Por menor que seja o conhecimento que possamos ter a respeito de Deus, sabemos que Ele é Todo-Poderoso e que pode, na benevolência de Sua vontade, transformar o que quiser, afinal de contas, Ele criou todas coisas e tudo está sob Seu senhorio.
Ao lermos o Novo Testamento, é maravilhoso ver quantas curas, milagres e libertações realizou o Senhor Jesus, como nos ensina, por exemplo, São Pedro nos Atos dos Apóstolos: “Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o poder, como ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com ele” (At 10,38). Tantos bens realizou o Senhor “que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever”, nos afirma São João (Jo 21,25).
Pois bem, acreditamos no poder que o Senhor tem de transformar vidas, de realizar milagres e, muitas vezes, anunciamos às pessoas, para que também elas creiam que suas vidas e famílias podem ser alcançadas pela salvação de Cristo. Contudo, será que cremos com a mesma fé que Jesus pode transformar nossas próprias vidas? Acreditamos que sentimentos, vícios, temperamento, modos de agir não condizentes com o Evangelho, posturas que temos podem ser transformados?
A dura verdade, sejamos sinceros com nós mesmos, é que não temos a mesma fé quando se trata de uma transformação que precisa acontecer em cada um de nós, porque tantas vezes nos vemos fracassados em nossas lutas e por nos convencermos de que somos assim mesmo e que não podemos mudar.
Nesse sentimento de impotência, existe uma verdade que nos custa muito aceitar: somos fracos, impotentes, sim, incapazes de nos autotransformar, de nos tornarmos pessoas melhores. Além disso, nossa fraqueza humana revela a verdade de que somente Deus é perfeito, forte, poderoso. Essas duas verdades, no fundo, são uma única e mesma verdade: Deus É (cf. Ex 3,14) e eu, portanto, não sou (nada).
Aceitar essa verdade é algo profundamente reconciliador, pois não há nada mais libertador que o reconhecimento e aceitação da própria verdade. A vida dos santos nos ensina isso, como é muito evidente, por exemplo, na vida de Santa Teresinha do Menino Jesus e na vida de São Paulo Apóstolo.
“Sou apenas uma criança, impotente e fraca, mas é minha própria fraqueza que me dá a audácia para me oferecer coma Vítima ao teu Amor, ó Jesus!” (Santa Teresinha do Menino Jesus, “História de uma Alma”). “Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,9-10).
Deus pode transformar o mal em dom
Não há dúvidas de que Santa Teresinha e São Paulo tiveram suas vidas transformadas por Deus. Não obstante, para que o Senhor os pudesse transformar, eles precisaram, primeiramente, aceitar que eram fracos e necessitados da graça, da Misericórdia Divina. Somado à aceitação da própria condição, tiveram fé no poder de Deus que é capaz de transformar as misérias em dons. É isso mesmo, muito do que há em nós que precisa de conversão, Deus não arrancará, mas transformará.
“Isso é misericórdia [a obra de Cristo na Cruz], é a ação poderosa do amor de Deus que adentra o mal, Deus enfia a mão no mal. O que Ele fez na Cruz? Mergulhado na maldade na Cruz e na maldade humana, Ele desce aos infernos e torce o mal – aí está a misericórdia de Deus –, Ele não o destrói, Ele torce o mal, transformando o mal em bem e a morte que era o fim, agora é o começo” (André Luís Botelho de Andrade, Retiro Profético 2020).
Ainda que já tenhamos lutado muito na busca de conversão e tenhamos nos determinado a alcançar as mudanças que nos são necessárias sem alcançar êxito, precisamos crer que Deus pode realizar em nós Sua obra de redenção que nos transforma em homens e mulheres segundo Seu coração.
Não podemos nos acomodar diante de nossas fraquezas, como se estivéssemos fadados a ser sempre os mesmos. Devemos, sim, acreditar que Deus que nos ama, pode e quer nos transformar, nos conformar à imagem de Cristo.
Sendo assim, clamemos com insistência o Espírito de Deus, pois Ele é o único capaz de penetrar o mais profundo de nós (cf. 1Cor 2,10) e transformar nossos corações de pedra, endurecidos por nossas fraquezas, em corações de carne, mansos e humildes como o Sagrado Coração de Jesus (cf. Mt 11,28-30).
“Derramarei sobre vós águas puras, que vos purificarão de todas as vossas imundícies e de todas as vossas abominações. Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo; tirar-vos-ei do peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne” (Ez 36,25-26).
Edvandro Pinto
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator
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