Quando não ouço a voz de Deus. O que fazer?

Você não está ouvindo a voz de Deus? Não se desespere! Isso faz parte da nossa caminhada. E lhe digo mais: isso é necessário!

Uma caminhada sem períodos de aridez pode ser sinal de um relacionamento superficial com Deus. Vemos inúmeros relatos de santos que, em determinado momento de suas vidas, passaram por uma aridez espiritual, e foi extraordinariamente nesses momentos que puderam extrair ensinamentos riquíssimos para nós.

Existem vários aspectos que definem uma possível aridez espiritual, os quais parecem estar ligados a uma causa. Portanto, vou aqui descrever resumidamente essas causas e os aspectos que surgem em cada uma delas. Atenção: isso não é uma regra. A intenção é levar você a uma reflexão e permitir que Deus mostre o que exatamente ele deseja para a sua vida.

Aridez por falta de conversão

Ela acontece antes da pessoa ter uma experiência profunda com o amor de Deus. Nesse período, ainda existem dúvidas em relação à existência de Deus, da salvação de Jesus, dos ensinamentos da Igreja. Quando acontece alguma tragédia, mesmo com pessoas desconhecidas, já é motivo para colocar em cheque a bondade de Deus. Enfim, considero isso uma aridez espiritual, pois a pessoa nessa condição não consegue tocar a Deus, não conhece a graça do Espírito Santo, sente indiferença ou desinteresse pelas coisas de Deus, não enxerga sentido nas coisas da Igreja e prioriza acima de tudo os interesses próprios. Em resumo, a pessoa serve a si mesma e somente lembrará que “talvez exista um Deus” se porventura passar por alguma tribulação.

Aridez pela purificação

 Essa aridez ocorre depois de certo tempo de caminhada na Igreja, podendo variar de pessoa para pessoa. O primeiro amor é maravilhoso, impactante, gera uma paixão por Jesus e pela Igreja. Pensamos em vender todos os bens e viver como Santa Teresa de Calcutá, rezar todos os dias, e tudo isso é muito importante e necessário para que sua caminhada na santidade seja frutuosa.

Entretanto, quando você estiver maduro na fé o suficiente, Deus irá impulsioná-lo para dar seus primeiros passos, como um pai ensina o filho a andar. É o momento da purificação e ela pode acontecer de diversas formas para que você ame o Senhor acima de todas as coisas e O tenha como fonte das suas motivações, dos seus afetos, do vigor e da decisão por trilhar o caminho da santidade.

Existe uma grande chance de surgir tentações para o fechamento em si mesmo nos períodos de aridez. No entanto, o que devemos fazer é justamente o contrário. Precisamos sair de nós e irmos em direção aos irmãos e aqueles que ainda não conhecem a Deus.

Nesse tempo, é necessário exercitar a razão e se decidir firmemente por Cristo. Coloco aqui algumas sugestões para esse tempo: aprofundar-se na leitura das Sagradas Escrituras, matricular-se em um curso sobre a doutrina da Igreja, aprofundar-se em estudos a respeito de Deus e da nossa salvação, ler bons livros, doar-se mais intensamente pela Igreja e ajudar aos pobres.

Revolta, quando não aceito a aridez

A revolta é gerada por uma atitude de imposição da própria vontade, querendo ditar as regras para Deus, como se Ele tivesse que seguir o caminho que você estipulou. Essa escolha nos faz voltar no primeiro tópico abordado neste texto: a falta de conversão. É importante ressaltar que isso não é culpa de Deus, mas da cultura que se tem pregado nessas gerações atuais, como se existisse um modo de viver a vida aqui na terra sem sofrimento e sem renúncias, obtendo resultados espetaculares, seja na área financeira, familiar, profissional e até mesmo na saúde. Trata-se de uma cultura virtual, de querer viver como se fosse num filme.

Acídia, o coitadismo durante a aridez 

A intenção não é definir em detalhes a acídia. Aconselho procurar mais sobre esse assunto, principalmente se você se identificar. Pode-se entender acídia como “preguiça de ser santo”, ao ver que o caminho é longo e árduo. A pessoa se sente incapaz, fraca. Seus ideais começam a ser rebaixados. Uma melancolia toma conta da pessoa. Quando fala com os outros, se sente inferior, frágil. Enfim, não quer pagar o preço do seguimento do Mestre e se esconde atrás da incapacidade, não pede forças ao Espírito Santo e depois se justifica através da fraqueza, ou seja, tem um benefício em ser um coitado.

Amadurecimento, quando vivo bem a aridez

Amadurece aquele que, ao sentir os sintomas de uma aridez espiritual, confia que Deus dará a graça necessária para passar por isso, segura firme na doutrina de Cristo, permanece fiel e luta, não para ser consolado, mas para ser amigo de Cristo, por ter Ele como o tesouro mais precioso.

Nas raizes daquele que é revoltado ou acidioso, pode-se observar a mesma coisa: uma falta de vontade de dar a vida. Mas Ele não se poupou por você, Cristo foi até o fim, não mediu esforços para que você pudesse ter a Vida Eterna. É necessário crer firmemente nas palavras de Jesus “se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mateus 16, 24). Essa palavra é tão clara, tão direta, e insistimos em procurar soluções para os nossos sofrimentos. Deveríamos fazer como Paulo: quando a aridez ou um sofrimento bater em nossa porta, dizer: “bendito seja o Senhor, completo na minha carne os sofrimentos do Mestre”.

Felizes seremos nós se o Senhor nos encontrar agindo dessa forma quando voltar. Haverá vida eterna, não haverá dor, o silêncio será rompido, conheceremos a verdade de forma plena, participaremos do banquete com a trindade, viveremos na glória de Deus. Vale a pena cada renúncia, cada sofrimento, cada dor, cada esforço que fazemos para sermos mais amigos de Jesus.

Lucas Sturion
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator