O final do ano está aí, e toda conclusão de um ciclo e início de outro favorece a reflexão sobre nossa história, de como ela foi vivida e o que desejamos de mudança. Reflexão muito válida e até necessária, porém há marcas em nossa história que carregamos ano após ano, que por mais propósitos de mudança que façamos, nada parece mudar, nos cansando até nos fazer desistir. Desistir de tentar curar as dores da nossa história é o que o inimigo mais deseja, pois àquelas marcas se somam outras e elas acabam sendo terreno fecundo para novas feridas que são plantadas ao longo do tempo, até nosso terreno estar cheio de ervas daninhas! E, ao vermos o trabalho que dará pra tirar tudo aquilo, acabamos por desistir e nos acostumamos a levar a vida com uma história ferida que, além do mal que nos faz, faz também um “falso bem”, que é se tornar muleta para nos justificarmos sempre que somos tocados ali.
O famoso “tá ruim, mas tá bom” vai se instalando em nossa vida e vamos levando em banho maria, esperando que um raio caia do céu e mude tudo sem precisarmos fazer nada. Esperamos que, como num conto de fadas, a varinha mágica nos salve! Porém, não existe varinha mágica, e nós temos que trabalhar duro para ganharmos o Céu. Lógico que todo nosso trabalho só é válido pelo mover da graça de Deus! Por nós mesmos não somos capazes.
Só Deus tem o “manual de instruções” de nossa vida. É a Ele a quem devemos recorrer. Quando nosso celular está lento, travando e funcionando muito precariamente, temos que restaurá-lo no “padrão de fábrica”, fazer os backups dos arquivos importantes e deixar que outros sejam apagados, reiniciar e recomeçar. Conosco é semelhante, não podemos “apagar arquivos definitivamente”, mas podemos reler os arquivos maus de uma nova forma: de forma a torná-los “aprendizado”. Porém essa releitura, essa restauração de nossa história só pode ser feita de maneira profunda pelo nosso “fabricante”, por Deus, nosso Criador! Quem pode restaurar verdadeira e profundamente nossa história é Deus. De nossa parte, temos que nos colocar em Suas mãos e deixar que Ele faça o que precisar ser feito, com confiança.
Exposição necessária
Importante considerar que nós não somos nossas feridas, nós temos nossas feridas. À medida que elas forem sendo expostas para Deus, podem ser por Ele curadas e nossa história, nossa vida, vão sendo restauradas de uma maneira muito bela; porém, precisamos nos expor. Para curar uma grave enfermidade do corpo precisamos confiar no médico, tomar a anestesia necessária e entregar nosso corpo à cirurgia, assumindo o pós-operatório com a coragem de quem quer sarar. Para curar uma enfermidade da alma, precisamos deixar também que o Médico dos Médicos trabalhe e, mesmo que Ele saiba bem melhor do que nós mesmos onde estão nossas feridas, precisamos expô-las para que nós saibamos o que está sendo curado e possamos nos encher de gratidão pela cura. Deixemo-nos operar por Deus; a anestesia é Seu amor incondicional, que alivia nossas dores e nos encoraja a viver o pós-operatório.
Já nos disse São Paulo em sua carta aos Romanos, cap.8 vs.28: “Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus“. Você ama a Deus? Se a resposta for “sim”, a afirmação de São Paulo é para você, para sua vida, para sua história. Não importa o que seja, Deus pode restaurar, curar, mudar, converter, e Ele sabe bem como fazer e quando fazer. Temos porém a nossa parte que é composta de duas atitudes fundamentais: uma é querer (o que nos faz buscar, por reconhecer que precisamos de verdade) e outra é deixar (entregar as feridas com verdadeiro abandono e confiança).
Chega de carregar “arquivos inúteis e daninhos” à nossa salvação ano após ano. Deixemos que Deus restaure nossa história e sejamos testemunhas da potência de Seu amor ciumento em nossas vidas!
Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator