O sofrimento é algo inerente à vida, mas a maneira como o encaramos faz toda a diferença! Alguns sofrem mais, outros menos, porém muitas vezes encontramos pessoas do “grupo das que mais sofrem” dando-nos uma grande lição de vida!
“(…) No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo.” (Jo 16,33)
Para ajudar nesta reflexão de como você lida com os sofrimentos, vamos listar alguns dos mais comuns: dores físicas, doenças, desconfortos como a falta de infraestrutura urbana e o convívio com a poluição. Ser vítima de violência ou catástrofes, passar necessidades – como fome, não ter vestimentas adequadas. Há também sofrimentos como a solidão, a dor do abandono, da traição, da perseguição, da ridicularização, da injustiça e da saudade. Dor por ver nossos entes queridos feridos por algum motivo.
Há o sofrimento daqueles que tem enorme dificuldade de se perdoar, de perdoar os outros ou conseguir o perdão de outrem. Parece algo “bobo”, mas muito sofrem ao se deparar com as próprias limitações cotidianos, como vencer o mau humor, o perfeccionismo, falta de organização, dificuldade de lidar com a pressão no trabalho ou até mesmo de conviver com as diferenças e se adaptar às mudanças da vida.
Diante destas dificuldades tão diversas, encontramos várias tendências de “fugas”. Acredito que ao identificar seus principais sofrimentos, automaticamente você identifique a maneira com que lida com cada um deles. E, provavelmente reconheça “sintomas” como: lamúrias, conexão excessiva com as redes sociais, comer, beber ou dormir mais do que o necessário, protelação de responsabilidades, cultivo de algum vício, mentir para encobrir algo que deveria ter sido feito e não foi realizado, busca excessiva de qualquer coisa que dê prazer.
Outra forma de fuga é não estar por inteiro no momento presente: ficar estagnado no passado, por ter sido tão bom, ou tão trágico. O mesmo acontece quando nos prendemos demais às expectativas do futuro ou quando este nos provoca um medo além do comum. Você parou para pensar que fugir não resolve os problemas? Somente disfarça o incômodo! E muitas vezes, estes excessos que buscamos trazem consequências negativas, ou seja: novos problemas! Portanto, a solução é encarar os desafios.
O neuropsiquiatra Viktor Emil Frankl é uma grande referência para este assunto. Sobrevivente a quatro campos de concentração, aprendeu com a vida e nos deixou um legado que tem revolucionado as ciências humanas por meio de seus escritos e sua história! Ele nos ensina sobre a resiliência: capacidade de passar pelas adversidades e “se refazer”, se recuperar, adaptar-se, “dar a volta por cima”: “O fator determinante é decisão. A liberdade de escolha, de tomar uma decisão, de tornar-se quem quer ser, apesar das circunstâncias, as quais, só em parte, determinam o nosso comportamento”. (Victor Frankl)
“Quando a circunstância é boa, devemos desfrutá-la; quando não é favorável devemos transformá-la e quando não pode ser transformada, devemos transformar a nós mesmos”. (Victor Frankl)
O valor do sofrer
Os santos nos ensinam sobre o a significância do sofrer para o nosso amadurecimento espiritual. São Paulo nos ensina: “Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja.” (Col 1, 24). Além do apóstolo, Santa Teresinha é um grande exemplo de quem se uniu ao Sofrimento de Cristo nas pequenas e grandes tribulações, especialmente em sua doença (tuberculose), que lhe ceifou a vida. Tendo consciência da eficácia redentora do sofrimento, soube aproveitá-la para benefício de sua própria alma e de inúmeras outras.
Veja o que está reservado àqueles que sofrem em Unidade com o Senhor: “(…) E ele me disse: ‘Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro. Por isso, estão diante do trono de Deus e o servem, dia e noite, no seu templo. Aquele que está sentado no trono os abrigará em sua tenda. Já não terão fome, nem sede, nem o sol ou calor algum os abrasará, porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os levará às fontes das águas vivas; e Deus enxugará toda lágrima de seus olhos”.” (Apo 14b-16)
Como encarar os sofrimentos
Não se esqueça da sua responsabilidade frente aos fatos da vida, mas não deixe de cultivar sonhos e de buscar as estratégias para realiza-los. “Recalcule a rota” sempre que necessário e não fique estagnado nos problemas, mas utilize-os como “degraus” que te levem onde quer chegar. Cultive amizades, busque momentos de lazer e descanso e valorize sempre o seu potencial.
Victor Frankl nos ensina que é necessário encontrar um sentido para a vida, uma missão que nos motive. Também mostra que o bom humor é “um truque útil para a arte de viver, ajudando a enxergarmos a situação como um todo, ‘fora de nós mesmos’”. “À medida que a pessoa se compreende, torna-se capaz de distanciar-se de si mesma. Por exemplo, diante de impulsos agressivos, a pessoa pode se posicionar e escolher o que fazer, para depois agir”. (Victor Frankl)
Na dor física, Cristo não ficou estagnado, contemplando os pregos que perfuravam seus músculos, nervos, carne. Ele encontrou fortaleza no olhar do Pai, diante dos insultos o foco do seu olhar foi a bela Missão de salvar a humanidade! Santo Estevão, ao ser apedrejado, contemplava a Glória de Deus.
Justamente os desafios e sofrimentos que “ganhamos” da vida são como “chaves”, que nos permitem ter acesso aos corações que enfrentam situações em comum com as nossas. Não temos dimensão do poder que tem nossa história de vida (nossas escolhas frente às situações), para ajudar os que estão à nossa volta, e os que por ventura ouvirem falar sobre nós. Deixemos a eles um belo legado, que glorifique o nosso Bom Deus!
Luiza Torres
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator
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