Deus habita a nossa alma e faz dela o seu Céu. “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo 14,23). Esta foi a grande descoberta de Santa Elisabete da Trindade, carmelita descalça e contemporânea de Santa Teresinha do Menino Jesus. Muito antes de ingressar no Carmelo de Dijon, na França, a jovem já desejava o Céu, nutria em seu interior uma amizade com Deus: “Encontrei meu céu na terra, posto que o céu é Deus e Deus está em minha alma”.
Deus está na minha alma
Quando escutei essa frase pela primeira vez fiquei com uma grande curiosidade de saber mais sobre essa experiência que ela viveu. Um céu que não estava tão distante, mas que poderia ser alcançado, e melhor, estava dentro da minha alma. Quantos sentimentos rondavam o meu ser, um misto de alegria e inquietação. Alegria de saber que Deus habitava meu interior e inquietação por não tratar esse hóspede como ele merecia. “Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Cor 3,16).
Santa Elisabete da Trindade nasceu em 1880 e morreu em 1906, devido à doença de Addison, cinco anos depois de ter entrado no Carmelo. Era filha de militar e dona de um temperamento forte, impetuoso, que muitas vezes resultava em surtos de ira, a ponto de dizerem: “ou essa criança será um anjo ou um demônio”. Para nossa alegria, ela travou uma sincera luta interior para dominar o seu temperamento, por amor a Jesus.
Casa de Deus
Com um toque da providência divina sua casa ficava próxima ao Carmelo. Aos 8 anos, manifestou o desejo de ser religiosa e a sua primeira comunhão foi um grande divisor de águas, a jovem sentiu-se verdadeiramente alimentada por Cristo. Após a 1ª Comunhão, em uma visita ao Carmelo, uma religiosa disse que seu nome significava: Casa de Deus. A partir de então, ela assumiu verdadeiramente essa graça.
Céu na Terra
Gostava de estar em oração, em tudo queria a agradar a Deus. Sentia a presença do Senhor em seu interior e sentia-se habitada. “Meu único exercício consiste em entrar em mim mesma e perder-me Naqueles que estão ai.” Santa Elisabete vivia o mistério da inabitação trinitária, a presença ativa da Santíssima Trindade na alma.
“Deus está realmente presente em todo o nosso ser – o qual ele sustenta como a alma de nossa alma e a vida de nossa vida –, contudo, sua presença como hóspede e amigo está oportunamente localizada nas profundezas da alma, pois é na parte espiritual mais elevada da alma que difunde diretamente a sua vida divina e é por seu intermédio que realiza em todo ser humano as suas operações espirituais” (1).
A jovem santa entrou no Carmelo aos 21 anos, mas antes disso já vivia o Carmelo interior, fazia da sua alma a morada preferida do Senhor, nutria uma relação pessoal com Ele. Que Elisabete da Trindade nos ensine a buscar essa intimidade com Deus e a lutar verdadeiramente contra todas as distrações que nos afastam dessa vida interior, dessa presença sobrenatural, pessoal e objetiva. Que nada roube o nosso Céu.
“Deus é amor. Criou-nos por amor; resgatou-nos por amor e destina-nos a uma união íntima com ele… Está aí em constante atividade de amor como fornalha que espalha constantemente o seu calor, como sol que não cessa de irradiar sua luz, como fonte sempre a jorrar”(2).
Oração: Ó meu Deus, Trindade que adoro
“Ó meu Deus, Trindade que adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente de mim mesma para me fixar em Vós, imóvel e calma, como se minha alma estivesse já na eternidade: que nada possa perturbar-me a paz, nem me fazer sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada instante me leve mais avante na profundidade de Vosso mistério.
Apaziguai-me a alma, fazei dela o Vosso céu, Vossa morada preferida, o lugar de Vosso repouso: que aí jamais Vos deixe só, mas que esteja toda inteira, totalmente desperta em minha fé, toda em adoração, completamente entregue à Vossa ação criadora.
Ó Cristo, meu amado crucificado por amor, quisera ser uma esposa para o Vosso coração, quisera cobrir-Vos de glória, amar-Vos… até morrer de amor. Sinto, porém, a minha fraqueza e peço-Vos me revistais de Vós mesmo, identificando a minha alma com todos os movimentos da Vossa, submergindo-me em Vós, invadindo-me, substituindo-Vos a mim para que a minha vida seja uma verdadeira irradiação da Vossa. Vinde a mim como adorador, como reparador, como salvador.
Ó Verbo eterno, palavra de meu Deus, quero passar a vida a ouvir-Vos, quero ser de uma docilidade absoluta para tudo aprender de Vós: e, depois, através de todas as trevas, todos os vácuos, todas as fraquezas, quero fitar-Vos sempre e ficar sob a Vossa grande luz. Ó meu Astro amado, fascinai-me para que não me seja mais possível sair de Vosso clarão radioso.
Ó fogo consumidor, Espírito de amor, vinde a mim, para que se opere em minha alma como uma encarnação do Verbo: que eu seja para Ele um acréscimo de humanidade na qual renove todo o seu mistério: e Vós, ó Pai, inclinai-Vos sobre Vossa pobre criatura, só considerando nela o muito Amado, no qual pusestes todas as Vossas complacências.
Ó meu “Três”, meu tudo, minha beatitude, solidão infinita, imensidade onde me perco, entrego-me a Vós como uma presa, sepultai-Vos em mim, para que eu me sepulte em Vós, enquanto espero ir contemplar em Vossa luz o abismo de Vossas grandezas.”
Andressa Aparecida da Silva
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator