SEM VINHO, SEM VIDA!

Vinho

Deus escolheu o vinho. De tantas e tantas possibilidades de milagres para iniciar sua vida pública, Jesus optou por transformar água em vinho. Já parou para pensar na profundidade disso? Ele poderia ter começado por alguma cura física, ou pela ressurreição de um morto. Poderia ter trocado as montanhas de lugar – afinal, Ele é Deus todo poderoso. Mas se contentou com o vinho…

Mas não se engane a respeito do significado deste milagre específico, pois ele é muito mais profundo do que parece. Cristo não estava apenas satisfazendo os convidados de uma festa qualquer, nem estava apresentando um espetáculo de “magia” aos seus amigos. Ele estava demonstrando (com dois mil anos de antecedência) o que pretende fazer na minha e na sua vida.

Talvez você já tenha ouvido isso, mas é importante recordar que as festas de casamento na cultura judaica duravam dias, e o vinho possuía uma importância enorme neste contexto. Se por uma desgraça o vinho viesse a faltar, isso não significava apenas o fim prematuro da festividade, como também uma vergonha pública para as famílias dos noivos.

Perceba a sutileza disso: enquanto existisse o vinho, haveria músicas, sorrisos, danças e muita honra. Na falta dele, passaria a reinar o silêncio, as críticas, a vergonha e a frustração. Em outras palavras, o vinho era sinal da alegria e da festa. Era sinal de vida e de abundância! E não é justamente isso o que o Cristo prometeu que veio trazer? “Eu vim para que as ovelhas tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).

EIS A QUESTÃO: ENCHER OU NÃO ENCHER AS TALHAS?

É interessantíssimo o trecho do Evangelho que retrata as “Bodas de Caná” (Jo 2, 1-11). É provável que todos conheçam: Jesus foi convidado a uma festa de casamento e devia estar se divertindo junto aos seus discípulos. Mas, eis que ocorre a tragédia: o vinho acabou!

Havia uma outra convidada de honra na festa: nada menos do que a Mãe de Deus. E, segundo alguns estudiosos, é bem provável que a Virgem Maria estivesse trabalhando na cozinha ou auxiliando os serviçais. Afinal, de que outra maneira ela saberia antes que os outros que o vinha tinha acabado?

A sequência é maravilhosa: Maria pede que Jesus cuide de tudo. Ele reluta no início, mas não consegue falar “não” à sua querida Mãe. A Virgem Santíssima então se vira para os servos e diz aquela frase estupenda: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Aliás, em todas as aparições posteriores (como em Fátima ou em Lourdes), a mensagem da Virgem continua exatamente a mesma.

E aqui entra o clímax da história. Jesus pediu que os servos enchessem as talhas de água. Eram seis talhas pesadíssimas. E é muito provável que a água estivesse longe – pois os poços não ficavam muito perto das casas, para evitar contaminação. O que os servos deviam estar pensando naquele momento? Aquela ordem parecia totalmente insana, afinal eles não precisavam de água, mas sim de vinho!

Você acataria a esta ordem “maluca”? Encheria aquelas talhas de água? Pois os servos seguiram o conselho de Nossa Senhora e “encheram até a borda” (conforme versículo 7). E o milagre aconteceu: por intervenção divina, toda aquela água foi transformada em vinho – e não era qualquer vinho: era o melhor de todos!

Percebam que ensinamento sublime: o milagre é sempre de Deus, mas Ele respeita as nossas medidas. Se os servos tivessem colocado apenas “dois dedos” de água, no fim haveria apenas “dois dedos” de vinho. Como eles foram fiéis e encheram até a borda, o milagre foi abundante e a festa deve ter sido inesquecível a todos os presentes.

COMO ESTÃO AS NOSSAS TALHAS?

O maior propósito deste texto não é refletir sobre o que ocorreu lá naquela festa, tão distante de nós em termos de tempo. Mas ressaltar que o Cristo quer realizar o mesmo milagre hoje, na minha e na sua vida. O Senhor conhece os nossos dramas, as nossas preocupações, as nossas depressões. E Ele, definitivamente, não é indiferente a tudo isso.

Cristo é o grande doador da alegria e deseja encharcar a nossa vida com o melhor dos vinhos. O Livro do Cântico dos Cânticos nos diz que o Amado quer nos introduzir na sua “adega de vinhos” (Ct 2, 4). Lembre-se de como ficaram os apóstolos após a experiência de Pentecostes: estavam tão contentes que os vizinhos achavam que eles estavam “bêbados de vinho doce” (At 2, 13). O próprio Cristo, ao instituir o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, fez questão de usar… o vinho!

Mas o método do Senhor também não se alterou: assim como Ele quis contar com a colaboração dos servos, do mesmo modo Ele quer que nós participemos deste novo milagre. E a proposta segue a mesma: “Enchei as talhas de água”. Água é sinal de purificação, de limpeza, de transparência. Até que ponto nos estamos dispostos a purificar a nossa vida e os nossos costumes?

Não deve ter sido fácil para aqueles servos a tarefa imposta por Jesus. Aliás, não apenas no sentido do esforço físico, mas também por estarem fazendo algo aparentemente “maluco”. Do mesmo modo, é certo que não é fácil encher nossa vida de água. Mas é preciso! O mesmo Jesus afirmou, já no capítulo seguinte do Evangelho, que “se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3, 5). Nascer da água…

Mas depois do esforço veio o milagre. Deus possui um certo hábito de “guardar o vinho bom” para o final. Mas nunca se ouviu dizer de alguém que tenha esperado fielmente e não tenha saído totalmente saciado. Deus não falha jamais!

PEÇA ÀQUELA QUE SEMPRE ESTÁ NOS BASTIDORES

É certo que foi Deus quem fez o milagre. Mas é certo também que houve uma participação fundamental da Virgem Santíssima. Era ela quem estava por dentro do medo e das preocupações dos noivos. E foi ela quem intercedeu para que a alegria voltasse à festa.

Do mesmo modo, em todas as nossas dificuldades e tristezas, podemos contar com a intercessão infalível da Santa Mãe de Deus. São Bernardo a chama de “onipotência suplicante”, já que ela consegue praticamente tudo o que pede ao Senhor. Então que ela implore por nós: para que não nos falte o vinho da alegria e da vida plena.

Que Deus nos abençoe sempre!

 

Rafael Aguilar Libório
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator

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