Olá, amado leitor, antes de começar a dissecar sobre o que está dentro do coração de Deus, quero exemplificar com algo que acaba de ocorrer, instantes depois de sentar na cadeira e começar a tecer esse texto. Confesso que muitas formas de iniciar vieram à minha mente, mas o que sou eu diante dos mistérios de Deus, um nada que busca viver a vontade do Pai. Então, restou-me iniciar do jeito que Ele suspirou em meu coração.
Minha filha mais nova chorou, ao dar-lhe água e recolocar a chupeta, ela logo dormiu. São 23h55min. Em seguida, ao sair do quarto, a filha mais velha disse: “Papai, estou com sede!” Então, fui até a cozinha pegar um copo de água e depois que ela tomou, levei-a até o banheiro para evitar “acidentes pluviais noturnos”. Ao terminar, pensei: Como estava, esteve e, agora, está o meu coração. E saiba que senti que estava feliz, por ser chamado e poder acolher as pequenas necessidades de minhas filhas.
Logo, refleti: se do meu coração, que é pequeno e egoísta, pode sair tanto amor em meros quinze minutos, imagino do coração de Deus, sendo infinito e eterno. Sei que nunca chegarei a tal perfeição e por isso só me basta uma migalha do Seu ventrículo esquerdo para que eu receba um amor muito maior do que a minha mente pode compreender.
O que nos faz dignos do coração de Deus?
Segundo Viktor E. Frankl, em seu livro Em Busca de Sentido: “o coração do homem está inquieto, a menos que tenha encontrado e realizado um sentido e um propósito na vida” (p. 59), ou seja, o que nós queremos realmente não é a felicidade de forma completa, mas algo pelo qual possamos ser feliz e encontrá-lo ao realizar um trabalho, amar alguém ou sofrer com coragem.
No mesmo sentido, o Papa Emérito Bento XVI exortou quando presidia a celebração da Santa Missa na Solenidade da Epifania do Senhor em 6 de Janeiro de 2012 na Basílica de São Pedro:
“Não somos só nós, seres humanos, que vivemos inquietos relativamente a Deus. Também o coração de Deus vive inquieto relativamente ao homem. Deus espera-nos. Anda à nossa procura. Também Ele não descansa enquanto não nos tiver encontrado. O coração de Deus vive inquieto, e foi por isso que se pôs a caminho até junto de nós. […] Deus vive inquieto conosco, anda à procura de pessoas que se deixem contagiar por esta sua inquietação”, destacou.
Perceba que esta relação é como dois imãs[1], ambos com a mesma essência, com os pólos diferentes a se encontrarem, sendo um pólo a humanidade, sedenta de Deus, mesmo com seus deméritos e reconhecedora de seus pecados, e outro pólo a divindade que olha com um amor devorador para Sua criação querendo-a de volta. É a nossa filiação, regravada no portão dos céus pelo sangue de Cristo, perfeito homem e Deus, que nos dignifica a ir ao encontro do Seu coração.
O que encontramos no coração de Deus?
Somente os mais íntimos da Santíssima Trindade foram agraciados em antecipar neste mundo a visão do coração de Deus. Para nós, peregrinos com o coração e olhos de águia, é grande a graça de encontrar a vontade do Pai. É neste mistério que está escrito em letras GARRAFAIS o sonho que Deus sonhou para cada um de Seus filhos, afinal “Eis que estás gravada na palma de minhas mãos, tenho sempre sob os olhos tuas muralhas”. (Is 49,16)
Tomemos consciência de tamanha herança, ali está o mapa do tesouro, uma felicidade eterna em fazer o que o Criador sonhou para nós. Saiamos da nossa inquietação passiva e sejamos livres para entrar nesta jornada. E quais os passos a serem dados rumo ao coração de Deus? Oração, confissão e adoração. É tempo quaresmal, tempo de conversão.
Thiago Casarini
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator
[1] Imãs são corpos constituídos de materiais ferromagnéticos com propriedade de atrair outros materiais ferromagnéticos
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