Cristo é o sacerdote por excelência, nosso intercessor junto ao Pai. Mas Cristo não quis assumir essa missão sozinho, por isso instituiu o sacerdote ordenado: “E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” Mt 16,17-18. Cristo quis estender seu braço para a humanidade através da igreja e consequentemente através da figura do sacerdote.
A beleza do chamado
Quando Jesus, caminhando ao longo do mar da Galiléia, chama Pedro (cf Mt 4,18), não acontece ali uma cena de romance, de entre olhares. Cristo vai ao encontro de Pedro em seu cotidiano, no seu trabalho, no lugar mais comum da sua vida e ali ele se revela através do pedido de lançar as redes para a pesca e faz o chamado com a potência do seu amor.
O chamado é a voz de Deus que atinge não só os ouvidos externos, físicos, mas os da alma, e só ela sabe acolher e entender. É um chamamento misterioso, uma voz que seduz os ouvidos espirituais que se deleitam com a voz do amado conforme o livro do Cânticos dos cânticos. É um desvelar de uma realidade e a abertura de uma nova realidade.
Pedro todos os dias vislumbrava o mar e os peixes que tinha que pescar para seu sustento. Com o chamamento de Cristo, ele vislumbra outro mar, se abre ante aos olhos de sua alma um novo mar, não mais com peixes, mas de almas. Pedro usava os peixes para seu sustento, e o chamado faz exatamente o contrário, ele ser o provedor das almas, o dispensador das necessidades humanas. O sacerdote é aquele que tem a chave da dispensa onde estão as graças de Deus, ele que abre a porta e distribui as chaves segundo o coração do Pai por Cristo, com Cristo e em Cristo.
A resposta
Responder a esse belíssimo chamado é deixar tudo para trás para ganhar o cêntuplo, é multiplicar os dons. Mas é também uma decisão de vida, uma decisão de fé. É caminhar entre a noite escura das almas e ser aquele que tem na mão a lamparina. É saber-se desbravador das vidas humanas. Por isso não pode ser romanceada, mas fundamentada na dor, solidão, provação, tribulação e muito mais. Precisa ser uma resposta convicta para não colocar a mão no arado e olhar para trás, e é ainda aquele que não pode “nem se despedir de seus pais” conforme o chamado de Jesus (cf Lc 9, 59-62), devido à doação total de sua vida.
A missão
Pelas mãos do sacerdote inicia-se a vida do cristão com o batismo e essa missão percorre toda a vida do fiel até seu último momento, as Exéquias onde, pelas mãos do sacerdote, a alma é oferecida ao Sacerdote por excelência, Cristo Jesus.
Ele não é a tinta, mas a ponta da caneta que inscreve nas almas a vida da graça, a história da vida do fiel com Deus, a vida da verdadeira liberdade.
O sacerdote é outro Cristo, ou melhor, é a face física de Cristo, principalmente quando age “In persona Christi”. Ele é o médico das almas que lhe conferem o remédio necessário. É ele que nos traz Jesus na Eucaristia, é também aquele que ouve desde as confissões das almas mais puras e santas até as das mais pecadoras. Ouve desde pecados veniais muito pequenos até terríveis pecados como adultério, assassinatos, estupros, abortos etc. Só ele é capaz de religar no céu o que foi pelo pecado desligado na terra.
A Igreja é, por excelência, o braço de Cristo em favor da humanidade, os sacerdotes são os dedos dessa mão que nos tocam fisicamente, que limpam nossa lama com o perdão e a distribuição da graça divina.
Vivemos em tempos de pandemia, mas a maior pandemia se instalou nas almas das pessoas. Hoje os consultórios de psicanálise estão cheios, porque estamos doentes da alma. O sacerdote é o médico que cura as almas, pois precisamos mais de confessionários cheios do que consultórios.
São João Maria Vianey, o Cura d’Ars, é o modelo de sacerdote segundo o coração de Deus
Homem simples, sem ser um intelectual, mas que entendia como ninguém de algo extremamente urgente, as enfermidades da alma. Com sabedoria, sabia ministrar a ardência do vinagre que purifica com os conselhos e exortações, como derramar o bálsamo do azeite que refrigera as feridas purificadas pelo vinagre (cf Lc 10, 25ss). Que vigor! E ao mesmo tempo que delicadeza! Que sabedoria quase inalcançável pelos homens! Que olhar profundo capaz de entender sobre almas, de necessidades profundas e verdadeiras, e não superficiais e passageiras.
O sacerdote em nossa vida
Muito mais do que pensamos, é a presença do sacerdote em nossa vida. Quando estamos rezando e fazemos aquela experiência de amor de Deus, ela só foi possível porque, pelas mãos do sacerdote, aconteceu a atualização do sacrifício de Cruz de Cristo. E é ali, no momento da consagração, que acontecem todos os milagres e experiências do povo que está sob o teto da mãe Igreja, e até mesmo dos que não estão, mas estão sob a sombra, como aqueles que estão “separados”.
E além do mais, nossa fé não é uma fé de ligação direta com Deus, mas uma fé de transmissão, conforme as Escrituras e a tradição e que se achega a nós através primeiramente pelas mãos dos sacerdotes e por todos aqueles que saem para semear o que receberam da Igreja pelas mãos sacerdotais.
Novos sacerdotes, novos Cristos
Ter a sensibilidade de ouvir a voz do mestre que continua a passar e chamar é urgente. Entender a beleza do chamado e responder com generosidade também o é. Ser um sacerdote segundo o coração de Deus é mais ainda, pois estamos vivendo em tempos difíceis e a voz do mistério sacerdotal tem uma força inigualável no combate ao mal que assola a humanidade e à sua falta de fé.
Elias Antonio Breda Gobbi
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator