Outro dia, li num destaque de jornal: “casal super empreendedor”. O destaque me chamou a atenção e o assunto também… Dei continuidade à leitura e o empreendimento de que se tratava era produção e venda de Macaxeira Recheada, um pequeno negócio.
Poucos dias antes de ler essa matéria, tinha recebido um e-mail com várias fotos atuais de Dubai, nos Emirados Árabes, comparando com os mesmos locais dez anos atrás, ou seja, 1998. Uma verdadeira revolução da construção civil. É de espantar o crescimento daquela cidade que atualmente chama a atenção do mundo inteiro por suas imponentes construções com design e arquiteturas arrojadíssimas. Sou forçado a usar o superlativo para tentar expressar com clareza o que acontece lá.
O que vemos de igual por trás das duas situações?
As diferenças monetárias de investimentos são “astronômicas”, mas o espírito que move as duas situações é parecido. Em ambos os casos, se está empreendendo. As duas situações nos permitem acreditar que para empreender não é necessário nada além de decisão e ação. Ou seja, trata-se de uma atitude comportamental em que podemos refutar as teses dos pessimistas de plantão, que reduzem a ação de empreender a inúmeras condições de recursos humanos e materiais.
É obvio que, para determinados empreendimentos, os recursos são necessários, mas também é verdade que muitos gozam de recursos, porém, não possuem o “espírito empreendedor” e, sem este, nada vai acontecer. Mas com ele, mesmo sem recursos iniciais, o empreendimento pode acontecer.
Trazendo a idéia do espírito empreendedor para a ótica cristã, o assunto se alarga em alta escala, pois no mundo atual, falar em empreender minimiza os pensamentos à obtenção de lucros logo após a ação do empreendimento. Há, inclusive, pseudoempresários que gastam suas energias somente com empreendimentos e projetos cujo objetivo é, depois de inaugurado, vender o negócio para a exclusiva obtenção de lucro com a oportunidade obtida.
Trabalho com responsabilidade social está cada vez mais difícil encontrar nos dias de hoje; porém, apesar dessa visão, não acho que seja generalizado, pois encontramos ainda empresários que se esforçam por manter negócios que, se trocados por investimentos em bancos, trariam maior resultado financeiro.
O lucro, resultado de empreendimentos particulares com essa finalidade, não é pecado. Aliás, trata-se de um direito do homem que dedicou esforços e recursos para obtê-lo. O mau uso do lucro, este sim, pode ser ocasião de queda e perdição.
O cristão empreendedor deve se perguntar constantemente se o que está fazendo com o resultado é do agrado e da vontade de Deus. Essa reflexão não pode ser egoísta nem hedonista, em virtude da carência de empreendedores conscientes, pois são eles que geram empregos e movimentam a economia, sendo isso, no cenário atual, um fator de extrema importância na sociedade.
É importante recordar que empreender nem sempre é sinônimo de criar empresas, gerar empregos e obter lucros. Empreender é também agir em favor de algo que deve acontecer no ambiente em que se está. Resolver um problema de ordem comunitária é empreender, bem como a organização de algo para melhorar uma atividade e fazer com que ela aconteça de forma mais funcional e eficaz. Toda ação nesse sentido é uma ação empreendedora.
Mas, quais características deve ter um empreendedor? Afinal, o que se passa no coração do homem que deseja empreender? Que desafios vai encontrar?
Antes de lidar com isso, vejamos dois pontos importantes sob a ótica católica no que tange a empreender.
1º – Todo empreendimento deve estar serviço do homem.
A Encíclica Populorum Progressio, de Paulo VI (1967), nos ensina que os empreendimentos que o homem realiza devem “reduzir desigualdades, combater discriminações, libertar o homem da servidão, torná-lo capaz de, por si próprio, ser o agente responsável por seu bem-estar material, progresso moral e desenvolvimento espiritual. Dizer desenvolvimento é, com efeito, preocupar-se tanto com o progresso social como com o crescimento econômico. Não basta aumentar a riqueza comum para que ela seja repartida equitativamente. Não basta promover a técnica para que a terra possa ser habitada de maneira mais humana.”
2º – Fidelidade a Cristo e Sua Igreja
Lendo “Filotéia”, de São Francisco de Sales, encontrei um Capítulo inteiro que trata da fidelidade devida a Deus tanto nas coisas pequenas quanto nas grandes. Serve-se o autor de inúmeras situações cotidianas da vida em que devemos ser fiéis. O mesmo deve ser considerado quando estamos empreendendo algo. Ser fiel é não se deixar levar por situações que desviem o empreendedor da vontade de Deus. É ter a clara convicção de que o que importa é manter os valores cristãos nos objetivos, meios e fins, e com firme propósito de cumpri-los. Tendências que ferem a moral e bons costumes são facilmente inculturadas no dia a dia se não temos o desejo de fidelidade. Buscar conhecer mais os assuntos que envolvem o empreendimento é sair da ignorância que muitas vezes leva ao erro que, mesmo que involuntário, traz conseqüências indesejadas.
O empreendedor costumeiramente possui o perfil listado abaixo. Talvez não todos, mas alguns, com certeza.
Vale ressaltar que são características naturais na personalidade de uma pessoa, mas que, mesmo não as possuindo, é possível desenvolvê-las. O tema não se esgota nisso, mas esses pontos são os mais marcantes:
Visão – Está sempre com os olhos voltados para frente, para as oportunidades que se apresentam. Enxerga tudo e com amplo raio de alcance; e vai encontrar pontos positivos e negativos; os positivos o impulsionam e os negativos existem para ser superados e vencidos.
Foco, entusiasmo e paixão – Não se desvirtua de seus objetivos. É concentrado onde quer chegar e para isso se torna protagonista do empreendimento. Dedica-se como se tudo dependesse de si e se entrega por completo para alcançar os objetivos. Transmite “vida” quando fala sobre o assunto e contagia de ânimo os mais céticos quanto ao empreendimento.
Resiliência e tenacidade – Não se dá por derrotado nos percalços. Tem a performance de um elástico, que retorna à condição inicial após ser esticado. É firme nos propósitos e nas frustrações; insucessos e fracassos não mudam seu vigor para realizar o empreendimento. Tem nas experiências negativas o sentimento de ter aprendido mais.
Missão – Muito mais do que um desejo que vem ao coração, o empreendedor deve ter consciência de que é uma missão a ser assumida e que não pode fugir. Não empreende por fuga ou status; a fuga de uma situação incômoda não justifica um empreendimento, bem como o status e a supervalorização do empreendedor não devem ser a motivação para se fazer algo.
O diferencial do empreendedor cristão: não deve empreender sem depender
Depender de Cristo, da vontade do Pai para sua vida, do Espírito Santo que dá toda a graça para isso. A dependência do alto é frutuosa para que o homem de Deus não se torne orgulhoso do empreendimento realizado.
A dependência de Deus o faz crer que, se não fosse por intervenção divina, o empreendimento não aconteceria.
O Espírito Santo é aquele que leva o homem a fazer coisas que outrora não se achava capaz de fazer. Veja o apóstolo Pedro em Atos 2: num momento, era o covarde que negou Cristo e estava trancado no cenáculo; porém, logo após receber o Espírito Santo em Pentecostes, sai destemidamente para anunciar a Cristo e converte a muitos.
O empreendedor transforma idéias em realidades e não descansa enquanto aquilo que pretende não for alcançado. Se fizer isso segundo os valores cristãos, o mundo todo será mais santo.
O lugar para empreender é o seu lugar! Seja em política, trabalho, empresa, escola, igreja, clube ou lar, todo ambiente é favorável para mudanças.
O mundo precisa de homens e mulheres que empreendam o Reino de Deus. Jesus conta com você!
Rogério F. S. Cardoso
Consagrado na Comunidade Católica Pantokrator