“No meu caminhozinho tudo é simples e ordinário, para que as almas pequeninas possam praticar tudo quanto eu pratico.” Santa Teresinha HA-MC
Simples e comum. Essas características da pequena via, o “caminhozinho” que Santa Teresinha, doutora da Igreja, convida-nos a percorrer, pode nos remeter a uma ilusória facilidade, pois o simples e comum do amor se difere muito das facilidades do mundo. O convite à santidade pela pequena via é desafiador, porém, possível a quem o assume com seriedade e perseverança.
“Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram.” Mt 7,13
Que não nos intimide essa porta estreita. Deus é simples. Deus é amor.
Descobriu Santa Teresinha que esse amor é o caminho mais curto para Ele: Ele mesmo! Entendo, então, que: devo reconhecê-lO como Pai e atraí-lO com minha pequenez de filha, minhas fraquezas próprias de criança e deixar que Ele me ame mais naquilo que sou menor, assim, enchendo-me de tão terno amor, me dá o amor com o qual devo amá-lO. Amando-O eu, então de volta, com esse amor que me foi dado, sou por Ele elevada a Ele, alcançando a união que para mim era impossível. Há nesse itinerário um alcance tão profundo e que implica uma tal transformação de alma que só pode acontecer por obra da misericórdia de Deus!
“Jesus olhou para eles e disse: Aos homens isto é impossível, mas a Deus tudo é possível.” Mt 19,26
A salvação e a santidade não são frutos dos esforços humanos: “aos homens isto é impossível.” (O amor foi por nós crucificado!) Como então darmos passos nesse caminho, se não pela vida de oração íntima com Deus? Como chegar à santidade se vivemos distraidamente e não nos atentamos à Sua voz que nos chama ao convívio íntimo, diário, intenso? É justamente essa intimidade que nos abrirá os olhos para todas as oportunidades que Ele nos dá de amá-lO e também para perceber a imensidão de Seu amor por nós a todo instante, em todas as coisas, desde o detalhe mais insignificante no nosso dia até a mais longínqua estrela do universo. Sem uma vida de oração frutuosa, não perceberemos que tudo o que nos acontece é providência de Deus para o nosso bem e facilmente trocaremos o louvor devido pela reclamação que provoca a nossa falta de fé.
Sim, pois como somos marcados pelo pecado, o amor simples se tornou árduo, o amor evidente se tornou obscuro. Entretanto, todo bem em nós vem da parte do Senhor, todo verdadeiro bem vem de Deus e é Ele mesmo. Não temos méritos próprios. À medida que reconhecemos que somos filhos, e filhos pequenos, percebemos também nossa dependência, pois os filhos são pobres e nada possuem que não tenham recebido dos pais. Sendo assim, toda “autonomia espiritual” é uma ilusão:
“Portanto, quem pensa estar de pé, veja que não caia.” ICor 10,12
Nessa lógica de Santa Teresinha, qual seria o impulso do coração pequeno que deseja Deus, se não a plena confiança de que Ele me dará tudo o que eu preciso para me unir a Ele? De que Sua imensa misericórdia providenciará todas as coisas em minha vida?
“Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará coisas boas aos que lhe pedirem.” Mt 7,11
Santa Teresinha ensina que devo me atirar aos braços da misericórdia de Deus
Devo sim, desconfiar de minhas vontades, pois são imperfeitas e enganosas, mas a Vontade de Deus é perfeita! É nela que devo confiar e me abandonar inteiramente, sem medo algum. Como a um filho pequeno, numa brincadeira, joga-se nos braços do pai na plena confiança de que ele não o deixará cair. Santa Teresinha ensina que devo me atirar nos braços da misericórdia de Deus, pois ela jamais se esquivará me deixando cair. Devo me abandonar à Sua Vontade e aceitar com amor e gratidão todos os seus movimentos em minha vida, sejam eles de dor ou de alegria. Pois são esses movimentos que me levarão ao meu objetivo final: a eternidade com Deus!
Concluindo: cada coisa que nos acontece em nosso dia é oportunidade de vivermos esse amor simples, confiante e abandonado ao Pai, sem esconder nossas fragilidades e escorregões, sem fugirmos quando “ralamos o joelho no chão”, porque Ele nos quer amar, curar, aninhar em Seus braços. Deus não nos acolhe como somos para nos deixar como estamos, e sim, para nos encher com Seu amor devorador de tal forma que nos eleve para a Sua presença na eternidade. É essa a glória de Deus e a realização plena da vida humana! Se sofremos, se sorrimos, é para Deus que fazemos. Se tudo o que vivermos entregarmos ao Seu amor, todo sofrimento terá seu valor e todo sorriso seu esplendor de salvação. O extraordinário é viver o ordinário com o amor de Deus. Assim, tudo o que é detalhe pequeno se agiganta; todas as ocasiões contribuem para que passemos pela “porta estreita”, para nos esvaziarmos de nós mesmos, porque nossas coisas pesam, sobrecarregam, incham e precisamos nos deixar encher do amor de Deus que é leve e livre.
Peçamos então insistentemente esse amor. Invistamos na vida de oração íntima e deixemo-nos esvaziar para recebermos todo o amor que Ele quer nos dar.
Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator
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