O Século Carismático começou com o hino de invocação ao Espírito Santo pelo Papa Leão XIII, a 1º de janeiro de 1901, quando amanhecia o século vinte. Exatamente três anos antes, em 1897, o Papa Leão XIII convocava os católicos a rezar uma novena (nove dias de orações consecutivos) ao Espírito Santo, entre a celebração da Ascensão e Pentecostes. A inspiração para esta convocação do Papa vinha de uma jovem freira de Lucca, na Itália, Elena Guerra, que escreveu ao Papa diversas cartas…”
O parágrafo acima nos pareceria no mínimo um tanto quanto pretensioso, não fora o fato de ele ter sido escrito por dois gigantes do pentecostalismo protestante: Jack W. Hayford e S. David Moore!(1) Menciono essa referência para que possamos situar, sem falsas modéstias, a Beata Elena Guerra no devido lugar dentro do amplo arco de renovação espiritual no Espírito Santo pelo qual passa, nesse último século, a Igreja.
O fato é que Deus suscitou no coração dessa freira, fundadora da Congregação das Oblatas do Espírito Santo, em Lucca, na Itália, um inusitado profetismo que a instava a trabalhar incansavelmente na divulgação da devoção ao Espírito Santo, especialmente para dar a Ele o lugar de honra que sempre lhe fora de direito, a fim de que a Igreja, cônscia de Sua presença e ação, possa cumprir mais adequadamente o seu ministério de anúncio da Boa Nova, que, sem Ele no protagonismo, logo se demonstra – no dizer de Paulo VI –, “desprovido de valor…”
Muitos – místicos e místicas – na história da Igreja, tiveram inspirações semelhantes. Podemos nos lembrar, por exemplo, de Santa Gertrudes, Santa Catarina de Dormans, Santa Hildegarda, Isabel de Schönau, Dorotea de Montau, Teresa de Jesus, Inácio de Loyola, e mesmo a Serva de Deus – contemporânea de Elena Guerra – Francisca Javiera del Valle, que escreveu o “Decenário do Espírito Santo”… Em que consiste, portanto, a importância diferenciada de Elena Guerra…?
O profetismo de Elena foi o resultado direto de apelos interiores que lhe fazia o próprio Jesus e que a conduziram, não a uma experiência espiritual do tipo intimista, individualizada, com a Pessoa do Espírito Santo, mas a uma experiência que orientou sua ação para um sentido notadamente universal, eclesial, e que lhe abriu um canal de comunicação com ninguém menos que o próprio Sumo Pontífice, Leão XIII.
Ao servir-se dela, parece que Deus tencionava de fato desencadear uma estratégia de ação que culminasse num reavivamento espiritual como nunca havia acontecido na vida da Igreja em termos de extensão, significado pastoral e teológico, e redescoberta experiencial da presença e do operar do Espírito Santo na vida dos fiéis… Um verdadeiro “retorno ao Cenáculo”, como queria a Beata…
Dentro desse século privilegiado da redescoberta da Pessoa e da ação do Espírito Santo, temos nós, hoje, nesse ano bendito de 2009, a graça de nos envolvermos e de mergulharmos profundamente em tudo aquilo pelo que guerreou (pois foram muitas as suas batalhas!) a nossa Beata Elena. Queremos comemorar, durante esse ano, o cinqüentenário da beatificação da Madre Elena Guerra. Queremos também celebrar o cinqüentenário das primeiras vezes que o Papa João XXIII falou na Igreja da necessidade que temos de um “novo Pentecostes”. De Lucca a Roma, de Azusa Street a Duquesne, do Vaticano II à Aparecida, a Igreja vem aprendendo a reconhecer – de um modo que afete a sua práxis – que necessitamos de um novo Pentecostes! (2). Que é preciso redescobrir o Espírito Santo (3), que é preciso reavivar e aprofundar essa fé na consciência do Povo de Deus (4) , e que é tempo de “um estudo renovado e um culto renovado do Espírito Santo, precisamente como complemento indispensável do ensino Conciliar” (5)…
Não exageramos quando ligamos esses direcionamentos do Magistério da Igreja à obra de Elena Guerra. Influenciado por ela – no dizer de João XXIII –, Leão XIII não só escreveu a 1ª Encíclica sobre o Espírito Santo como também consagrou o Século XX a Ele. Foi no dia de sua beatificação que, pela primeira vez, João XXIII se referiu à necessidade de “um novo Pentecostes que renove a face da terra” (26 de abril de 1959). Três semanas depois (17 de maio de 1959, na festa de Pentecostes), tornava ele pública a sua decisão de realizar um Concílio Ecumênico, ao qual denominou “um novo Pentecostes”. E, na convocação formal do mesmo, a 25 de dezembro de 1961, orou ele pedindo que o Concílio Vaticano II fosse para a Igreja e para o mundo como “um novo Pentecostes…”
Celebremos, pois, com alegria e intensidade a graça privilegiada desses tempos de derramamento abundante do Espírito. Que ninguém fique à margem dessa oportunidade de louvar a Deus e abrir-se à permanente ação do Espírito em sua vida, que quer plasmar em nós uma definida identidade que realize no mundo os Seus propósitos pela difusão da cultura de Pentecostes e o estabelecimento da Civilização do Amor… Usufruamos do material que a Renovação Carismática nos estará disponibilizando, para assim podermos melhor afirmar ao mundo, com João XXIII: “Depois de tantos anos do desaparecimento da Madre Elena Guerra, a sua mensagem é sempre atual. Todos sentimos, de fato, a necessidade de uma contínua efusão do Espírito Santo, como de um novo Pentecostes que renove a face da terra…” (a 26/04/1959).
Pentecostes pode ser hoje, pode ser agora. Depende de mim e de você, pois o Espírito Santo já está sendo derramado! Que os Beatos Elena Guerra e João XXIII roguem por nós…
(1) “The Charismatic Century – The Enduring Impact of the Azusa Street Revival”, Warner Faith, New York, 2006, p. 223.
(2) Cf. D.A. 548.
(3) TMA, 45.
(4) DeV, 2.
(5) Cf. Paulo VI, citado por João Paulo II, DeV, 2.
Reinaldo B. Reis
Coordenador Estadual da RCC-SP