O coração do Verbo Encarnado
Jesus conheceu-nos e amou-nos, a todos e a cada um, durante a sua vida, a sua agonia e a sua paixão, entregando-Se por cada um de nós: «O Filho de Deus amou-me e entregou-Se por mim» (Gl 2, 20). Amou-nos a todos com um coração humano. Por esse motivo, o Sagrado Coração de Jesus, traspassado pelos nossos pecados e para nossa salvação (121), «praecipuus consideratur index et symbolus… illius amoris, quo divinus Redemptor aeternum Patrem hominesque universos continenter adamat é considerado sinal e símbolo por excelência… daquele amor com que o divino Redentor ama sem cessar o eterno Pai e todos os homens» (CIC – 478).
Festas litúrgicas
A Solenidade do Sagrado Coração de Jesus – Dia de Oração pela Santificação dos Sacerdotes – é celebrada na sexta-feira, após a Solenidade do Corpus Christi, visto que a Eucaristia/Corpus Christi nada mais é que o próprio Coração Jesus, um “Coração” que “cuida” de nós.
Margarida Maria Alacoque viveu no convento francês de Paray-le-Monial, desde 1671. Já tinha fama de grande mística quando, em 27 de dezembro de 1673, recebeu a primeira visita de Jesus, que a convidou a tomar o lugar, na celebração da Última Ceia, que pertencia a João, o único apóstolo que, fisicamente, encostou a cabeça no peito de Jesus. E lhe disse: “Meu divino coração é tão apaixonado de amor pelos homens que, não podendo conter em si as chamas da sua ardente caridade, precisa da tua ajuda para difundi-las. Por isso, escolhi você para este grande desígnio”.
No ano seguinte, Margarida teve outras duas visões: na primeira, viu o coração de Jesus em um trono de chamas, mais brilhante que o sol e mais transparente que o cristal, circundado por uma coroa de espinhos; na segunda, viu o Coração de Cristo, fulgurante de glória, que emitia chamas por todos os lados, como uma fornalha. Conversando com ela, Jesus lhe pediu para “comungar, todas as primeiras sextas-feiras do mês”, durante nove meses consecutivos e “se prostrar no chão por uma hora”, na noite entre quinta e sexta-feira. Deste modo, nasceram as práticas das “Nove sextas-feiras” e da “Hora Santa de Adoração”.
Em uma quarta visão, Cristo pediu a Margarida que fosse instituída uma festa em honra do seu Sagrado Coração e orações em reparação das ofensas por Ele recebidas. Esta festa passou a ser obrigatória em toda a Igreja, a partir de 1856, por ordem de Pio IX. Neste mesmo dia, em 1995, São João Paulo II instituiu o “Dia Mundial de Oração pela Santificação do Clero”, para que o sacerdócio fosse protegido pelas mãos de Jesus, ou melhor, pelo seu Coração, para ser aberto a todos.
O Coração
Na Bíblia, há uma dedicação do povo às coisas do coração. “Tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne” (Ezequiel 11,19). “Vinde a mim vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas” (Mateus 11,28-29).
O coração indica a interioridade do homem, como também a sua capacidade de pensar: é a sede da memória, centro de escolhas e projetos.
Com seu peito transpassado, Jesus quer nos dizer: “Você me cativa”, “Levo a sério a sua vida”. Mas diz também: “Faça isto em memória de mim; cuide dos outros, com o coração; tenha meus mesmos sentimentos; tome minhas próprias decisões, com humildade e pureza de coração”.
As 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque:
1° Promessa: “A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de Meu Sagrado Coração”;
2° Promessa: “Eu darei aos devotos de Meu Coração todas as graças necessárias a seu estado”;
3° Promessa: “Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias”;
4° Promessa: “Eu os consolarei em todas as suas aflições”;
5° Promessa: “Serei refúgio seguro na vida e principalmente na hora da morte”;
6° Promessa: “Lançarei bênçãos abundantes sobre os seus trabalhos e empreendimentos”;
7° Promessa: “Os pecadores encontrarão, em meu Coração, fonte inesgotável de misericórdias”;
8° Promessa: “As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas pela prática dessa devoção”;
9° Promessa: “As almas fervorosas subirão, em pouco tempo, a uma alta perfeição”;
10° Promessa: “Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais endurecidos”;
11° Promessa: “As pessoas que propagarem esta devoção terão o seu nome inscrito para sempre no Meu Coração”;
12° Promessa: “A todos os que comunguem, nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna”.
Aprofundando a fé
A fé exercida permite que a alma contemple “a altura e a profundidade” do amor de Deus, que se manifestou no corpo de Cristo dilacerado na cruz; e, em especial, no Seu Coração, de onde jorrou a água e o sangue dos sacramentos. Segundo a Tradição, o coração é o centro de onde emergem todos os desejos, sentimentos e propósitos do ser humano. Nesse caso, Jesus amou-nos não apenas com amor divino, mas, por sua natureza humana, amou-nos também com amor espiritual e sensível.
O amor sensível do Coração de Jesus diz respeito aos seus afetos. Ele sentiu compaixão, tristeza, angústia, raiva e alegria por amor a nós, a fim de nos redimir inteiramente.
“O coração de Cristo, unido hipostaticamente à pessoa divina do Verbo, sem dúvida deve ter palpitado de amor e de qualquer outro afeto sensível” (Haurietis Aquas, n. 22).
Jesus nos amou com amor divino por estar intimamente unido à Trindade Santíssima. Ele é o ungido do Pai, aquele em quem Deus colocou toda a Sua afeição.
Todos esses três amores de Jesus agem, pela fé, em nosso coração, com a finalidade de nos redimir e tornar-nos verdadeiros devotos de Deus. A devoção nada mais é que a expressão sincera de um amor profundo por Deus, sobretudo a devoção ao Seu Sacratíssimo Coração, que “é um ato de religião excelentíssimo, visto exigir de nós uma plena e inteira vontade de entrega e consagração ao amor do divino Redentor, do qual é sinal e símbolo vivo o seu coração traspassado”. Os devotos do Sagrado Coração terminam, eles mesmos, manifestando três amores: o sensível, o racional e o divino, pela unção do Espírito Santo, que faz crescer o nosso homem interior.
Angélica Chiba Maeda Ushirohira
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator