O MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO DE CRISTO NO CARISMA EL SHADDAI-PANTOKRATOR

Tânia Kapor Botelho de andrade
Consagrada na Comunidade Católica Pantokrator

A encarnação do Senhor tem um lugar todo especial no Carisma El Shaddai-Pantokrator. A espiritualidade de nosso Carisma se sustenta em três vertentes: a fidelidade incondicional a Deus, a vivência da santidade comum no mundo e o tudo fazer por amor, como conseqüência das duas primeiras vertentes.

“A vivência da fidelidade a partir do vivo sentido do mistério do amor ciumento de Deus leva-nos a uma santidade que foi definida por nós como ‘comum’, que não pode significar banal ou ‘mais ou menos’, mas remeter a santidade, não a situações extraordinárias, heróicas, mas ordinárias e cotidianas” (1).

A santidade comum nasce como fruto da vivência da fidelidade incondicional a Deus no mundo. A fidelidade vivida de maneira particular por cada pessoa gera frutos de santidade, um novo comportamento do homem em seus diversos relacionamentos sociais – na família, no trabalho, na sociedade, no lazer etc. Como dito acima, esses frutos acontecem não em situações extraordinárias e heróicas, mas no dia-a-dia, nas situações ordinárias e cotidianas.

E aí a encarnação de Cristo tem o seu papel:
“Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocação… Como a natureza humana foi nele assumida, não aniquilada, por isso mesmo também foi em nós elevada a uma dignidade sublime. Com efeito, por Sua encarnação, o Filho de Deus uniu-Se de algum modo a todo homem. Trabalhou com mãos humanas, pensou com inteligência humana, amou com coração humano” (2).

Cristo, tendo-Se encarnado, reafirmou a dignidade humana. “O próprio Verbo encarnado quis participar da vida social dos homens… Santificou os laços sociais e, antes de mais, os familiares, fonte da vida social, e submeteu-Se livremente às leis do seu país. Quis levar a vida de um operário do Seu tempo e da Sua terra” (3). Se o próprio Deus encarnado viveu as relações humanas da família, trabalho, amizades e outras com toda dignidade, mais ainda nós, que tivemos a felicidade de nascer após Cristo, podemos e devemos santificar os aspectos mais cotidianos de nossa vida. “Deus quer de nós uma santidade autêntica e radical capaz de dar a própria vida por amor de Seu Nome. Mas não é a grandes coisas que somos convocados, pois isso nos distanciaria do homem comum, mas a coisas simples, no entanto, surpreendentes que são próprias do amor” (4).

Dentro da santidade comum, o aspecto mais enriquecido pela encarnação é a recapitulação de Cristo. A recapitulação é um dos aspectos da santidade comum e significa a ação de dar às coisas, sejam elas quais forem, o sentido original que Deus deu a elas na Criação. Por exemplo, o sentido do trabalho na atualidade está desequilibrado – o homem está para o trabalho e não o trabalho para ele. A recapitulação, nesse caso, é colocar o trabalho no seu devido lugar, existindo ele em função do homem e não o contrário. Cristo, encarnando-Se, recapitulou a Criação e daí surge a grande graça para nós continuarmos a recapitulação em nossas vidas. É muito fácil nos perdermos no sentido das coisas.

A recapitulação faz com que “encaremos” o mundo sem precisarmos fugir dele – salvo, é claro, situações que nos levem a pecar. Assim, no mesmo exemplo, não precisamos fugir do trabalho secular, como se diante da necessidade do Reino este fosse uma perda de tempo, mas sim vivê-lo no sentido que o Pai deu a ele.

Para que aconteça esse encarar o mundo, temos a graça do múnus régio de Cristo, herança dada a todo batizado. O múnus régio de Cristo significa a missão que todo batizado tem de dominar o mundo e de não ser dominado por ele, fruto da própria recapitulação feita por Cristo – o Pai governa todas as coisas e esse governo é dado a nós em nosso batismo. Não se trata de um domínio no sentido negativo, mas no sentido de invertermos a ordem do pecado, de não nos deixarmos dominar pelo mundo, pelos nossos instintos e desejos, mas de dominarmos cada um deles, pela graça dada a nós através do múnus régio.

O múnus régio é fundamental na vivência do nosso Carisma, pois dele vem a graça para não nos perdermos no contato com o mundo. Mais uma vez, no exemplo do trabalho, somos chamados a fazer os nossos deveres da melhor maneira possível, com o máximo empenho e dedicação, mas isso não significa que então tenhamos que buscar ser os “funcionários-modelo”, numa busca de reconhecimento pelo nosso empenho. Nossa dedicação e empenho têm que ser gratuitos, feitos unicamente por amor a Deus e àqueles a quem servimos através de nosso trabalho.

“O Verbo se fez carne para ser nosso modelo de santidade” (5). Por isso a encarnação tem tanto valor para a humanidade, porque assumindo corpo e vida humanos, em tudo Ele Se assemelhou a nós, menos no pecado. Podemos, com tranqüilidade, imitá-lO em nossa vida. Grande riqueza é o fato de Jesus ter Se encarnado no seio de uma família comum, com nada de extraordinário perante a sociedade. Assim somos chamados a viver em nosso Carisma, através da santidade comum: viver o extraordinário no ordinário. São Josemaría Escrivá já dizia: “Não há outro caminho: ou sabemos encontrar o Senhor em nossa vida de todos os dias, ou não o encontraremos nunca” (6).

“Pelo Carisma nos tornamos profetas da santidade como objetivo comum de todos os homens. A santidade que vivemos e testemunhamos é a do simples amor, que desce à mesa do pai de família, de modo que todos os que estão à mesa possam dela se alimentar. Trata-se de simplesmente santificar recapitulando todas as coisas, vivendo-as no espírito do sacrifício de Cristo que, em tudo dependendo do Pai, encontra a força libertadora do Espírito” (7).

(1) COMUNIDADE CATÓLICA PANTOKRATOR, “Documento Santidade Comum pela Fidelidade Incondicional”, 2001, n. 32.
(2) CONCÍLIO VATICANO II, “Constituição Pastoral Gaudium et Spes”, 1965, n. 22.
(3) Idem 32.
(4) COMUNIDADE CATÓLICA PANTOKRATOR, “Documento Santidade Comum pela Fidelidade Incondicional”, 2001, n. 32.
(5) “Catecismo da Igreja Católica”, n.459.
(6) S. J. ESCRIVÁ.
(7) REGRA DE VIDA do Carisma El Shaddai-Pantokrator, n. 65.

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