Osétimo mandamento nos diz da destinação e distribuição dos bens, da
propriedade privada, do respeito às pessoas e à criação, tendo sempre um olhar de justiça e caridade na condução da ação e do sentimento humano.
Muito além do “não roubarás” (Mt 19,18), este mandamento nos remete a não assumir para nós, objeto ou sentimento que não nos seja destinado pelo Criador.Deus, quando da criação, deu ao homem os bens criados e os recursos necessários para a sua existência, a fim de que o homem pudesse administrá-los para o bem comum, portanto os bens da criação são destinados para o gênero humano.
Cada ser humano tem direito à propriedade privada desde que adquirida ou recebida de forma justa, e isso deve ser garantido pelas autoridades, porém, mesmo a propriedade privada, que em princípio pode ser vista como um bem pessoal, deve ser utilizada de forma a garantir a destinação universal desse bem. Sendo assim, é ferir o sétimo mandamento se faço uso dos meus bens ou dos meus dons de forma egoísta, sem colocá-los à disposição dos outros, mesmo que estes jamais venham a fazer uso deles.
Em cada uma de nossas ações com o próximo, devemos colocar diante dos nossos olhos a temperança, a justiça e a solidariedade. Pela temperança seremos desapegados dos bens que estão sob a administração humana, podendo colocá-los a disposição da necessidade comum. Pela justiça preservaremos os direitos que as pessoas têm de fazer uso de sua propriedade particular. Pela solidariedade nos colocamos humildemente na mesma medida que nossos irmãos, atestando que somos todos iguais perante Deus e merecedores de usufruir de todos os bens gratuitamente dados a nós pelo Criador.
O sétimo mandamento nos proíbe o roubo, ou seja, a usurpação do bem de outro contra a vontade razoável do proprietário. Notem que a vontade do proprietário deve ser contrária à atitude sendo praticada, pois se existe o mínimo de intenção de consentimento, o roubo não se caracteriza mais. Ficam resguardados também casos em que o apoderar-se de bens que não estão sob a sua administração são considerados como atos de garantia de necessidades essenciais do ser humano como alimentação, abrigo, vestimentas e outros elementos que envolvem a dignidade do ser humano.
É importante dizer que atitudes como privar as pessoas dos nossos dons ou impedi-las de doar os seus também é uma prática contrária ao sétimo mandamento, assim como situações simples de tomar algo emprestado e não devolvê-lo depois de seu uso.
O sétimo mandamento nos diz ainda que devemos respeitar a integridade da criação. Toda a criação foi dada por Deus ao homem para que este pudesse administrá-la como bem comum, que serve a todos. Ferem este mandamento atitudes de destruição da fauna e da flora, assim como o causar sofrimento aos animais, porém, também o fere dar-lhes valor maior do que o dado ao ser humano como, por exemplo, gastar com animais exageradas quantias que poderiam ser usadas para garantir a dignidade de muitos homens.
Ao perceber o seu erro, a pessoa deve imediatamente se empenhar em reparar possíveis danos, males ou prejuízos que possa ter causado a outro. Dessa forma, tendo coração semelhante ao de Zaqueu que assumiu o compromisso “Sê defraudei alguém, restituo-lhe o quádruplo” (Lc 19,8) deixará a justiça, a temperança e a solidariedade reinarem em sua vida, garantindo assim o respeito pela pessoa humana e recebendo as bênçãos de Deus.
Diante disso, a Igreja cumpre um importante papel de ser mantenedora da verdade do homem, verdade esta que recebe do próprio Evangelho e que mostra ao homem a sua “dignidade e a sua vocação à comunhão de pessoas, ensina-lhes as exigências da justiça e da paz de acordo com a sabedoria divina”1 pela Doutrina Social da Igreja e lhe permite viver os bens temporais ordenados ao Bem Supremo.
Outro ponto que toca o sétimo mandamento é o trabalho. O trabalho do homem é dado a ele por Deus para que dele tire o seu sustendo e todos aqueles que lhe foram confiados por Ele, porém não podemos nos esquecer de que o trabalho foi criado para o homem e não o homem para o trabalho, portanto, ferimos o sétimo mandamento quando permitimos que o trabalho roube de nós a convivência familiar ou fraterna exigindo de nós excessiva doação de tempo.
Por fim, o sétimo mandamento, ao pedir de nós o respeito à pessoa humana, nos pede para que cuidemos dos pobres dando-lhes de bom grado o que lhes é indispensável para manter a dignidade humana. É necessário olhar para os necessitados com o puro desejo de promover a justiça, pois se tudo foi criado para o uso de todos, tirar ou deixar de dar-lhes o que lhes é de direito também fere o sétimo mandamento. Aqui não se trata de caridade, mas sim de justiça.
A prática de obras de misericórdia, sendo ações que possibilitam a nós prover ao próximo suas necessidades tanto físicas como espirituais, são uma excelente prática de crescimento humano e promoção da dignidade. Dar alimento, vestimenta, moradia e outras necessidades essenciais assim como dar aconselhamento, conforto, consolo, perdão, são obras de misericórdia que muito agradam ao coração de Deus. Agrada a Deus também uma prática de misericórdia muito simples e que se coloca como uma das principais formas de demonstrar caridade fraterna, que é a esmola, como um ato de solidariedade, justiça e caridade. “Nunca deixará de haver pobres na terra; é por isso que eu te ordeno: abre a mão em favor de teu irmão que é humilhado e pobre em tua terra” (Dt 15,11);
É muito comum hoje em dia encontrarmos pessoas de corações duros, que não se importam com o próximo e que não lhe dão a chance de serem pessoas dignas ou até mesmo pessoas de bom coração que são distraídas. Quantas pessoas não atravessam a rua ao perceberem que logo à frente vão encontrar um mendigo? Quantos assaltos a céu aberto acontecem hoje em dia, diante das multidões, e mesmo com tantos olhos a sua volta o ladrão sai ileso, andando calmamente? Quantas pessoas não deixam de mostrar seus dons por se sentirem acanhadas diante do nosso fraco acolhimento? Quantos ainda sofrem porque o nosso olhar, que acabou de passar por eles, ainda é desatento?
Todos os mandamentos de Deus foram por Ele escritos em nossos corações, é natural ao gênero humano buscá-los e segui-los, porém, pela influencia do pecado em nós perdemos essa naturalidade, porque o nosso coração está em demasia endurecido pelo pecado.
Que nós, formados pelo ensinamento de Jesus, possamos ser como Ele, que não roubou de nós a salvação, mas a deu de livre vontade e com profundo desejo de partilhar conosco o Amor que recebeu, recebe e sempre receberá do Pai.
Fonte: CIC, §2402-§2449
(1) CIC, §2402-§2449
Andréia Souza
Discípula na Comunidade Católica Pantokrator