“Porque a Deus nenhuma coisa é impossível.” (Lc 1,37). Parece que passou rápido demais… o ano já está novamente terminando e já é Natal. Quando penso em Natal, sempre me lembro da figura do Menino Jesus: pequeno, frágil, indefeso, um Deus que se deixa tocar.
“Eis o ícone do Natal: um frágil recém-nascido, que as mãos de uma mulher protegem com pobres panos e depõe na manjedoura. Quem pode pensar que aquele pequeno ser humano é o ‘Filho do Altíssimo’ (Lc 1,32)?” (1).
Neste mundo transtornado, totalmente sensitivo e absolutamente racional, Deus faz uma grande e brusca freada e diz à humanidade: “Eu estou aqui e Eu tudo posso.”
Celebrar o Natal é celebrar o mistério do impossível.
Todos os anos o Bom Deus nos leva novamente a refletir: “O que há de impossível em sua vida e que eu posso realizar?”
Caindo na racionalidade, somos levados a entrar em uma mentalidade que nos conduz a acreditar que só podemos andar onde há chão, onde há concreto embaixo de nossos pés. Tudo o que foge ao explicável é prontamente rejeitado e exclamamos: “isso é impossível!!!”
Bem diferente de Maria, rejeitamos o que Deus quer nos apresentar, Seu sonho, Seu projeto a nosso respeito porque somos incapazes de diante do impossível de Deus responder como nossa Mãe: “Como se fará isso?” (Lc 1,34 a).
Nossa resposta é sempre afirmativa: “imagina, isto é impossível e não irá acontecer nunca!”
Surpreendentemente, Nossa Senhora não questiona, não rejeita, não descarta o sonho de Deus; ela apenas o acolhe amorosamente e empenhadamente responde: “só preciso saber como isto se dará para que eu saiba o que eu devo fazer, como devo me comportar, como devo colaborar com este sonho.”
É mistério, é mistério do Natal e é mistério da nossa vida que se mistifica com a de Cristo- é Natal e Deus quer manifestar o impossível em nós.
Talvez seja humanamente impossível aquela reconciliação, aquele emprego, aquela cura, aquele filho, aquele marido, aquela transformação… e o Natal chega e nos fala “a Deus nenhuma coisa é impossível.”
“Somente Ela, a Mãe, conhece a verdade e conserva o seu mistério. Nesta noite, nós também podemos ‘passar’ através do seu olhar para reconhecer neste Menino o rosto humano de Deus. Para nós também, homens do terceiro milênio, é possível encontrar Cristo e contemplá-Lo com os olhos de Maria. A noite de Natal torna-se, então, escola de fé e de vida”(2).
Na singularidade de um Menino está o mistério da vida: Deus tudo pode!!!
“O Menino jaz na pobreza duma manjedoura: este é o sinal de Deus. Passam os séculos e os milênios, mas o sinal permanece, e vale também para nós, homens e mulheres do terceiro milênio. É sinal de esperança para a inteira família humana; sinal de paz para os que sofrem por causa de todo gênero de conflito; sinal de libertação para os pobres e oprimidos; sinal de misericórdia para quem se encerra no círculo vicioso do pecado; sinal de amor e de consolação para quem se sente só e abandonado. Sinal pequeno e frágil, humilde e silencioso, mas rico do poder de Deus” (5).
(1) Homilia do Santo Padre Papa João Paulo II, Missa da meia-noite, 24 de dezembro de 2002.
(2) Ibidem.
(3) Ibidem.
Myrian Cristina Neves Botelho de Andrade
Consagrada na Comunidade Católica Pantokrator