O termo hebraico que se traduz por Espírito é Ruah, que significa: vento, respiração. O Espírito Santo é esse vento que está no íntimo do homem santificando-o. Ele é o doce “hóspede da alma”, que habita, que está junto, anima a nossa vida sobrenatural, ou seja, a vida de Deus em nós.
Nosso corpo – matéria – só permanece vivo enquanto tem o oxigênio, o “vento” que o sustenta. Por ele podemos andar, pensar, falar, comer, ler, sorrir, trabalhar etc. Se hoje estamos vivos, é porque dentro de nós existe o oxigênio, que dá a vida e movimenta todo nosso ser.
Podemos notar isso através da simples observação de pessoas que marcaram nossa história como: Jonas Salk, cientista americano que há mais ou menos cinqüenta anos, descobriu a primeira vacina contra a poliomielite, doença também chamada de paralisia infantil.
Hansen, cientista norueguês, que descobriu no século retrasado a cura da Hanseníase, doença também conhecida como lepra.
Larry Page e Sergey Brin são os estudantes que criaram o “google”.
E há tantos outros que marcaram nossa história, nossa vida…
Se para esses homens, em algum momento faltasse o oxigênio (esse vento que sustenta nosso corpo), eles não teriam nos trazido tamanhos benefícios.
Recordo-me de uma prima que, com meses de vida, tornou-se portadora de paralisia cerebral, uma “lesão de alguma parte do cérebro, que acontece durante a gestação, durante o parto ou após o nascimento, ainda no processo de amadurecimento do cérebro da criança. É uma lesão provocada, muitas vezes, pela falta de oxigenação das células cerebrais” (1). É pelo Espírito que temos vida e não apenas existência.
Precisamos perceber que, muito mais do que o oxigênio que sustenta nossa matéria, necessitamos do “ vento” que sustenta nossa vida sobrenatural, o Espírito Santo. Um dia nosso oxigênio vai acabar e nossa matéria terá um fim. Mas o vento do Espírito Santo que habita em nós nos levará para a eternidade.
É através d´Ele que o Filho, Palavra do Pai, nos é comunicado. “Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará” (Jo 16, 12-14).
Temos que ter a consciência de que o Espírito Santo é o nosso oxigênio espiritual e que é Ele que movimenta nossa vida sobrenatural. Sem ele, nos tornamos portadores de paralisia espiritual. Onde este vento atinge, tudo se torna são e saudável e em toda parte onde ele chega, há vida. Por ele podemos andar pela fé, amar, vencer, ser fiel, paciente, viver a conversão etc.
Percebemos isso na vida de pessoas que foram tomadas por Ele: São Paulo. Nele não existia amor, perdão, compreensão. Nada de bom tinha a oferecer para a humanidade. Só podia oferecer morte, destruição e medo às pessoas que o cercavam. Quando este vento adentrou em Paulo, o fez reviver, as escamas de seus olhos caíram e sua visão se ampliou: saiu de seu egoísmo e da busca de seus próprios interesses.
Paulo tinha ido para Damasco com a meta de perseguir os cristãos em nome de seu ideal: defender a fé judaica. Para o seu ideal, os cristãos eram uma ameaça. Mas ele fracassou: o Espírito lhe surpreende com o novo ideal que se torna meta para ele, a qual ele abraça, imediatamente anunciando Jesus.
“Ananias, entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Saulo, meu irmão, o Senhor, esse Jesus que te apareceu no caminho, enviou-me para que recobres a vista e fiques cheio do Espírito Santo. No mesmo instante caíram dos olhos de Saulo umas como escamas, e recuperou a vista. Levantou-se e foi batizado. Depois tomou alimento e sentiu-se fortalecido. Demorou-se por alguns dias com os discípulos que se achavam em Damasco. Imediatamente começou a proclamar pelas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus” (Atos 9, 17-20).
Quando o vento do Espírito atinge o ser de Paulo, ele passa a anunciar Jesus imediatamente, narra o livro dos Atos. O Espírito é essa força que o levanta e o impulsiona à ação missionária. Paulo conhecia sua humanidade, sua fragilidade, e assim reconhecia a ação da graça de Deus em sua vida. “Sei viver na penúria, e sei também viver na abundância. Estou acostumado a todas as vicissitudes: a ter fartura e a passar fome, a ter abundância e a padecer necessidade. Tudo posso naquele que me conforta” Fl 4, 12-13. Mesmo na prisão, Paulo se sentia livre porque estava tomado pelo Espírito. “Mas a palavra de Deus, esta não se deixa acorrentar. Pelo que tudo suporto por amor dos escolhidos, para que também eles consigam a salvação em Jesus Cristo, com a glória eterna” (2Tm 2, 9-10).
São Maximiliano Maria Kolbe, Padre franciscano, tomado por este vento, morreu em um campo de concentração nazista: ofereceu-se para ser morto no lugar de um prisioneiro pai de família. Seu oferecimento foi aceito e o trancaram numa cela para morrer de fome e sede (2).
Madre Teresa de Calcutá, ainda muito jovem, quis ser missionária para ajudar os mais miseráveis da Índia. Fundou sua própria congregação, a das Missionárias da Caridade, com sede em Calcutá. O objetivo é o de cuidar dos mais miseráveis dentre os miseráveis (2).
André Luis B. de Andrade, nosso fundador: o vento do Espírito Santo toma sua vida, revelando a ele um Deus que o amava com um amor devorador, que o desejava até o ciúme. Esta descoberta o leva a responder a este Amor e a fundar a Comunidade Católica Pantokrator que hoje, diante de um mundo marcado pela infidelidade, tem o chamado de responder a esse Amor Ciumento do Pai com a certeza de que, quaisquer que sejam as condições, os filhos dessa vocação Lhe serão fiéis até o fim (3).
Essas são pessoas comuns, que se deixaram encher desse vento e, a partir disso, mudaram nossa história, nos trouxeram beneficíos que nos levam para a eternidade.
Temos em nós a potência de Deus que se chama Espírito Santo. Que Maravilha saber que este vento foi soprado em nós. Ele habita em nós! É Deus em nós. Essa potência não pode ficar contida, guardada, mas precisa se expandir em nós, como o vento que não pode ser contido, porque é dinâmico, possuindo cada parte do nosso ser, a cada instante.
Que essa seja a nossa meta para este ano de 2009: dar liberdade ao Espírito para que Ele oxigene nosso ser, para sairmos de nossa paralisia espiritual.
(1) ‹ https://www.apcb.org.br/paralisia.asp ›, acesso em 11 janeiro 2009.
(2) Cf. J. ALVES, “Os Santos de cada dia”, São Paulo, Paulinas, 2004.
(3) Cf. Regra de Vida do Carisma El Shaddai Pantokrator, n. 62.
Marciléia Hinckel
Consagrada na Comunidade Católica Pantokrator