Você está em dúvida sobre qual é sua vocação?

Outro dia, meu filho de 5 anos me disse: “Mãe, quando eu crescer vou ser veterinário de zoológico, vou casar e ter 5 filhos”. Na hora dei risada e lhe respondi: “Filho, falta muito tempo ainda, você pode mudar de ideia”. Mas, ele foi categórico em afirmar seus planos já pré-estabelecidos.

Fiquei pensando quantas dúvidas existem acerca da vocação! Quantas vezes nós, já adultos e formados, não temos certeza sobre qual caminho seguir ou se as escolhas que fizemos foram certas.

Por isso, gostaria de lhe propor a ir muito além de uma simples reflexão – caso ou compro uma bicicleta.

Proponho perguntar a Deus: “Quais são os teus planos para mim? O que tu sonhastes para mim?”

Nesta pergunta, ou antes dela, cabe uma reflexão se alguma vez você perguntou a Deus qual é sua vocação, pois esse é o chamado mais profundo e íntimo que Ele designou para você antes mesmo de nascer.

Sim, Deus te projetou para algo que somente você pode realizar e a vocação é algo a ser decifrado, uma trilha a percorrer, um caminho que só é descoberto quando damos passos nessa direção.

Como uma mata fechada que espera o explorador, nesta exploração é possível perceber coisas jamais vistas, novidades e tesouros impensados, que só quando enveredar por essas matas vai ser capaz de descobrir.

Este é um mistério que somente você pode descobrir! Seu chamado de ser e agir é único e irrepetível.

Talvez você se questione nesse momento: “Que loucura isso, já estou vivido, já escolhi meu estado de vida (matrimônio, sacerdócio ou celibato) e profissão. O que mais preciso descobrir?”.

Alguns acham que o chamado a uma vocação é algo restrito aos padres e religiosos, mas isso é um engano porque cada homem foi criado por Deus a uma vocação específica. A um chamado à liberdade. A vocação cristã diz respeito a todo batizado que quer viver autenticamente e na radicalidade do seu batismo – como leigo, leigo consagrado, sacerdote ou celibatário.

A pergunta deve ser: “Como posso te amar mais, Senhor?”.

Eu, Jaqueline como leiga, esposa e mãe de 3 filhos, assim como os discípulos, perguntei a Jesus: “Onde vives?”. E a resposta foi a mesma que os discípulos receberam: “Vinde e vede!”.  (cf. Jo 1,38-39)

Senti-me impelida a dar a minha vida. Como toda decisão feita na juventude, ela precisou ser regada com uma dose de fé, cuidada e zelada. Como uma plantinha que cresce, precisou mudar de vaso e, muitas vezes, ser adubada.

Hoje vivo como leiga que deu sua vida e sua família pelo Reino, pela Igreja. E isso é possível porque já estava inscrito em minha vida, porque Deus pensou isso para mim e me capacitou a dizer “Sim!”. E, me capacita até hoje.

Deus não nos pede nada que não podemos suportar e, como São João Paulo II disse: “Deus não nos tira nada. Ele nos dá tudo”.

Encontrar a vocação é descobrir para que viemos ao mundo, para que Deus nos criou.  Se descobrirmos isso, descobriremos o sentido do nosso existir e o caminho da nossa mais plena realização.

Vivemos muito tempo frustrados e insatisfeitos, sem sentido para a vida, mas vivemos assim porque ainda não descobrimos nosso chamado mais profundo, onde de fato nos realizaremos plenamente.

Mas, a realização plena, a autorrealização se dá quando descobrimos que existe algo que Deus pensou para nós, uma missão pessoal, um chamado íntimo que Ele fez e pensou para cada um, individualmente. Somente nos realizamos quando o caminho que trilhamos coincide com o projeto de Deus e, aí, podemos nos comprometer com Ele, dando nosso melhor, alcançando a plenitude, um maior grau de santidade.

Como descobrir a vocação?

Na verdade, desde pequenos deveríamos ser estimulados a refletir sobre isso. Deveria fazer parte do desenvolvimento humano desde a infância aspirar a nossa vocação, e isso deveria ser amadurecido gradativamente para que, chegando a juventude, o momento das escolhas, pudéssemos nos questionar com maturidade.

Tendo plena consciência dos limites e fraquezas, também dos dons e capacitações, seria muito mais fácil dizer sim a algo radical, a uma vocação, a um chamado porque seríamos capazes de assumi-lo com responsabilidade e determinação.

A partir do momento que a pessoa faz o discernimento de sua vocação na fase adulta, ela pode definir seu estado de vida, que deve ser coerente com a própria vocação. Assumindo a vocação e o estado de vida, então, ela pode trilhar o caminho que Deus pensou para ela.

Mas, não é esse o caminho natural, não somos educados e nem educamos nossos filhos para se questionarem sobre tem um chamado, uma vocação. Na verdade, educamos para que eles decidam-se por algo que gostem, que lhes dê dinheiro e conforto.

Só que a descoberta da vocação, muitas vezes, não traz conforto. Ela desinstala, exige renúncia e cruz. Afinal, foi assim que Jesus nos ensinou: “Quem quiser me seguir, tome sua cruz e siga-me” (Mt. 16,24).

Exige, muitas vezes, que andemos na contramão dos planos predeterminados para nós; exige que os renunciemos, para que possamos descobrir e ouvir a voz de Deus que nos chama.

 

Vocação profissional um caminho de santidade

Mesmo dentro da profissão que você tem certeza que é sua vocação, você pode santificar e transformar a maneira de exercê-la, sendo santo no mundo.

Um grande exemplo dessa santidade através da profissão é São José Moscati, médico, que sentiu que seu chamado à medicina ia muito além de um atendimento às pessoas, mas era seu dever amar cada doente e dar a vida por eles.

Mas, isso só é possível descobrir, como disse acima, perguntando para Jesus e, a partir daí, fazer o discernimento vocacional junto com um diretor espiritual, um padre ou leigo amadurecido na fé, que possa lhe ajudar e direcionar.

Isso exige que você tenha fé e intimidade com Deus para escutá-lo. Exige muito mais decisão de seguir aquilo que o Senhor te aponta.

Talvez a pergunta que te inquiete nesse momento seja esta: “Mas, onde e como devo procurar a minha vocação?”. O primeiro passo é a oração e a intimidade com Deus: “Fala, Senhor, que teu Servo escuta”, como nos fala a palavra em 1 Samuel 3,10.

E depois, percebendo os movimentos e carismas que há na Igreja, inspirados pelo Espírito Santo, que são um socorro ao povo de Deus.

Existem inúmeras vocações na Igreja, manifestações, maneiras de dar-se mais a Deus e ao seu povo. Existe um lugar com o qual o teu coração se sentirá unido e perceberá que aquele povo é o teu povo, que aquele carisma, que a missão daquela comunidade te inspira te toca também.

Existe um carisma, movimento ou pastoral que vive daquela maneira que você sempre aspirou e desejou viver. Podemos dizer, de maneira bem simples, que existe um lugar na Igreja que combina com você.

Para a descoberta da vocação é necessário duas vozes: uma que Chama: “Samuel, Samuel” e outra que responde: “Fala, Senhor, que teu servo escuta”.

Deus te chama, Ele tem te chamado a seguir uma vocação! Não tenha medo de escutá-lo, não adie sua felicidade plena, não tenha medo de dizer “sim”, de responder aos apelos do Senhor.

Jaqueline Moreira
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator

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0 resposta

  1. Gostei do texto. É bastante reflexivo a respeito das vocações.Estudei Ciências das Religiões e a minha vocação foi ser professora. Ajudei muitas pessoas inclusive fui catequista e hj aposentada ingressei no grupo da Pastoral Familiar.
    Muito produtivo esse texto

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