“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.” Fernando Pessoa
Reflita um pouco nessa frase e perceba o profundo significado dela…
Embora não seja de nenhum santo, ela traz em si uma verdade: a verdade da transcendência da alma. Quando nossa alma não é pequena e consegue se elevar ao transcendente amor de Deus, podemos dizer que tudo ganha um novo sentido, tudo vale a pena.
Gostaria de deixar essa questão da alma que transcende todas as coisas terrenas, muito bem gravadas em seu coração. E por quê? Porque às vezes podemos estar nos afogando nesse imenso mar que é o mundo. Pedro também começou a se afogar naquele dia de mar agitado na Galileia: “Pedro saiu da barca e caminhava sobre as águas ao encontro de Jesus. Mas, redobrando a violência do vento, teve medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!” (Mt 14, 29-30)
Assim como ele gritou: “Senhor, salva-me”, nossa alma, diante da falta de ar causada pelo afogamento das coisas do mundo, precisa transcender e gritar ainda que seja com as últimas forças: “Senhor, ajuda-me!”
Edith Eva Eger, uma psicóloga judia que sobreviveu ao holocausto, diz que durante sua estadia no campo de concentração de Auschwitz sempre se lembra de um conselho de sua mãe que dizia: “Não importa o que aconteça ninguém pode tirar de você o que você colocar na sua mente”, e assim, mesmo presa num campo de concentração vivendo coisas inimagináveis de crueldade, conseguiu manter sua mente livre, sua alma livre e sobreviveu para nos contar sua história. Certamente não viveremos experiências tão cruéis como essa, mas cada um em sua vida individual vive sua experiência de prisão ou ainda usando a metáfora do mar, vive seu afogamento, como se o ar tivesse sido roubado pelas coisas a nossa volta que vão nos inundando como um tsunami. Problema financeiro, doenças, aridez espiritual, abandono, carências, abusos emocionais e físicos, medo, depressão, todas essas situações podem nos afogar e deixar com dificuldade de respirar. No entanto, “ninguém pode tirar de você o que você colocar em sua mente”. E aqui é a hora de refletirmos o que tem tomado conta da nossa alma, dos nossos pensamentos mais profundos? As dificuldades ou a confiança no poder do Amor Misericordioso do Bom Deus?
Esperança
Sua alma tem se apequenado diante dos desafios e sucumbido ao desespero das dificuldades terrenas ou se agigantado diante do transcendente e confiado na promessa que Nosso Senhor nos fez: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!” Mt 5, 4.
Meu amigo leitor, diante do contexto social em que vivemos, tem-se a sensação de que o fim dos tempos está próximo. E se estiver? Vai se deixar afundar no mar da desesperança e se afastar do Bom Deus ou se colocar como filho, olhar nos olhos do Senhor e soltar o grito como Pedro: “Senhor, ajuda-me!”, ajuda-me a ganhar o céu. Quero lhe dizer uma coisa: nunca é tarde demais para voltar a respirar o ar do Amor Misericordioso. Enquanto houver espaço em sua alma para caber ao menos um átomo desse ar, haverá esperança de uma vida plena e feliz, basta ter fé! Nossa alma tem o tamanho do infinito, não tenhamos medo desse infinito e não se apequene diante do tsunami devastador daquilo que hoje te afoga no sofrimento. Agigante-se na fé, confie no Senhor que foi ao encontro, segurou firme a mão de Pedro e o resgatou do afogamento. Esse é o mesmo Senhor que irá estender os braços até você e te resgatar daquilo que hoje representa o mar que está afogando sua alma.
Pedro pediu ajuda confiando no Senhor que ele conhecia. Ele sabia do poder do seu Senhor. E para alimentarmos essa mesma confiança de Pedro, para agigantar a nossa fé, precisamos conhecer o Senhor por meio da oração, não importa o que aconteça e o quão difícil esteja todas as coisas, não deixe de orar, só assim o ar do Amor Misericordioso que fará você respirar nesse mar do mundo, entrará em sua alma..
Fernanda Guardia
Consagrada da Comunidade Pantokrator