Discernir o estado de vida

Como discernir o estado de vida

Nós estamos aqui, nesse encontro de Novas Comunidades, e que tem como tema os estados de vida, para refletir sobre essa realidade dentro das novas comunidades e que é uma surpresa do Espírito Santo na Igreja. Homens e mulheres, em todos os estados de vida (casados, celibatários, sacerdotes e solteiros) que consagram sua vida dentro de uma mesma comunidade.
No mundo em que esta realidade foi desfigurada pelo maligno, o Espírito Santo faz surgir homens e mulheres que, em todos os estados de vida, consagram sua vida a Deus, como que, uma reação do Espirito na Igreja. Homens e mulheres que vivem sua sexualidade, sua capacidade de amar, segundo o projeto de Deus.
Nós temos a capacidade de viver o amor, talvez o maligno aponte em nós uma mentira dizendo que você não é capaz de amar, de viver uma relação fiel, de consagrar sua vida. Se Deus te chama a uma realidade, seja ela qual for, e é uma realidade de amor, tenha certeza de você é capaz sim de realizá-la. Você foi criado para amar e o Espírito Santo nos dá a graça de amar. As Novas Comunidades são chamadas a anunciar essa verdade que está no coração de Deus.
Em minha comunidade temos inúmeros casais, com seus desafios e dificuldades, mas que têm vivido o projeto de Deus para o seu matrimônio. Assim como os celibatários. Nós cremos na Palavra de Deus e não na palavra do mundo, que proclama a falência do amor humano.
Hoje estamos aqui para proclamar que o amor humano é possivel verdadeiramente. E nós temos uma medida alta sobre o amor, segundo o projeto de Cristo no Evangelho. O amor não é prazer, apenas, é entrega, sacrifício, doação, desejo de existir para o outro. E as nossas comunidades precisam formar seus membros para viver esse amor.
O carisma é uma grande graça, e aqui está o grande diferencial do Espírito Santo, que é dar um carisma para que os homens e mulheres vivam seus estados de vida dentro desse carisma.
São três os estados de vida que se movem dentro da Igreja: o matrimônio, o celibato e o clerical. Existem outras realidades particulares, mas os estados de vida são realmente esses três.
Mas o que é um estado de vida? Primeira coisa, é uma vocação. Não é uma mera escolha humana, onde eu decido e quero viver de uma determinada maneira, mas é um chamado.
O estado de vida, minha vocação, é uma forma através da qual eu vou fazer um perene encontro com Cristo. E, por isso, viver um estado de vida significa fazer uma experiência de Cristo naquela maneira de viver. E aqui está um ponto para o discernimento do estado de vida. De que maneira você faz melhor a experiência de Cristo?
Eu sou casado e testemunho pra vocês que meu matrimônio tem sido para mim uma experiência de Cristo. Quando vivemos o princípio, aquilo que está no coração do Pai, o sonho de Deus, nós fazemos ali uma experiência viva, santificadora, de conversão. E isso não é mera emoção, mas é muito mais. É a experiência do dar-se com Cristo e para o outro. É a experiência de encontrar a verdadeira realidade humana, no ato de dar-se para alguém que Deus colocou ao seu lado, para que você gaste sua vida por ela.
O estado de vida é um lugar da experiência de Cristo, não é lugar de mero romantismo. Esta é uma realidade que desfigurou o matrimônio, a realidade romanticista, onde o homem simplesmente considera suas relações humanas como afeto, paixão, e desconsidera o amor. O amor pressupõe doação. As pessoas se casam querendo viver a emoção de uma paixão. A paixão está dentro da relação, mas pode não estar em um determinado momento.
Um estado de vida se trata de um dom de Deus e de uma decisão humana. Se trata do encontro da liberdade de Deus que chama e da liberdade do homem que responde. Portanto é uma resposta.
Muitas vezes as pessoas ficam esperando uma resposta de Deus, sendo que a resposta é minha. As pessoas esperam coisas extraordinárias para tomar uma decisão sobre sua vocação. Enquanto sou eu que preciso dar minha resposta para que Deus me mostre sua vontade.
A vocação é uma realidade estável. Estado de vida é um “ser estável”, quer dizer que é uma maneira estavel de existir. Não é que hoje sou casado, amanhã não sou, o matrimonio não é indelével. Mas hoje a minha identidade é intrinsicamente configurada a este estado. A minha vocação não está “ao léu” das emoções e sentimentos.
O estado de vida é um dom e eu respondo a este dom por assumir a esta maneira de viver. Enquanto uma existência estável. No matrimônio, por exemplo, é feito sob a graça do Sacramento e não está sujeito às emoções e às paixões. Mas é uma decisão de viver de determinada forma. Não é mero sentimento, é decisão.
E talvez esta seja uma das coisas mais importante: o estado de vida é uma maneira de servir ao Reino de Deus, de servir a Cristo.
Qual a melhor maneira, onde eu sou feliz, servindo ao Reino de Deus? O Reino de Deus é a maneira em que você vai servir a Deus, em que você vai amar, vai construir o Seu Reino. Isso é muito importante, porque muitas vezes, no discernimento do estado de vida, pensamos “de que maneira vou ser feliz? Realizar meus sonhos. Qual a melhor maneira de eu receber amor?” Mas é o contrário. O estado de vida é uma missão, a pergunta correta é: “qual a maneira que você vai ter uma existência doada, que você vai servir?”.
É uma maneira específica de gastar a vida, não é a maneira de viver meus sonhos. Essas coisas vem por acréscimo da busca do Reino de Deus. Se vivemos o nosso sacramento enquanto, realmente, uma configuração a Cristo, uma maneira que eu vou amar a Cristo, essas coisas vem por acréscimo segundo a vontade de Deus.
Haverá um tempo em quem a vivência do estado de vida não trará emoção nenhuma, mas será apenas doação. Em que o romantismo, a emoção passará. Viveremos o deserto onde deixamos coisas superficiais, para possuirmos coisas essenciais.
O discernimento do estado de vida é muito importante. Enquanto a pessoa não discerne seu estado de vida, ela permanece instável, tende a ter um fator de instabilidade e, portanto, em nossa maturidade humana é fator fundamental que se tome uma decisão por um estado de vida.
O discernimento no estado de vida não é simples escolha, mas é a descoberta da vontade de Deus e a capacidade de decidir por ela. O termômetro do discernimento não são renúncias de uma determinada vocação. Você não discerne seu estado de vida, vocação, pautado em renúncias que esta vocação te impõe. É preciso tomar muito cuidado, porque o ponto para se discernir uma vocação é a realização humana em Deus. Vivemos, muitas vezes, renúncias, mas fazendo nela a experiência de Cristo você é feliz. Não temos que ponderar o discernimento da vocação em uma felicidade egoista, mas o encontro existencial, motivo pelo qual fui criado e, fomos criados para amar, e nesta maneira, com suas renúncias, eu sou feliz.
É interessante que, muitas vezes, é ali nesta renúncia que está sua experiência mais íntima de Cristo. Fazendo o que minha humanidade não gosta, no vazio de minha humanidade que faço a autêntica experiência de Cristo.
O inimigo nos acusa, dizendo que não somos capazes de viver a vontade de Deus, que não somos capazes de viver a castidade, o matrimônio, de viver numa comunidade, de ser santo… muitas vezes nós damos maior importância a nossa humanidade, nossa miséria, do que à graça de Deus. Se Deus te chama, a graça Dele te capacita a viver, Se Ele te chama, dê a reposta. Tenha a ousadia de dar a resposta.
Nós temos que exigir, em nossa vocação, o compromisso de santidade e fé na Graça que me santifica. O que nós devemos fazer não é dizer “eu não sou santo”, mas entender que sou chamado à santidade, mas estou encaminhada a esta realiadde que eu ainda não conquistei, porém isso não me acusa, isso não denigre a minha dignidade. São coisas sutis, mas grandes, entender suas fraquezas, mas ver a misericórdia de Deus.
Quando falamos em discernimento de estado de vida, falamos da busca da vontade de Deus. Ela precisa ser escutada (sobretudo na oração), discernida (e não decidida), buscada, obedecida e concretizada.
Jesus era um perseguidor da Vontade de Deus, mais que isso, em João 4, 34 ele diz: “Meu alimento é fazer a Vontade do Pai”.
Para o discernimento de uma vocação é preciso amar, perseguir e sobreviver da vontade de Deus. Nós temos que ser amantes da vontade de Deus e, a partir dela, em nossas vidas, nós vivermos aquilo que está dentro da Sua Vontade. Isso é importante porque, muitas vezes, as pessoas centram as coisas da sua vida, até mesmo as profissionais, como se fossem o centro da sua vida.
Jesus, em uma passagem de São João 12, 27, diz: “Pai, salva-me desta hora? Mas, precisamente para esta hora que eu vim”. Nós temos que entender qual é a minha hora. Eu estou nesse mundo para fazer a vontade de Deus, e dentro dela está tudo o que configura minha vida.
Somente quando tivermos esse compromisso, seremos capazes de viver as exigências de Deus dentro do nosso estado de vida porque, muitas vezes, nós enquadramos nossas vidas dentro de uma realidade que nós queremos e que não é a vontade de Deus. Jesus se alimentava da vontade de Deus.
É justamente nessas exigências do amor, da nossa vocação, do nosso estado de vida, que nós fugirmos e quando isso acontece não fazemos a experiência de Cristo que não faz conhecer a experiência de nossa vocação.
Na hora difícil nós temos que amar profundamente a vontade de Deus e sendo verdadeiramente alimentados pela Vontade Dele nas exigências da minha vocação, do meu estado de vida, da minha comunidade. Precisamos sobreviver da vontade de Deus. E quando essa vontade se manifesta é preciso assumi-la.

São quatro elementes para o discernimento do estado de vida.

    • 1- Ver o que Deus move no coração.

Vivemos numa sociedade barulhenta, muitas vezes não conseguimos estar no silêncio. Precisamos aprender a viver o silêncio do profundo encontro com aquilo que Deus está movendo no coração. É o silêncio de não ficar distraído com as situações.

    • 2- Ver os sinais de Deus.

O que Ele está falando pelos fatos, pessoas e sua Palavra. Para discernir um estado de vida é preciso destreza e atenção aos sinais. Não dá para se apegar a um sinal apenas e entender como vontade de Deus. É preciso pegar outros elementos, o que está no meu coração, na minha história. Observar os sinais que Deus está dando.

    • 3- Ponderar os frutos daquela decisão.

Essa decisão gera paz e serenidade ao meu coração?

    • 4- Submeter o discernimento a um diretor espiritual ou a um formador.

É preciso ponderar esses quatro pontos para se tomar uma decisão. E quando você constatar é preciso tomar a decisão e se responsabilizar pelo que você decidiu.

O papel da comunidade no discernimento é:

  • 1- Orientar a pessoa para a vontade de Deus. Ajudá-la a perceber a vontade de Deus e decidir por essa vontade. Não é decidir por ela.
  • 2- Acolher ou não, a decisão do estado de vida da pessoa. E entender que, se eu faço a experiência pascal de Cristo na comunidade eu vou levar essa riqueza para minha família. Casais que vivem na comunidade e não vivem a experiência pascal de Cristo na comunidade é um desastre, porque o tempo que se tira para a comunidade não é compensado por uma vivência amorosa na família. Quando vivemos a experiência pascal, eu estou ali em minha casa para me dar à minha família. E uma experiência bem vivida em minha família, me leva a uma boa experiência na comunidade. Então acontece uma complementariedade, tanto na comunidade, como na família.

Vocação, estado de vida, é lugar de ser feliz.
Nas exigências, nos sacrifícios, é o lugar da “sua hora, mas é precisamente para isso que eu vim”. É lugar da sua paixão, da sua morte, mas, também, da sua ressurreição, de viver o amor, a vontade de Deus. Tudo isso, se vivermos a experiência pascal em nossa vocação.

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Respostas de 6

  1. Muito linda e ungida esta formação. Era justamente o que precisava ler, pois estou discernindo meu estado de vida. Que Deus abençoe a Comunidade Pantokrator.

  2. Discernir o estado de vida realmente é necessário para fazer a vontade de Deus, e ler artigos como este nos ajudam a esclarecer tbm as dúvidas que temos. Palavras muito sábias, sou grata a Deus pelo sim de vocês. Deus abençoe! 🙂

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