Fica cada dia mais claro que o vitimismo tem se tornado um mal recorrente em nossa sociedade. Uma rápida olhada nas redes sociais e facilmente encontraremos uma “boneca de porcelana”, que se sentiu ofendida, simplesmente porque alguém discordou de sua opinião em algum post. E a coisa não para no virtual. São comuns os casamentos que se desfazem porque um dos cônjuges está insatisfeito por não receber a devida atenção e reconhecimento, por tantos anos de vida, “tão bem” dedicados ao outro.
Podemos citar ainda outras situações em que se manifesta o vitimismo. Por exemplo, pessoas que culpam seu insucesso, porque nunca receberam aquela promoção no trabalho. Ou que, não desenvolve amizades porque as pessoas que encontra nunca são de confiança e ninguém é capaz de entendê-lo, e por vai. Em resumo, quem se considera vítima, costuma colocar a culpa de suas dificuldades nas circunstâncias e nas pessoas ao seu redor. E assim, excluindo de si a responsabilidade de viver, tal qual a criança quando quebra o vaso da avó e joga a culpa no cachorro.
Vitimismo e responsabilidade
É importante dizer que ninguém está imune. Há de fato acontecimentos que provocam traumas profundos em nós. Como um abandono por parte dos pais, uma situação de humilhação na infância ou ainda casos de abuso moral ou sexual. O problema do vitimista é que, por não assumir a responsabilidade sobre sua vida, olha para seus traumas e fica parado neles, acreditando que não têm solução.
Esse olhar pessimista sobre nossa própria vida é muitas vezes inconsciente. Contudo, é possível identificá-lo de maneira bem clara. Pois ele está sempre acompanhado de uma insatisfação em tudo o que se realiza e uma sensação de que sua vida está estagnada e você não sabe o motivo. Por se tratar de algo muitas vezes de difícil compreensão é sempre recomendável procurar ajuda profissional de um psicólogo.
Mesmo sendo importante uma ajuda profissional para um trato mais adequado, é possível começarmos a identificar características e atitudes que nos fazem entrar no modo “coitadinho de mim” ou “ai que dó de mim”. As mais comuns e aparentes são:
1 – Você não é o centro de tudo
O vitimista costuma acreditar que tudo o que se passa ao seu redor é sempre sobre ele. Isso revela uma enorme incapacidade de empatia, ou seja, ele não se coloca no lugar do outro e considera as suas próprias dores e dificuldades muito maiores que as das pessoas ao seu redor.
Lembremos que é o próprio Cristo que nos ensina a importância de aprendermos a amar: “Amarás o teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, de todo teu espírito e de todas as tuas forças. Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior que estes não existe.” (Mc 12,30-31)
2 – Ninguém te deve nada
Exatamente por esta falta de empatia, quem vive no vitimismo, com este complexo de vítima, tem sempre a sensação de que as pessoas ao seu redor sempre lhe devem algo. Assim, ela se torna uma dependente afetiva e a condição para estar bem com os outros está diretamente relacionada à forma como os outros lhe tratam.
Se lhe tratam com carinho, então também recebem carinho de volta, mas se recebe alguma crítica ou acha que lhe trataram mal, logo, considera justo se defender e devolver na mesma moeda. Mais uma vez as palavras do evangelho são cura para nós: “Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. E ao que te tirar a capa, não o impeças de levar também a túnica. Dá a todo o que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho reclames. O que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles.” (Lc 6, 29-31)
3 – Deixe o vitimismo e Seja útil!
Por se considerar sem solução, o vitimista não costuma ter ambições e normalmente está parado em vários aspectos de sua vida, sempre procrastinando, e por consequência, atrapalhando a vida dos outros.
Desse modo, o “ser útil” significa seja útil de uma forma produtiva, realize as tarefas que são suas e na hora que precisam ser feitas. Aprenda coisas que lhe façam crescer de alguma forma, seja no trabalho ou em algum aspecto de sua vida interior. Sob essa perspectativa, encontramos no livro de Reis o grande conselho que o Rei Davi dá a seu filho Salomão, antes de morrer: “Sê corajoso e porta-te como homem!” (1Rs 2, 2)
Tiago Marques
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator