Testemunho: Minha fé e João Paulo II

Texto escrito na ocasião da morte de João Paulo II.

A páscoa de João Paulo levou o mundo a se recordar dos inúmeros momentos inesquecíveis que todos, quer como nação, como católico, quer como pessoa teve com ele. Ele no exercício de seu ministério expressou a maternidade da Igreja sobre nós de uma forma eloqüente e terna. Pôde-se ouvir inúmeras pessoas, mesmo entre não católicos, dizer que com sua morte é como se tivessem perdido um familiar próximo. Sim, mesmo nossos irmãos que não se submetem à fé católica e ao pastoreio de Pedro é filho da Igreja. E isso pode ser sentindo nesse momento em que os homens deixaram de lado as mesquinharias e orgulho e deixaram extravasar os sentimentos mais profundo de seus corações…quantos na verdade ao se sentirem órfãos não perceberam que o eram com seu pai ainda em vida. A sorte é que Deus nos dará um novo pai. O que se viu nesses dias é a grandeza da morte de um grande pai a operar milagres nos corações de seus filhos.

Para mim João Paulo II era, sobretudo aquele que sempre me apontou a Cruz, mas com o brilho da ressurreição. Ele viveu a Cruz até o fim pregando-a no silencio de sua agonia, mas espalhou no mundo a glória da ressurreição do Senhor, pois seu rosto, seus gestos, seus valores eram a imagem do fulgor da Vida de Cristo.

Dentre tantas marcas de seu pontificado uma, pouco falada como tal, mas analisada com crítica pela mídia,  foi sua fidelidade a Verdade de Cristo. Pregou a verdade, loucura para os libertários materialistas e escândalo para os gramicistas, com a coragem de Paulo. Mas o fez com a ternura de João, sobretudo colando em evidência a misericórdia divina tão falada por ele e enlevada a qualidade de festa litúrgica no primeiro domingo da páscoa. É impossível falar de seu pontificado sem lembrar os jovens. Ele foi o papa que, nos últimos tempos, melhor comunicou-se com os jovens. Criou a Jornada Mundial da Juventude e deixou um legado que ficará para sempre na vida da Igreja, a Teologia do Corpo. Suas inúmeras catequeses nas quais ele elaborou essa teologia, não se restringe ao jovem em si, mas é uma resposta profunda e sólida para o sempre jovem amor humano. Nesse brevíssimo resumo de pontos de seu pontificado não posso deixar de lembrar de sua luta contra a cultura de morte, desde aquela que ceifava vidas nos regimes comunistas, que aliás ele foi o maior protagonista da ruina desses regimes, mas também daquela cultura que hoje tanto nos aflige, vinda de diversas ideologias

Entregou-se a Cristo quando a Igreja celebrava três realidades fundamentais em seu pontificado: Maria, pois ainda era sábado – dia que a Igreja dedica a Maria –  e seu pontificado foi marcado por inúmeras manifestações marianas a começar pelo seu lema “Totus Tuo”; a misericórdia pois já era em Roma passado das 18 hs, já sendo então a  festa da misericórdia daquele domingo, festa essa instituída por ele mesmo poucos anos antes; e a páscoa pois ainda era a oitava de páscoa. Sua morte foi uma páscoa porque sua vida foi marcada pelo amor a Cruz e o brilho da ressurreição.

Para mim pessoalmente a vida e o pontificado de João Paulo II tem inúmeros significados que não dá para expor aqui. Lembro dele desde sua primeira visita ao Brasil. Eu ainda era criança, mal sabia quem era o papa, mas já me emocionava com o “João de Deus”. Desde quando tomei consciência de minha fé e o significado do Papa para ela, à luz dos gestos e palavras do próprio Jesus, passei a segui-lo atentamente. No início, para ser sincero, eu muito jovem, olhava meio desconfiado um papa que tinha discursos muito rígidos. Mas maior do que minhas desconfianças foi a minha fé e minha necessidade de Deus como Verdade e Amor. Confiando em Cristo passei a obedecer ao Papa com um espírito conformativo mesmo em questões que não entendia. Muitas vezes me deparei, lendo suas encíclicas, cartas etc, me perguntado como Maria: “Meu Deus como se fará isso?!” O que testemunho é que esse espírito de obediência me fez aos poucos perceber a limpidez da Verdade anunciada por João Paulo II e a fazer a experiência do amor de Cristo pastor em suas palavras.

Peregrinação 

Chegou um momento que sentia Deus me chamando a ir a Roma para estar junto de Pedro. Era meados de 2002, Fizemos uma campanha na Comunidade para que eu fosse a Roma. Nessa época o dólar estava 4 por 1 em relação ao Real e tudo era muito caro. Questionei-me se não devia esperar outro momento, mas a moção se reavivava dentro de mim. Aproveitando a estada na Europa peregrinei por vários lugares, mas por onde meu coração ansiava era Roma. Foi então que em uma audiência publica na sala Paulo VI, vi João Paulo II pela primeira vez. Fiquei em um lugar privilegiado e pude me aproximar dele a poucos metros de distancia. Tudo foi emocionante: Pedro que chegava a sala de audiência, sua voz, o santo Karol Woltila que estava na minha frente e o carinho do povo para com ele. Antes de sair da sala, ele para, volta-se para meu lado e dá uma benção. Para mim ele me abençoava pessoalmente e comigo toda a Comunidade Pantokrator.

Na mesma ocasião, depois de estar na basílica de São Pedro onde tive a moção de deixar meu coração depositado na cátedra de Pedro, e depois de ir na cripta junto as relíquias de São Pedro e de vários papas, parecia que tudo estava consumado, por algumas circunstâncias eu tinha voltado algumas outras vezes a basílica e especialmente a praça de São Pedro em frente a basílica. No penúltimo dia sairíamos de Roma para visitar Assis, mas um contratempo nos impediu e naquela manhã me vi pela enésima vez, ao prazo de uma semana, em frente a Basílica. Senti-me enfandonhado. Ainda na praça comecei a rezar um terço, tive a moção de Deus dizendo ao meu coração: “Tudo o que você fez nessa peregrinação foi muito bom, mas eu trouxe você para estar junto de Pedro. Vou te dar um sinal disso”. Fiquei meio perplexo, mas acolhi a exortação. O fato é que passados 10 minutos desse ocorrido começo a perceber uma super movimentação de seguranças na praça, em instantes o papa passava na minha frente dentro de uma limusine preta, rapidamente, mas era o papa. Ou seja, de repente nada mais nada menos do que o papa estava na minha frente! Acolhi o sinal de Deus quase extraordinário. Entendi que Deus me queria junto de Pedro, não por alguns momentos mas fixado a ele, pela obediência e amor ao papa. Então eu e toda a Comunidade  Pantokrator como que fixamos nossa tenda no coração de Pedro. Mais tarde, dois anos depois, estaria mais junto dele, cruzaríamos os olhares como uma confirmação dessa moção. Me dirigindo à sua cátedra para cumprimenta-lo pessoalmente e entregar a Regra de Vida da Comunidade Pantokrator, ele fitou os olhos em mim. Isso me desconcertou a tal ponto, que ao chegar junto a ele, perdi as palavras que havia preparado. Foi um momento que sempre trará luz para minha caminhada, mas também para a caminhada de cada filho da vocação El Shaddai Pantokrator.

Hoje, João Paulo II, posso dizer, foi o Papa em quem minha fé berçou e amadureceu em muito ouvindo suas pregações, catequeses, encíclicas, sobretudo, vendo seu testemunho de vida. Para mim celebrar João Paulo II, é celebrar um Pontífice, um Pastor, uma vida santa, que ensinou a verdade, traduzindo-a no amor nas situações mais difíceis, irradiando beleza em tudo que vive e faz.

Saudades meu querido Pastor.

André Luis botelho de Andrade
Fundador e Moderador Geral da Comunidade  Pantokrator

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