Sem a vigilância, a santidade não passa um mero ideal – distante, frio e desencarnado. E isso é um grande perigo! Para que sejamos santos, para que alcancemos o céu, é necessário ir além da boa intenção e da simples vontade que nunca se concretiza. E a vigilância é o caminho para que nosso desejo de santidade se torne autêntico e real, pois é através dela que nos protegemos do bombardeio de infidelidades que o mundo atira em cada um de nós todos os dias.
Constantemente, nas Escrituras, Jesus nos exorta a vigiar. Vigiar, todavia, é muito mais do que voltar os olhos ou estar atento para o dia da volta do Senhor ou o dia da sua morte. É estar preparado para este dia. Assim, a vigilância não se resume em apenas lutar contra uma vida de pecado, mas ser prudente com sua vida de santidade, evitando todas as ocasiões que possam levar ao pecado em primeiro lugar.
Prudência e vigilância
Ainda que você queira e que você coloque todos os seus esforços para manter uma vida santa, o mundo ao redor jamais para. A cada dia, as pessoas mergulham e se acostumam ainda mais com as infidelidades, com vidas desregradas de vícios, pecados, ideologias e mentiras. Para os cristãos autênticos, permanecer inteiro diante de um cenário tão caótico é uma missão exigente.
E não importa seu tempo de caminhada, não importa o amor que você possua por Deus, você nunca estará totalmente imune. Todos estamos vulneráveis a influências, ainda que em coisas pequenas, ainda que em pequenos detalhes… Toda brecha, que seja minúscula, abre espaço para um buraco maior crescer. É aqui que se encontra a importância da vigilância e da virtude da prudência.
Como as dez virgens
Jesus, no Evangelho de Mateus, nos diz isso com as mais claras palavras: “Então, o Reino dos Céus será semelhante a dez virgens, que saíram com suas lâmpadas ao encontro do esposo. Cinco dentre elas eram tolas e cinco, prudentes. Tomando suas lâmpadas, as tolas não levaram óleo consigo. As prudentes, todavia, levaram de reserva vasos de óleo junto com as lâmpadas. Tardando o esposo, cochilaram todas e adormeceram. No meio da noite, porém, ouviu-se um clamor: Eis o esposo, ide-lhe ao encontro. E as virgens levantaram-se todas e prepararam suas lâmpadas. As tolas disseram às prudentes: Dai-nos de vosso óleo, porque nossas lâmpadas se estão apagando. As prudentes responderam: Não temos o suficiente para nós e para vós; é preferível irdes aos vendedores, a fim de o comprar para vós. Ora, enquanto foram comprar, veio o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para a sala das bodas e foi fechada a porta. Mais tarde, chegaram também as outras e diziam: Senhor, senhor, abre-nos! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo: não vos conheço! Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora.” (Mt 25, 1-13).
Com esta parábola, Jesus nos mostra que ser prudente é não querer nem sequer correr o risco de deixar a lâmpada apagar. O Papa Francisco, em uma de suas homilias, nos ajuda a entender o que isso de fato significa. Ele nos diz que neste texto, a lâmpada simboliza a fé, e o óleo o amor. Deste modo, são os atos de amor, a doação de vida, os despojar-se de si que alimentam a fé e a mantém viva constantemente.
Sem essa postura de um verdadeiro cristão que se preocupa verdadeiramente com o Céu, a chama se apaga. A virtude da prudência, deste modo, vai além de não se expor, se proteger e não deixar que as coisas não estejam como deveriam por nenhum momento. É cuidar da fé, impulsioná-la com o amor e assim nos aproximar da autêntica santidade. São Tomás de Aquino, na Suma Teológica, também afirma: A prudência, verdadeira e perfeita ao mesmo tempo, é aquela que delibera, julga e comanda retamente em vista do fim bom da vida toda.
Vigiai, pois não se sabe o dia e nem a hora
Ninguém sabe o dia em que o Senhor te chamará para junto dele. Se for hoje, você está preparado? Precisamos agir como se todos os dias fossem o último dia se quisermos uma vida encarnada em Cristo. A vigilância não é apenas um convite de Jesus, é um conselho, pois ela é necessária.
Um coração vigilante, todavia, é um coração que toma posse do sonho que existe no mais profundo do seu coração, ou seja, o Céu. É ser prudente sim, estar preparado para o que vier sim, mas acima de tudo é esperar ansiosamente pelo Céu. “Minha alma espera pelo Senhor, mais ansiosa do que os vigias pela manhã.” (Sl 129, 6). O vigia anseia pela manhã. Ele mal pode esperar pela aurora para que possa finalmente descansar. Deste modo, a vigilância vai além de uma postura. Ela é um estado de espírito, um espírito que não vê a hora de ver a Luz.
Se o teu coração ainda não arde pelo Céu, é porque você ainda não encontrou aquilo que está marcado mais profundamente na tua alma. Porém, não tenha medo de mergulhar mais fundo e descobrir a sua verdade, que é a saudade que você tem de Deus. Sem um coração vigilante, que espera pelo Senhor mais do o vigia pela aurora, não há mais santidade, e sim uma vida medíocre de cumprimento de regras, sem sentido e sem amor.
Giovana Cardoso
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator