Hoje, a Igreja alegra-se ao constatar o renovado cumprimento das palavras do profeta Joel: ‘Derramarei o Meu Espírito sobre toda criatura…’ (Atos 2, 17). Vós aqui presentes sois a prova palpável desta ‘efusão’ do Espírito. (…) Quero bradar: Abri-vos com docilidade aos dons do Espírito! (…) E eis, então, os movimentos e as novas comunidades eclesiais: eles são a resposta, suscitada pelo Espírito Santo, a este dramático desafio do final de milênio. Vós sois esta resposta providencial. (…) Desde o início do meu Pontificado, atribui especial importância ao caminho dos Movimentos Eclesiais…Pude indicá-los como novidade que ainda espera ser adequadamente acolhida e valorizada. (…) Damos graças ao Senhor por esta primavera da Igreja suscitada pela força renovadora do Espírito” (1).
Neste memorável e histórico encontro de João Paulo II com os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades, percebemos claramente em todo o seu discurso e de modo especial neste trecho acima citado a valorização e o peso de esperança que o Santo Padre colocava nestas novas formas de vida evangélica e que foi ratificada por seu sucessor, Bento XVI. Todo esse reconhecimento e esperança depositados trazem para nós, membros de Novas Comunidades a grande responsabilidade de sermos dóceis e fiéis àquilo que o Espírito suscita em nosso tempo e àquilo que querem de nós nossos pastores.
Sabemos que o Espírito Santo vem em nosso auxílio, em auxílio da Igreja em suas diversas necessidades e desafios em função de sua missão no mundo e através dos séculos. As Novas Comunidades ou Comunidades Novas ou ainda Novas Fundações, conforme as nomeia João Paulo II na Exortação “Vita Consecrata” constituem, sim, uma nova esperança para a Igreja, porém, sem ser novidade exclusiva, essas novas formas de vida na Igreja vêm se agregar àquelas já consagradas ao longo da história da própria Igreja. As Novas Comunidades não vêm substituir algum modelo falido ou que não deu certo, pelo contrário, vem somar com aquilo que existe na Igreja, a fim de incrementar, pela ação do Espírito Santo que as suscita, sua missão evangelizadora no mundo.
“Estas novas associações de vida evangélica não são uma alternativa às anteriores instituições, que continuam a ocupar o lugar insigne que a tradição lhes conferiu. Também as novas formas são um dom do Espírito, para que a Igreja siga o seu Senhor, num ímpeto perene de generosidade, atenta aos apelos de Deus que se revelam através dos sinais dos tempos. Assim ela apresenta-se ao mundo, diversificada nas suas formas de santidade e de serviços, como sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (2).
Como não há, ainda, disposições canônicas e jurídicas específicas para as novas formas de Vida Consagrada nas Novas Comunidades, aguardamos em espírito de expectativa e obediência, e enquanto isso não vem a ocorrer, somos regidos pela norma canônica vigente como associação privada de fiéis (3). Mas, voltando à afirmação inicial de João Paulo II “Vós sois resposta providencial do Espírito”, começamos a compreender porque Deus suscitou nos últimos anos, principalmente pós-Vaticano II, um grande número de Novas Comunidades e Movimentos em todo o mundo. Toda essa primavera da Igreja é resposta do Espírito aos novos desafios em que a Igreja e os cristãos foram e são submetidos nestes tempos. Tempos que exigem novos métodos, novas formas e novo ardor missionário para ser verdadeiramente resposta à altura daquilo que somos inquiridos de forma cada vez mais incisiva neste tempo de secularização e até mesmo paganização das culturas e nações.
As Novas Comunidades são resposta providencial na medida em que, providenciadas pela iniciativa Divina, vêm de encontro a um mundo em crise de fé, esperança, caridade, obediência, pobreza e castidade. Com suas características e vivências próprias e originais, elas trazem um sabor do novo com novas esperanças e são sinal vivo da perene juventude da Igreja rejuvenescendo a prática das Virtudes Teologais e dos Conselhos Evangélicos. Aqui está, também, mais uma profecia na vocação das Novas Comunidades.
É necessário reconhecer e acolher essa nova e maravilhosa forma de Deus agir na Igreja, no mundo e na história, como bem frisou João Paulo II em seu discurso citado acima: “Pude indicá-los como novidade que ainda espera ser adequadamente acolhida e valorizada…. Damos graças ao Senhor por esta primavera da Igreja suscitada pela força renovadora do Espírito.”. Contudo, creio que, também as Novas Comunidades devem passar por suas provas naturais e sobrenaturais. A grande explosão de surgimento dessas novas formas de vida evangélica no mundo e de modo especial no Brasil onde se concentra hoje, o maior número delas, em primeiro lugar é sinal dessa ação de Deus e, por um outro lado, eu compararia à parábola do trigo e do joio (4) que no seu devido tempo, passadas as provas que Deus permitir, aquilo que é joio disfarçado de comunidade irá ceder lugar para os verdadeiros Carismas. É necessário dizer isso, pois há muita iniciativa humana em nosso meio e outras até malignas! Por este motivo não se pode julgar todas as comunidades a partir de experiências negativas de algumas aqui e acolá. Por isso é que está nas mãos de nossos bispos o múnus de discernir os verdadeiros carismas na Igreja. É a eles que humildemente nos submetemos.
A beleza desta nova primavera na Igreja suscitada pelo Espírito através dos Movimentos e Novas Comunidades também é testemunhada e se torna profecia na dimensão formativa e missionária em que vivem. É verdadeiramente um novo ardor missionário incrustado no tecido eclesial. D. Stanislaw Rilko, Presidente do Conselho Pontifício para os Leigos, disse em uma entrevista à Radio Vaticano, por ocasião do Primeiro Encontro de Novas Comunidades Eclesiais da América Latina, acontecido em Bogotá, em março de 2006, que “hoje há muitos falsos mestres que enganam com promessas baratas de felicidade. Os movimentos eclesiais e as novas comunidades são uma resposta do Espírito Santo para este grande desafio de nossos dias, pois são itinerários pedagógicos de formação dos cristãos adultos na fé, e itinerários de descoberta de Cristo como único Mestre e Senhor… Os movimentos e as novas comunidades, como nos ensinou João Paulo II, e como nos ensina hoje Bento XVI, trazem à Igreja um impulso missionário muito forte. Têm uma incrível valentia missionária.” Bento XVI corroborou tudo o que disse João Paulo II a respeito das Novas Comunidades e tem pedido nossa colaboração. Eis aí nossa grande responsabilidade: sermos colaboradores no ministério apostólico do Santo Padre e instrumentos de um renovado Pentecostes em nosso tempo!
E para finalizar essa pequena reflexão sobre as Novas Comunidades se faz necessária uma atenção especial ao que diz sobre o assunto o documento de Aparecida: “Os novos movimentos e comunidades são um dom do Espírito Santo para a Igreja. Neles, os fiéis encontram a possibilidade de se formar cristãmente, crescer e comprometer-se apostolicamente até ser verdadeiros discípulos missionários. Assim exercitam o direito natural e batismal de livre associação, como indicou o Concílio Vaticano II. Os movimentos e novas comunidades constituem valiosa contribuição na realização da Igreja Particular. Por sua própria natureza, expressam a dimensão carismática da Igreja: ‘Na Igreja não há contraste ou contraposição entre a dimensão institucional e a dimensão carismática, da qual os movimentos são expressão significativa, porque ambos são igualmente essenciais para a constituição divina do Povo de Deus’ (Bento XVI, Discurso, 24 de março de 2007)… Neles ‘podemos ver a multiforme presença e ação santificadora do Espírito’. É verdade que os movimentos devem manter sua especificidade, mas dentro de uma profunda unidade com a Igreja particular, não só de fé, mas de ação” (6)
Que Maria, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos nos conduza com sua intercessão ao pleno cumprimento da vontade de Deus na plena comunhão com a Igreja de seu Filho Jesus Cristo.
(1) Discurso de João Paulo II na Vigília de Pentecostes e do Congresso mundial no Encontro do Santo Padre com os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades – 30/05/1998
(2) João Paulo II, Exortação Apostólica Vita Consecrata, 62.
(3) Cf. cânones 298 – 311.
(4) Cf. Mt 13, 24-30.
(5) Homilia no II Encontro Mundial dos Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades com o Santo Padre – 03 de Junho de 2006 ,Praça de S. Pedro.
(6) Documento de Aparecida, ns. 311-313.
Italo Fasanella
Fundador e Moderador Geral da Comunidade Sagrada Família – SP
Extraído do Livro “Novas Comunidades: uma resposta providencial do Espírito Santo” – Organizadores: Reinaldo Lucena e Italo Fasanella)