Gosto de começar com o entendimento das palavras para haver maior clareza de compreensão. Fidelidade significa zelo, respeito, lealdade e constância de compromisso. Já tentação aparece como um impulso para a prática de alguma coisa censurável ou não recomendável. Lógico que as definições aqui são resumidas, porém já dá para saber do que se tratam. A questão é: fidelidade a quem?
Toda tentação remete a uma lei, existe por causa dela e pela nossa liberdade de adesão. A tentação é oportunidade de manifestar a quem somos fiéis. Nossa resposta revela o nosso coração. Toda tentação é sempre oportunidade de fidelidade, refiro aqui ao amor de Deus ou à revolta do demônio.
Sabendo que a lei maior é a lei de Deus, pois o Amor é soberano, a tentação é sempre uma infração maligna ao amor de Deus. “Só Deus é bom” (Mc10,18). Rezamos sempre no Pai Nosso: “não nos deixeis cair em tentação” e não: “não deixeis que sejamos tentados”. A cada vez que respondemos às tentações com fidelidade ao amor de Deus, nos fortalecemos e O honramos. Nos fortalecemos pois nossa vida é um combate espiritual, onde para chegarmos ao Céu precisamos lutar contra quem nos quer impedir.
Quanto maior a tentação, maior a oportunidade de fidelidade a Deus e maior a força que Ele nos dá para combate-la! Sim, pois nunca estamos sós no combate, mesmo que a resposta final seja nossa. A sabedoria de Deus é surpreendente, de maneira que Ele nos deu um caminho de fidelidade mesmo depois das nossas quedas, mesmo quando caímos nas tentações: recorrermos à Sua Misericórdia! Com arrependimento sincero, confessamos os nossos pecados e voltamos à amizade Daquele que é sempre fiel. Dessa forma, quando vencemos as tentações, honramos o amor de Deus por nós e nos fortalecemos, deixando que a graça cresça e permaneça em nós; quando caímos e nos arrependemos da queda, recorrendo à confissão, honramos a misericórdia Divina, que nos acolhe e nos levanta sempre. Sendo assim, a tentação será sempre oportunidade de fidelidade a Deus, se soubermos responder com amor.
Porém, se deixarmos que a tentação nos vença e nos convença, não haverá real arrependimento, e se manifestará assim nossa “fidelidade” ao inimigo. Por isso precisamos sempre refletir sobre quais são as palavras que estão nos regendo, que estão influenciando nossas respostas, se elas iluminam ou obscurecem nossa razão, se libertam ou escravizam. Se trazem paz ou desconforto. Deixar que as palavras de Deus penetrem em nossa razão e vontade é garantir nossa liberdade de resposta, pois os enganos do inimigo roubam essa liberdade, nos acorrentando aos nossos próprios pecados, dos quais não conseguimos sair sozinhos.
Caminho de fidelidade: “Eu sou o Caminho” Jo14,6
Resta-nos uma reflexão final: o primeiro sim à tentação, o pecado original, nos impôs um trabalho, um peso a carregar e um caminho a percorrer: ou arrastamos as correntes grossas e pesadas dos nossos pecados a caminho do inferno ou carregamos nossa cruz, “fardo leve e jugo suave”, seguindo o Único Caminho para o Paraíso Celeste, reaberto à nós pelo derramamento de Seu Preciosíssimo Sangue – Jesus Cristo. Por Sua Paixão, Morte e Ressurreição, temos acesso novamente ao Paraíso, mas a um Paraíso ainda melhor que o primeiro, pois mais pleno e definitivo!
Essa é a boa notícia! Jesus Cristo é a Boa notícia, a melhor de todas!
Enquanto vivemos nesta terra podemos escolher, podemos nos arrepender e retomar o Caminho, e isso é maravilhoso! Se temos que trabalhar, trabalhemos principalmente pelos bens que não passam, que nos elevam, que nos unem a Deus.
Aproveitemos nossa liberdade sendo fiéis a Ele. Deixemo-nos converter e façamos sempre das tentações oportunidades de fidelidade Àquele que mais nos ama, nos é sempre fiel!
Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Pantokrator
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