Comunhão e Libertação (CL) é um movimento eclesial fundado por padre Luigi Giussani (1922-2005), educador e intelectual italiano, cujas origens remontam a 1954. Surgiu na cidade de Milão e, depois de ter-se difundido rapidamente por toda a Itália, hoje está presente em cerca de setenta países em todos os continentes.
CL se auto-define um movimento porque não se configura antes de mais nada como uma nova organização ou estrutura (não há ficha de inscrição), nem como insistência especial sobre algum aspecto ou prática particulares da vida de fé, mas sim como um chamado a viver no presente a experiência cristã própria da Tradição. A vida de CL tem o objetivo de propor a presença de Cristo como única resposta verdadeira às exigências profundas da vida humana de todos os tempos. Na pessoa que encontra e adere à presença de Cristo gera-se um movimento de conversão e testemunho, o qual tende a incidir no ambiente em que essa pessoa vive (família, trabalho, escola, bairro, sociedade etc.).
Tendo nascido na escola como proposta para os jovens, CL dirige hoje o seu chamado de atenção a qualquer pessoa, sem distinção de idade, de ocupação e de posição social.
O Carisma
A essência do Carisma dado a Comunhão e Libertação pode ser indicado por três fatores:
– antes de tudo, o anúncio de que Deus Se tornou homem, companhia histórica para o nosso caminho de homens.
– em segundo lugar, a afirmação de que este Homem – Jesus de Nazaré Morto e Ressuscitado – é um acontecimento presente num “sinal” de “comunhão”, isto é, de unidade de povo guiado como garantia de uma pessoa viva, tendo como cabeça o Bispo de Roma;
– terceiro fator: somente no Deus feito homem, por isso somente na Sua presença (portanto, em última instância, somente dentro da vida da Igreja), o homem pode ser homem mais verdadeiro e a humanidade pode ser realmente mais humana. Escreve São Gregório Nazianzeno: “Se não fosse teu, meu Cristo, me sentiria criatura finita”. E, portanto, é da Sua presença que brotam com segurança a moralidade e paixão pela salvação do homem (missão).
Três dimensões da experiência cristã
CL se tornou muito conhecido por valorizar três dimensões constitutivas do Cristianismo. São elementos presentes em todas as realidades eclesiais maduras. Contudo, o cuidado em ter essas dimensões sempre presentes em seu caminho, deu a CL um perfil peculiar dentre os movimentos eclesiais. São:
1) Cultura: verificação da experiência, ação política, ecumenismo
A vida do movimento sempre foi caracterizada por uma fecunda atividade cultural. Essa vivacidade não se origina de um privilégio dado à cultura entendida como sistematização intelectual ou aprofundamento livresco de argumentos de caráter religioso ou ligados à vida cristã. É uma coisa completamente diferente. A vivacidade cultural de CL, expressa em mil tipos de iniciativa, nasce muito da paixão por verificar a capacidade da fé cristã de oferecer um critério mais fecundo e completo para ler a realidade e os fenômenos. A sugestão de São Paulo: “Examinai tudo e abraçai o que for bom” continua a ser para CL a melhor definição do valor cultural: tudo, de fato, pode ser encontrado e enfrentado tendo como critério a clareza acerca do homem trazida pela Revelação cristã e, por causa desse critério, de tudo se pode tirar e valorizar o que é verdadeiro e bom.
Desse modo, nasceram dentro e fora da Itália centenas de centros culturais, dezenas de escolas livres, promovidas geralmente por cooperativas de pais; surgiram casas editoriais, realizaram-se atividades editoriais e jornalísticas, promoveram-se Institutos e Fundações de nível acadêmico, congressos internacionais (como o “Meeting para a amizade entre os povos”, que acontece todos os anos em Rímini e chega a contar com um milhão de pessoas), que envolveram os nomes mais ilustres da cultura internacional e debateram os temas mais quentes e autênticos do momento.
2) Caridade: a gratuidade como lei, a obra da caridade
A proposta da caritativa não é organizar ações filantrópicas ou ter a pretensão de oferecer, com iniciativas sociais, respostas exaustivas a necessidades muitas vezes grandes e complexas, mas sim aprender, através da fidelidade a um gesto exemplar, que a lei última da existência é a caridade, a gratuidade. O hábito de tratar tudo com gratuidade: eis o que o Cristianismo trouxe ao mundo, contra qualquer atitude de posse egoísta.
Dessa “escola” de gratuidade nasceu na Itália e no mundo, por livre iniciativa e sob a responsabilidade das pessoas de CL ou graças à sua colaboração, uma série enorme de pequenas ou grandes atividades com objetivo caritativo, nos mais diversos campos: o acolhimento no interior das famílias de pessoas com dificuldades até a criação de verdadeiras casas-família para os casos difíceis (toxicômanos, débeis mentais, deficientes, portadores de AIDS e doentes em fase terminal); a criação de obras dedicadas à inserção de pessoas deficientes no trabalho; a fundação de organismos não-governamentais para projetos de desenvolvimento e de assistência nos países pobres (por exemplo, na Itália, a AVSI, entidade reconhecida pela ONU, e, na Espanha, o CESAL); a constituição de fundações como o Banco Alimentar (que fornece o alimento cotidiano a mais de quinhentos mil pobres na Itália a partir do excesso de produção alimentar de médias e grandes indústrias); a criação de Centros de Solidariedade, onde se oferece ajuda para a busca de trabalho para jovens (e não jovens) desempregados; a assistência nas prisões para menores da África e da América Latina; ou o simples sustento econômico de famílias em dificuldade.
3) Missão: um testemunho católico
A missão no próprio ambiente em que se vive e o testemunho a que o movimento convida são entendidos antes de mais nada como oferta da própria disponibilidade a Cristo, mais do que como capacidade de iniciativa ou de estratégia de comunicação. A missão no ambiente, com efeito, não nasce de uma intenção ou de uma bravura que se mostra, mas da simplicidade com a qual se adere com tudo de si à atração do fato cristão. Nesse sentido a missão se identifica com a presença. O testemunho da pessoa mudada, e de uma vida comunitária, documenta a novidade do fato cristão.
Com esse perfil, mais do que se preocupar com a sua difusão, CL sempre entendeu a sua missão como serviço à missão da Igreja e como possibilidade de chamar a atenção para a experiência cristã em cada ambiente de estudo ou de trabalho em que as pessoas que dele participam se encontram, em qualquer parte do mundo.
Francisco Borba Ribeiro Neto