Nesta semana, em que a Igreja reza pelas vocações, a Comunidade Pantokrator oferece a você um pouco da vida de 4 irmãos de Comunidade, todos consagrados, e que partilham conosco como foi o encontro com a vocação, as experiências, desafios e realizações de viver o chamado. Confira!
Comunidade Pantokrator: Qual a idade e tempo de vocação de cada um vocês?
Mário: Tenho 34 anos e 8 anos de Comunidade.
Andréia: Tenho 39 anos e 9 anos de Comunidade.
Mary Neusa: Tenho 62 anos e de Comunidade 12 anos.
Nilton: 32 anos de idade e 11 de Comunidade.
Comunidade Pantokrator: A vocação que te buscou ou você que buscou a vocação?
Mary Neusa: Não conhecia nada de Comunidade. Comecei a fazer um curso na Comunidade e comecei a me encantar pelo jeito da Comunidade de ensinar. Achava muito interessante o jeito deles viver. Esse encantamento foi crescendo, indo a conta-gotas. Eu era bem mais velha que a maioria das pessoas da Comunidade na época e por isso acho que Deus cuidou pra que eu não tivesse um impacto grande, porque senão acho que desistiria.
Mário: Eu participava de um grupo de oração na faculdade, logo que cheguei ao Brasil, na época e conheci a Comunidade Canção Nova. A Canção Nova me apresentou a realidade das comunidades. Aí comecei a me questionar e desejar viver a vida em Comunidade. Num dia que fui ao grupo de oração da Comunidade, foi feito o convite do Encontro Vocacional. Fiz o encontro e no final não tinha certeza se queria continuar o caminho. Como me encantei pela espiritualidade teresiana, decidi continuar. O meio de Deus me prender à Comunidade no início foram os retiros da formação inicial. O resto foi conseqüência.
Andréia: Pra mim, com certeza foi Deus quem me buscou. A minha vida, naquela época, era bastante tranqüila. Conscientemente não tinha crise nenhuma, embora interiormente, sem ter consciência, vivia um vazio imenso. Vim fazer o encontro vocacional porque alguns amigos insistiram muito. Com certeza foi a mão de Deus que me levou.
Nilton: Posso dizer que o Carisma me alcançou. Eu não conhecia a realidade de vida consagrada e conheci através de um casal da Comunidade que me apresentou o que era uma vida consagrada como leigo. Quando ouvi, senti um forte desejo de conhecer ainda mais e, quando conheci o Carisma mais de perto, não tinha como explicar, foi um grande encontro com a sede que eu tinha e que não sabia do que era essa sede que existia em mim.
Comunidade Pantokrator: Vocês sentiram medo nesse início?
Mário: O medo foi progressivo. Tive medo das renúncias do mundo, dos apegos do mundo, mesmo não tendo uma vivência mundana. Os meus medos foram surgindo ao longo do tempo, conforme fui me aprofundando na caminhada.
Nilton: Confesso que não tive medo de descobrir o que Deus queria pra minha vida, mas temia o que encontraria de obstáculos na minha família, nas pessoas mais próximas
Andréia: Tive bastante medo no começo, porque não tinha noção do que era aquilo. Mas percebo que Deus joga muito comigo com o medo, porque eu não gosto de me deixar vencer pelo medo. O medo me desafia.
Mary Neusa: Tive medo e pesava muito pra mim a minha idade, porque achava que não ia dar conta daquele ritmo. Era uma vida muito diferente da que eu vivia. Pensar que eu poderia ter que deixar algumas coisas que eu vivia também me fazia sentir insegurança. Mas sinto que Deus foi muito pedagógico comigo nesse momento.
Comunidade Pantokrator: Houve situações desafiantes no acolhimento do chamado?
Mário: O primeiro grande desafio pra mim foi permanecer no Brasil, porque sou do Peru. Era uma situação de incerteza. Não tinha outra motivação pra ficar no Brasil. A motivação agora era só a vocação. O outro desafio foi quando senti o chamado à Vida Comum, que me desinstalou por completo, porque tive que renunciar aos meus projetos e as expectativas dos meus pais.
Andréia: O primeiro foi lidar com o mistério, porque eu era muito racional. O segundo desafio foi lidar com as pessoas, porque eu era muito individualista.
Mary Neusa: O meu desafio foi ter que me expor. Levava uma vida muito tranquila e então não tinha de me expor. Minhas misérias ficavam bem escondidas, não me ofereciam risco. Via os irmãos se expondo, se abrindo e isso ao mesmo tempo me deixava insegura e me encantava.
Nilton: Eu temia muito o que as pessoas iriam achar desse meu desejo de entrega à Deus e ao Carisma que a cada dia me encantava mais e mais. Inclusive neste tempo do vocacionado minha namorada terminou o namoro comigo em função da minha escolha. Meus pais não entendiam muito essa realidade de leigo consagrado, mas em nenhum momento me impediram de buscar o que Deus queria pra mim. Quando senti o chamado de “deixar tudo” para morar na Comunidade e dedicar-me integralmente à Deus, no meu emprego, o meu chefe não acreditava que eu estava pedindo desligamento da empresa e me propôs um grande aumento e promoção.
Comunidade Pantokrator: Os desafios permaneceram ou acabaram?
Andréia: Na minha vida, acho que o desafio permanece sempre, mas muda de cara. De certa forma, está sempre ali. Pra mim, o relacionamento com as pessoas continua sendo o desafio, mas conforme vamos amadurecendo, Deus também vai aprofundando o desafio.
Mary Neusa: Os desafios acontecem por fases. Em cada fase é diferente o desafio. Sinto que vou amadurecendo e Deus vai me oferecendo novas situações.
Mário: No meu caso, os desafios do começo foram superados e depois vieram outros, que foram aprofundando os primeiros. Hoje o desafio maior que eu tenho é fazer com que o amor passe na frente nas situações mais simples, porque as mais complexas eu não teria capacidade.
Comunidade Pantokrator: O Papa Bento XVI, na mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas vocações deste ano, relaciona a vocação ao amor que Deus tem pelos chamados. Você faz a experiência desse amor a partir da sua vocação?
Mário: Acho que o amor é muito mais palpável, real, concreto. O cuidado de Deus, o zelo, a proteção, o desejo de Deus pela minha vida é muito palpável através das autoridades, do governo da Comunidade. Tudo isso manifesta muito o cuidado de Deus pela minha vida.
Andréia: Não sinto que Deus me ama mais hoje, na vocação, do que antes. Mas vou percebendo, conforme vou caminhando na minha intimidade com Deus, como é profundo o amor de Deus por mim. Acho que Ele sempre me amou assim, mas a vivência da vocação me faz ser mais consciente desse amor.
Mary Neusa: Comigo é assim também. Antes via Deus muito distante. Ele sempre esteve perto, mas não via isso. Pelo carisma da Comunidade fui tendo essa experiência, de que Ele estava próximo a mim.
Nilton: A grande marca da minha vocação é a gratidão. Gratidão por descobrir e experimentar um grande amor de Deus por mim que me constrange e que me fez querer cada vez mais “ser de Deus e de Deus somente”.
Comunidade Pantokrator: Nesse tempo todo de Comunidade, a vocação completou vocês?
Nilton: Me completou demais! Hoje, me sinto muito feliz e realizado. Sinto que a vivência a cada dia é árdua, desafiadora, mas muito bela e cheia de alegrias que nunca experimentei antes.
Mary Neusa: Sem dúvida, não faria essa experiência de Deus se não fosse pela vocação. A vocação é parte integrante da minha vida. Não teria condições sozinha de chegar a essa experiência.
Mário: Não somente completa, mas faz parte da minha identidade, do meu ser. Sou o que sou por ela. Ela me ajudou a me encontrar em Deus, foi o meio de eu fazer essa experiência.
Andréia: Penso que o que me completa é a verdade. Como é a vocação que me revela a verdade, então com certeza a vocação me completa.
Comunidade Pantokrator: Hoje o que realiza mais vocês na vida em Comunidade?
Mário: É viver a reciprocidade, de me dar aos irmãos e ao mesmo tempo saber receber do outro. É o que mais me realiza.
Andréia: Sempre vi a vida como uma realidade em movimento. E a minha vida sempre foi muito movida a desafios. Hoje concretamente na minha vida, quando me supero em alguns desafios ligados à doação da minha vida, tem sido a minha maior realização na minha vida.
Mary Neusa: Pra mim é a fraternidade que mais me realiza. Pra mim é mais difícil receber que dar. Quando percebo que consegui fazer a experiência de receber, pra mim é uma grande vitória.
Nilton: Hoje a minha maior alegria na vida em Comunidade é experimentar a minha doação de vida aos meus irmãos e na missão. Isso se dá através do meu celibato consagrado e da missão que Deus me chama a viver. Quero muito a todos a experiência que um dia eu fiz e faço constantemente de que a verdadeira alegria e sentido para viver está em Deus.
Comunidade Pantokrator: Qual o maior ensinamento que a vida em comunidade ofereceu pessoalmente a vocês?
Andréia: Pessoalmente, olhando a minha história de individualismo, o maior ensinamento é que o homem não vive só.
Mário: Me reconhecer filho e dependente de Deus e também a questão de viver em comunidade, viver a partilha e a dependência também dos outros.
Nilton: O maior ensinamento que a vida em Comunidade me trouxe é de saber que o que Deus me dá como experiência e presença, não pode ficar somente pra mim, mas precisa ser algo para os outros. Não posso ser egoísta e querer somente ser feliz sozinho, mas fazer o outro feliz, fazer minha família feliz, meus irmãos felizes, os filhos espirituais que Deus me confia a encontrarem a Deus.
Mary Neusa: Também pra mim foi a questão de aceitar ser filha, aceitar a paternidade. E também a questão de sair de mim mesma foi o grande ensinamento que tive.
Comunidade Católica Pantokrator
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