Quando tiver um tempinho, faça o seguinte exercício: procure pela palavra “alegria” no Google e selecione a opção “imagens”. Eu aposto (e ganho!) que aparecerão dezenas de fotografias retratando um gesto muito específico: o sorriso.
É indiscutível o fato de que as pessoas relacionam o sorriso com a alegria. Basta olhar para uma criança empolgada em meio a uma brincadeira: é bem provável que estará mostrando todos os dentes da boca. O nosso próprio corpo, quando se sente bem, projeta o sorriso em nossos lábios mesmo sem percebermos.
Apesar disso, será mesmo que o sorriso seja um indicativo seguro de que a pessoa é verdadeiramente feliz? Será que muitos dos sorrisos estampados em postagens e perfis são realmente espontâneos? Minha provocação vai ainda mais longe: será que os meus (e os seus) sorrisos não são apenas máscaras para disfarçar uma angústia ou solidão?
SOBRE O QUE NÃO É FELICIDADE
O grande problema, na verdade, é que as pessoas vêm fazendo uma enorme confusão entre os conceitos. Muitos pensam que alegria é sinônimo de prazer e que tristeza é sinônimo de sofrimento. Em outras palavras, a felicidade consistiria em ter o máximo de prazer possível e evitar o sofrimento a qualquer custo. Pensam que o mais alegre é aquele que mais sorri.
Embora pareça fazer sentido, esta ideia está profundamente errada. Você não precisa acreditar em mim, basta olhar para a realidade ao redor: os jovens nunca experimentaram tanto “prazer” gratuito e irresponsável como nos dias atuais e, ao mesmo tempo, as taxas de depressão e suicídio nunca foram tão grandes.
Já ouvi inúmeros relatos parecidos por parte de pessoas que buscaram o prazer irrefreável. A história parece se repetir: quanto mais davam livre vazão aos “instintos”, mais se tornavam viciados. Quanto mais viciados, menos satisfeitos. Consequentemente, mais tristes (independentemente de ostentarem sorrisos largos aos amigos).
O mesmo pode ser dito com relação à fuga dos sofrimentos. Muitos optam por não iniciarem relacionamentos, a fim de evitar desgastes e dores futuras. Outros terminam casamentos porque estão passando por incômodos na vida a dois. Não toleramos mais suportar uma simples dor de cabeça sem correr para buscar um analgésico.
É justamente por possuírem essa ideia distorcida sobre o sofrimento que muitos evitam se aproximar do cristianismo. Afinal, se sofrimento conduz à tristeza, o que dizer de uma religião que ostenta uma cruz e um Deus repleto de chagas abertas?
SOBRE O QUE É FELICIDADE
Mas não se engane: eu não estou dizendo que a verdadeira alegria é inatingível ou que estamos todos fadados a distribuir sorrisos falsos. Não é isso! O que eu quero demonstrar é que a felicidade plena não obedece aos raciocínios superficiais do nosso egoísmo.
Por mais estranho que pareça, as pessoas mais felizes sempre foram aquelas que evitaram prazeres vãos e se lançaram de cabeça em uma vida de aparentes sofrimentos. É justamente o contrário da receita moderna!
Eu poderia mencionar aqui a vida dos santos. Um São João da Cruz, quando perguntado por Jesus sobre o que ele queria de presente, ele respondeu que desejava sofrer mais por amor. Ou um Santo Inácio de Antioquia que, já bem idoso, foi conduzido à morte pelos romanos e implorou para que os cristãos não impedissem (pois ele ansiava pelo martírio).
Mas não precisamos recorrer a exemplos tão distantes. Procure uma mãe amorosa que passou a noite em claro cuidando do filho doente e pergunte se ela trocaria aquele filho por uma balada noturna ou um divertimento qualquer. É provável que, no auge do seu cansaço, ela dê um sorriso cansado e afirme que não trocaria por nada aquela alegria de ser mãe.
Por mais agradável que seja se lançar no sofá e passar o final de semana inteiro “maratonando” séries e filmes, todos irão concordar que não existe descanso mais alegre que aquele obtido após um dia longo e frutuoso no trabalho.
A VERDADEIRA ALEGRIA SORRI COM O CORAÇÃO, NÃO COM OS LÁBIOS
A verdade é a seguinte: todos nós nascemos com um vazio imenso dentro da alma e esse vazio nos deixa constantemente inquietos. É como se nós quiséssemos urgentemente estar completos, mas estivesse faltando um pedaço.
Não adianta querer encher o coração de entulhos, porque não irá funcionar: o buraco é grande e, quanto mais “gambiarras” utilizarmos, maior será a nossa inquietude. Não adianta se jogar em todos os prazeres, porque isso não preenche o vazio. Também não adianta evitar todos os sofrimentos, porque não são eles que causam o problema.
Você pode dar o nome que quiser para esse vazio. Eu gosto do termo “sentido da vida”. E a verdadeira definição de felicidade é justamente encontrar o pedaço faltante, ocupar o buraco do coração. A pessoa pode ter os maiores sofrimentos do mundo e ainda assim será feliz se conseguir encontrar o sentido.
Santo Agostinho, que teve uma juventude marcada pela busca insaciável do prazer e do preenchimento, descobriu finalmente que o seu vazio somente poderia ser preenchido pelo próprio Deus. É dele aquela famosa frase:
“Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova… Tarde Te amei! Trinta anos estive longe de Deus. Mas, durante esse tempo, algo se movia dentro do meu coração. Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava […] Durante os anos de minha juventude, pus meu coração em coisas exteriores que só faziam me afastar cada vez mais d’Aquele a quem meu coração, sem saber, desejava!” (Confissões 10, 27-29).
De que adianta ostentar os mais lindos sorrisos nas fotos e eventos se o nosso coração anda vazio e inquieto? O sorriso externo e superficial vale mais que o sorriso interior de quem encontrou a verdadeira razão de viver?
Que a Virgem Santíssima (a criatura mais feliz da história) nos ensine a sorrir – mais do que somente com os lábios: com o coração.
Rafael Aguilar Libório
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator