Santo Inácio de Loyola e a Guerra mais importante

Santo Inácio à frente de um exército

Existem alguns santos que possuem uma história extraordinária, digna de livros best-sellers ou de grandes produções cinematográficas. E uma das histórias que mais me encantam é a do grande Santo Inácio de Loyola.

É bem verdade que a grande maioria dos santos são pessoas discretas e que nunca chegarão a ser formalmente canonizadas. Talvez eu e você já tenhamos convivido com pessoas profundamente santas e não tenhamos percebido, como aquele senhor piedoso que reza o seu rosário todos os dias em uma praça, ou aquela senhora viúva que não perde sequer uma Missa diária. Vale dizer que algumas das carmelitas que conviveram com Santa Teresinha tomaram um enorme susto ao descobrirem (depois da morte da santa) que tinham morado com uma verdadeira Doutora da Igreja.

Há outros santos, porém, que não são assim tão discretos. Na verdade, são pessoas atingidas com uma luz impressionante lançada pelo próprio Deus, a fim de servirem como modelo para as gerações cristãs do futuro. São santos da maior grandeza, daqueles que mudam o curso da história. Este é, precisamente, o caso do nosso querido Santo Inácio de Loyola.

Santo Inácio nem sempre foi Inácio…

Poucas pessoas sabem, mas o seu nome de batismo era Iñigo Lopes de Loyola. Tratava-se de um jovem forte, bonito e bem pouco católico. Passou a sua juventude na vivência dos prazeres fáceis e, principalmente, dedicado àquela que era a sua maior paixão: a guerra.

O jovem Iñigo era um militar de primeira qualidade, de modo que despertava profundo respeito nos seus colegas e até nos inimigos. Não é que ele gostasse da violência ou dos perigos, mas sim de tudo o que a guerra poderia oferecer aos vitoriosos: a glória, as riquezas e até o interesse das mais belas damas. 

No entanto, foi justamente em uma batalha que a sua vida se transformou para sempre. Iñigo estava com outros soldados espanhóis (como ele) na cidade de Pamplona, ao passo que o exército francês se aproximava para tomar o lugar. Nas condições em que os espanhóis estavam, seria compreensível que os soldados simplesmente fugissem.

Mas não foi o caso do heroico Iñigo: ele defendeu a cidade com tamanha valentia que inflamou todos os outros soldados. Foi este o momento em que, por providência de Deus, uma bala de canhão atingiu sua perna direita e a quebrou. Os outros soldados não conseguiram manter a defesa e Pamplona foi tomada pelos franceses.

Após permanecer preso pelos adversários durante um tempo, Iñigo foi libertado para se recuperar no castelo da sua família. Mas a recuperação não foi como o imaginado: o osso havia “colado” de maneira torta. Diante da perspectiva de permanecer manco para sempre (o que o impediria de combater), o jovem tomou uma decisão corajosa: mandou que lhe quebrassem novamente a perna e fizessem todo o necessário para uma correção – e tudo isso sem anestesia.

Toda essa questão envolvendo a recuperação da perna obrigou o jovem soldado a permanecer na cama por longo período. Diante do tédio, mandou que um criado fosse buscar alguns livros de cavalaria (os seus preferidos!), mas o pobre criado somente encontrou no castelo um livro sobre a vida de Cristo e outro sobre a vida de alguns santos. 

Iñigo ficou furioso, mas, já que não tinha outra coisa, aceitou ler aquela “chatice”. Foi aqui que se deu uma grande transformação. Ele finalmente começou a perceber o quanto as suas batalhas eram fúteis e sem importância perto da verdadeira batalha da salvação. Ele se deu conta de que as “glórias” e “riquezas” que tanto almejava não eram nada perto da glória eterna do céu. E o principal: viu que, em toda a sua vida, vinha batalhando pelo “senhor” errado (o rei), já que deveria estar a serviço do Senhor do universo!

O “velho” soldado e a “nova” batalha

Aquele homem nunca mais viria a pisar em um campo de batalha. Ou melhor: não viria mais a pisar nos “velhos” campos de batalha, porque havia descoberto uma nova luta pela qual valia a pena viver. É neste momento que, para simbolizar sua nova vida, resolve mudar de nome. A partir de agora, seria Inácio – em homenagem àquele velho Santo Inácio de Antioquia, que aceitou derramar o sangue por amor a Cristo no início da Igreja.

Mas é importante destacar que Inácio não deixaria de ser um soldado; o que ele faria, na verdade, é trazer as suas virtudes militares para o campo da fé. É assim que, após uma grande experiência espiritual, ele escreve os famosíssimos “Exercícios Espirituais”. Vale dizer que “exercícios” era o nome que se dava às práticas militares da época. Agora, ele estava pronto para ensinar outras pessoas a batalharem por amor a Cristo.

Inácio já possuía mais de 30 anos quando se converteu – o que é considerada uma idade tardia para começar a estudar. Mas prosseguiu neste caminho de formação, conseguiu alguns discípulos fiéis e resolveu criar uma ordem religiosa que se dedicaria à defesa da Igreja e do Papa, principalmente através do estudo e da formação. Se os exércitos eram divididos em “companhias”, Inácio criou a sua própria “Companhia de Jesus” (que nós conhecemos mais popularmente como “os jesuítas”).

A Igreja precisava muito de um Santo Inácio e dos seus jesuítas. Tudo isso se deu no século XVI, isto é, o mesmo século da revolta protestante. Países inteiros estavam abandonando a fé católica, as pessoas estavam perdidas. É neste contexto que Deus suscita este grande herói – que decidiu trocar as glórias do campo de batalha pela coroa da vida eterna.

A verdade é que Santo Inácio descobriu uma guerra mais importante para ser lutada. E nós? O que temos feito das nossas “pernas quebradas”? Quais são as glórias que insistimos em buscar neste profundo vale de lágrimas? Que possamos seguir o exemplo deste grande santo, que soube fazer a melhor escolha.

Rafael Libório
Consagrado na Comunidade Católica Pantokrator 

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