Bento XVI dá-se a conhecer pelas suas próprias palavras num livro-entrevista intitulado “Luz do mundo”, assinado pelo jornalista alemão Peter Seewald, com apresentação marcada para o próximo dia 23 de Novembro.
Várias passagens foram divulgadas por agências de notícias e pelo próprio jornal do Vaticano, «L’Osservatore Romano», que dedica um longo artigo a esta entrevista, na sua edição dominical.
O Papa confessa que depois da sua eleição, em Abril de 2005, esperava encontrar “paz e tranquilidade”, lembrando assim os sentimentos que surgiram naquela altura.
A reflexão inicia o livro, com 18 capítulos, numa secção intitulada “Os Papas não caem do céu”, com Bento XVI a afirmar que estava “seguríssimo” de que não seria ele o escolhido para suceder a João Paulo II.
Quanto às primeiras palavras proferidas, quando se apresentou como “trabalhador na vinha do Senhor”, o Papa diz que sempre “trabalhou em equipa”, como um de muitos operários, e que o líder da Igreja Católica “não é um monarca absoluto, que toma decisões sozinho e faz tudo por si próprio”.
Peter Seewald assegura que Bento XVI não fugiu a nenhuma pergunta nem “modificou as palavras pronunciadas”, propondo apenas “pequenas correcções” na transcrição final.
O resultado é, para o autor, um diálogo franco e directo sobre os mais variados temas, desde as questões fundamentais para a Igreja e sociedade em geral aos seus filmes preferidos ou os Santos da sua devoção.
Bento XVI fala num “fio condutor” na sua vida: “O Cristianismo dá alegria, alarga os horizontes. Em definitivo, uma existência vivida sempre e apenas «contra» seria insuportável”.
O Papa fala de “forças de destruição” na sociedade actual e pede atenção quando se trata de avaliar a sua missão, mostrando-se preparado para as críticas: “Se recebesse apenas consensos, teria de perguntar-se se estaria a anunciar verdadeiramente o Evangelho”.
“Pobre mendigo diante de Deus”, Bento XVI diz que, perante a modernidade, é necessária uma “grande luta espiritual” para afastar e distinguir “aquilo que se está a tornar uma contra-religião”.
A Igreja, observa, não é um “aparelho”, pronta para “fazer de tudo”, mas um “organismo vivo, que vem do próprio Cristo”, apesar dos seus limites.
Bento XVI convida a falar do “mundo melhor” para lá da vida material, professado pela fé cristã, e não apenas em “respostas concretas para o hoje, soluções para as tribulações quotidianas”.
O Papa diz que os temas da eternidade são como “pão duro” para a humanidade de hoje, pelo que os cristãos têm de “encontrar palavras e modos novos para permitir ao homem destruir o muro do som do finito”.
O livro “Luz do mundo. O Papa, a Igreja e os sinais dos tempos” resulta de uma conversa entre Bento XVI e Seewald – que já por duas vezes tinha entrevistado Joseph Ratzinger, ainda cardeal – na residência pontifícia de Castelgandolfo, perto de Roma, entre os dias 26 e 31 de Julho.
As duas anteriores entrevistas a Seewald tornarem-se os «best-sellers» “Deus e o mundo” (2001) e “O Sal da Terra” (1997).
Fonte: Rádio Vaticano