Quando queremos conhecer uma pessoa, normalmente perguntamos aos outros como essa pessoa é. A resposta mais comum é uma descriçao física e «social», como por exemplo, altura, cor de cabelo, profissão, idade etc… Se mostramos interesse, muitos ampliam a descrição da pessoa para características de personalidade como otimismo, determinaçao, capacidade de realização e outros. Mas todas elas somente nos dão uma ideia de como é a pessoa, mas para saber quem ela é realmente é necessário um contato mais íntimo e prolongado, que muitas vezes pode significar a vida toda. Assim também acontece conosco em relaçao ao Espírito Santo. Muitos de nós ouvimos falar dele e, às vezes, ficamos curiosos a ponto de indagar algo mais sobre Ele. Descobrimos, então, que Ele é comparado a muitas coisas, como a água, o vento, o fogo, a pomba, o selo, advogado e por aí vai. São tantos símbolos interessantes, que nos dão uma ideia da Sua ação, que muitas vezes nos acomodamos com essas imagens e acreditamos já conhecer o Espírito Santo. Mas isso ainda é como o primeiro contato, é como saber pela boca dos outros. Mas podemos ir além, podemos ir mais perto e chegar a descobertas surpreendentes.
O que mais é o Espírito Santo ? Ele é, acima de tudo, uma Pessoa. Nós dizemos, da boca pra fora, que o Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Mas o que isso significa mesmo? Ser pessoa implica ser alguém vivo e, portanto, alguém que tem inteligência, que tem vontade, que tem ação própria, que fala, que se comunica. Ou seja, o Espírito Santo não é algo, mas alguém com quem eu posso me comunicar, eu posso conversar, com quem eu posso entrar em amizade. São Serafim de Sarov, santo do Oriente, dizia que o objetivo da vida cristã é a aquisição do Espírito Santo. E Jesus dizia que nós precisaríamos do Espírito Santo, pois seria Ele que nos guiaria no mundo. O Antigo Testamento já prometia o Espírito Santo, falando de dias em que o Espírito Santo seria derramado sobre todo ser vivo (cf. Jl 3,1) e Jesus sobe ao Pai falando que enviaria o Espírito Santo sobre os apóstolos (cf. Jo 15, 26). Referências fortes, não? Sinal de que preciamos nos voltar para o Espírito Santo, como pessoa com a qual podemos nos relacionar. Como podemos fazer isso ?
Segundo São Basílio, o Espírito não é tanto aquele que tira as coisas do nada, mas aquele que leva a criação à perfeição desejada pelo Pai. Dá beleza à criação retirando-a do caos: « A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas » (Gn 1, 2). Você é uma obra bela do Pai, desejada e sonhada pelo Pai. Apesar disso, quantas vezes você já se sentiu perdido, sem rumo, numa situação caótica ? Quantas vezes o pecado te fez sentir como alguém sem valor ? E, no entanto, o Espírito de Deus é aquela pessoa que trabalha em teu interior, que retira e reorganiza todo o caos do teu coração para te levar à beleza da santidade, de uma vida entregue a Deus. O Espírito nos reconduz ao caminho de Deus. É por isso que São Paulo diz « Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito » (Gl 5, 25), pois o Espírito é aquele que nos ajuda a ouvir, a compreender as palavras de Jesus e, especialmente, a colocá-las em prática na nossa vida. Não é possivel uma vida cristã autêntica sem que ela seja vivida na dependência do Espírito Santo. Em todo o livro dos Atos dos Apóstolos nós podemos constatar a dependência, a direção, a ajuda do Espírito Santo.
E como é que o Espírito Santo faz isso? Como é que Ele nos reeduca, como é que Ele nos ensina, como é que Ele aciona a potência da conversão para o amor dentro de nós? Vamos à origem da palavra: o termo hebraico que se traduz por Espírito é Ruah, que significa vento, respiração. Podemos aqui fazer uma comparação e dizer que o Espírito é a respiração de Deus que é soprado em nós pelo Pai e pelo Filho. O que é a respiração para o homem ? Ela é fonte de vida, ela é a própria vida. Sem respirar, o homem morre. Sem o Espírito de Deus, nossa alma morre. Nao há vida em nós, não há vida de Deus em nós. O Espírito Santo nos enche da vida de Deus, sopra sobre nós os sentimentos de Deus, o querer de Deus, o mais íntimo do próprio Deus é «respirado» em nós. Como seríamos felizes se conseguíssemos compreender o significado disso! Com o Espírito Santo, nós podemos viver como Jesus viveu, amar como Deus ama, perdoar como os santos perdoaram, começar a viver aqui na terra o que viveremos em plenitude no céu! Quando a Pessoa do Espírito nos toma, nos enche, é o próprio Deus que vem a nós, que faz em nós, que transforma em nós, que converte em nós. Por isso os grandes homens de Deus foram todos cheios do Espírito Santo. Eu quero ser de Deus? Preciso ser conduzido pelo Espírito Santo!
Sao Bernardo diz “O que é o Espírito Santo, senão o beijo que trocam entre Si o Pai e o Filho ?” Belíssima comparação. O beijo é algo de íntimo, trocado entre pessoas que se amam e se doam mutuamente. Assim também, quando o Pai derrama o Seu Espírito sobre nós, Ele nos beija. Somos beijados por Deus através do Espírito. E esse beijo nos revela que somos amados, somos desejados profundamente por Deus e que Ele anseia uma verdadeira comunhão conosco para a qual Ele não mede esforços.
O Espírito Santo é Amor, conforme nos diz a carta ao Romanos1 «o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5). É o Amor que pode nos arrancar da força do sofrimento, da solidão, da inquietude, da desunião. O Amor que é o Espírito derramado em nós tem a potência para tudo transformar em nossas vidas. Por isso, quando estamos desanimados, desesperançados, confusos, o Espírito Santo é Aquele que pode nos ajudar a retomar forças. Quando estamos alegres, contentes, entusiasmados, é também o Espírito Santo que pode multiplicar esses sentimentos através da partilha, da entrega ao outro. Podemos ainda nos perguntar: se o Espírito é tão bom, como eu posso tê-lo como amigo, próximo ? Ele já está em nós, a partir do nosso Batismo. Mas, para que Ele aja em mim de uma forma determinante, eu preciso de uma única coisa: reconhecer a minha necessidade dessa «respiração». Se eu não reconhecer que preciso do Espírito, que necessito da Sua ação em minha vida, Ele não terá liberdade para agir em mim. Ele dispensará suas graças, mas de uma forma «limitada», pois estarei ainda apoiado sobre a minha própria condução. «Eu não quero ser autos-suficiente, eu quero sentir a URGÊNCIA dentro do meu coração, a necessidade de Cristo até o pranto, para me abrir a Ele, para experimentar a potência da Sua Presença, a plenitude que a vida pode ter quando o deixamos entrar como necessitados. EXISTE UMA COISA MUITO PIOR DO QUE SERMOS NECESSITADOS: sermos sozinhos com a nossa autossuficiência.» (1). Como é triste sermos sozinhos na nossa autossuficiência! Ficamos perdidos nos nossos problemas, nos nossos dramas, não encontramos uma saída satisfatória e ainda perdemos a oportunidade de conversão, de ter a «respiração» de Deus em nós! Quando nos descobrirmos necessitados, quando nos encontrarmos com a verdade mais profunda do nosso coração que grita por Cristo, que o deseja até o fundo da alma, nós clamaremos o Espírito e permitiremos que Ele venha e nos encha, que Ele venha e mova a Sua potência em nós e então conheceremos a alegria plena de ser de Deus! Que Maria, nossa mãe, aquela que foi totalmente pobre, totalmente necessitada de Cristo a ponto de ser totalmente plena do Espírito, interceda por nós para que descubramos a delícia da amizade do Espírito Santo em nossa vida.
(1) Padre Carrón, Comunhão e Libertação.
Tatiana Oliveira
Consagrada na Comunidade Católica Pantokrator