nas possibilidades concretas em cada país, e também encontrar o próprio lugar na vida das nossas Igrejas Orientais”. O texto aponta para uma necessidade de “conversão missionária” e de formar “pessoas bíblicas” para “cultivar a cultura do Evangelho” contra o modelo da sociedade formado pela “cultura materialista, egoísta e relativista”.
Os cristãos têm seu papel a ser exercido na sociedade do Oriente Médio. Antes de tudo, para promover a ideia do ‘estado cívico’ que ‘reconhece e garante’ a liberdade religiosa, a liberdade de culto e a liberdade de consciência, continua o ‘Relatio’. “A religião não deve ser politizada nem o Estado pode prevalecer sobre a religião”, notou o Patriarca Naguib, destacando que é necessário formar as mentes para a cidadania que respeite também o bem comum. Segundo o texto, os cristãos no Oriente Médio dão uma contribuição para a sociedade com a promoção da família e a defesa da vida. A educação tornou-se “campo privilegiado” e “um investimento enorme” dos cristãos nas sociedades médio-orientais onde qualquer pessoa tem acesso sem discriminação nem de raça nem de religião.
Entre os desafios apresentados no “Relatio”, o primeiro, mais difícil, é o dos conflitos políticos. O arcebispo Naguib lançou um apelo “à política mundial para dar-se suficientemente conta da dramática situação dos cristãos no Iraque, que são a principal vítima da guerra e de suas consequências” e também à “solidariedade com o povo palestino, cuja situação atual favorece o fundamentalismo”. Às Igrejas no Ocidente, pediu para que “não ficassem do lado de um, esquecendo o ponto de vista e as condições dos outros”.
Outro argumento importante é o problema da liberdade religiosa e da liberdade de consciência, que não são respeitadas pela maior parte dos países árabes no Oriente Médio. O arcebispo, no início, nota que a liberdade não é “nem um relativismo que considera iguais todas as fés religiosas”, nem o “proselitismo”. A Igreja pode dar uma contribuição promovendo o “pluralismo na igualdade”.
O problema da emigração, por sua vez, é um desafio grande e tornou-se “um fenômeno geral” que deve ser “um argumento de diálogo sincero e franco com os muçulmanos”, aborda o texto. Apesar do encorajamento das pessoas em permanecer em suas terras, é necessário ao mesmo tempo “promover as condições que favorecem a escolha por ficar”, recomenda o documento.
Um forte convite também às Igrejas para acolher, nos países onde emigram os fiéis orientais, e disponibilizar a eles as próprias estruturas: paróquias, escolas, centros de encontro, etc, é feito no ‘Relatio’. As Igrejas locais devem “manter estreitos laços com os próprios emigrados e assegurar a eles assistência espiritual”, principalmente em assegurar a liturgia em seu rito, diz o arcebispo Naguib.
Segundo o texto que emergiu das primeiras discussões sinodais, o Oriente Médio enfrenta também um outro fenômeno, “novo e importante”: a imigração cristã internacional, sobretudo na África e na Ásia. Trata-se de um fenômeno formado por uma maioria de mulheres que sofreram problemas de abuso, tratamentos incorretos, injustiça, infração das leis e das convenções internacionais.
O relator geral reforça ainda no ‘Relatio’ a necessidade de uma renovação eclesial e de uma “formação permanente” de todos os membros da Igreja, não apenas os leigos, mas também o clero e os religiosos, e com especial atenção aos mais jovens. “A vida cristã no Oriente Médio é influenciada, como nos países ocidentais, pelo secularismo. Percebe-se um afastamento da prática da fé, a duplicidade da vida e também o problema das seitas”, diz o texto.
Com relação aos próprios cristãos entre si, o documento afirma que é necessário um “estilo de vida solidário, caridoso e fraterno”, solidariedade pessoal e dos bens entre as dioceses e relações inter-eclesiais com a Santa Sé e com a diáspora. A questão a ser superada indicada em algumas intervenções, e no ‘Relatio’, é o confessionalismo, que corre o risco de transformar as Igrejas em “guetos e fazê-las fechar-se em si mesmas”. Assim, para o relator, é necessário “valorizar” o papel da missão dos leigos e da mulher na Igreja. Na vida religiosa, o texto faz um apelo pela “redescoberta” da vida monástica e contemplativa.
O ‘Relatio’ aborda ainda a formação educacional e a opinião pública dizendo que na promoção da fé e da missão da Igreja, a mídia e a educação e catequese têm um grande papel. Nesse sentido, a educação religiosa não pode abdicar também da dimensão humana e a pastoral deve abarcar todos os fiéis, a família, as crianças, os jovens. O uso da mídia é “imprescindível” para a formação da paz e para a promoção da missão que a Igreja desenvolve.
Na conclusão, o ‘Relatio’ convida os cristãos da região a “trabalharem juntos para preparar um novo amanhecer no Oriente Médio”. O documento termina com um questionário com perguntas a serem discutidas entre os padres sinodais e outros participantes do Sínodo, que dizem respeito aos temas da evangelização, da perseguição dos cristãos, da formação cristã e religiosa, da pastoral na realidade multicultural, do fenômeno da emigração, da crise das vocações, entre outros.